A manhã desta terça-feira (18) marcou um dos episódios mais tensos do sistema financeiro brasileiro nos últimos anos. A Polícia Federal prendeu o executivo Daniel Bueno Vorcaro, controlador do Banco Master, durante uma operação que investiga um amplo esquema de fraudes, gestão temerária e organização criminosa. A ação faz parte da Operação Compliance Zero, deflagrada após meses de apurações sigilosas.
O empresário foi detido no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, pouco antes de embarcar em um jatinho particular com destino a Dubai. Investigações apontam que a PF já monitorava seus movimentos e aguardava o momento ideal para cumprir o mandado de prisão expedido pela Justiça Federal de Brasília. A defesa do banqueiro afirmou que a viagem tinha motivação exclusivamente comercial.
Vorcaro foi conduzido para a superintendência da Polícia Federal em São Paulo, onde deve permanecer à disposição das autoridades. Outros seis alvos também tiveram mandados expedidos, numa ofensiva que desmonta o núcleo de comando de um banco que, até poucos dias atrás, operava normalmente no mercado.
Liquidação do Banco Master acende alerta no mercado
A prisão ocorre em um momento extremamente delicado para o setor financeiro. Menos de 24 horas antes, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Gabriel Galípolo, determinou a liquidação extrajudicial do Banco Master, uma medida rara e de grande impacto no sistema bancário nacional.
O comunicado do BCB tornou indisponíveis os bens dos controladores e de ex-administradores, além de determinar a intervenção imediata nas atividades da instituição. A decisão veio logo após o Grupo Fictor anunciar interesse em adquirir o banco, uma operação que sequer teve tempo de avançar.
A liquidação reforça um movimento iniciado um mês antes, quando o Banco Central vetou uma oferta de compra de parte do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). Para o órgão regulador, as inconsistências encontradas nos balanços e na estrutura de crédito da instituição já levantavam dúvidas sobre sua real situação patrimonial.
Fraudes em carteiras de crédito: o cerne da investigação
A PF apura delitos como gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa. Segundo investigadores, o Banco Master teria fabricado carteiras de crédito fraudulentas, emitindo e vendendo papéis que não representavam valores reais.
Na prática, isso significa que o banco teria inflado artificialmente seus ativos, criando operações fictícias para atrair investidores, captar recursos e mascarar desequilíbrios financeiros. Esse tipo de fraude é considerado gravíssimo, pois compromete diretamente o sistema financeiro e afeta a confiança de clientes e instituições parceiras.
Uma parte significativa das apurações está concentrada na reconstrução das trilhas financeiras e na análise de documentos apreendidos, que deverão detalhar:
- Como funcionava o esquema interno de aprovação de créditos;
- Quem participava do processo de fabricação dos papéis falsos;
- Quais empresas ou indivíduos foram usados como intermediários;
- Qual foi o impacto real no balanço do banco.
Mandados de busca atingem BRB e presidente da instituição
A Operação Compliance Zero também cumpre 25 mandados de busca e apreensão distribuídos pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal. Entre os alvos estão:
- A sede do Banco de Brasília (BRB), em Brasília;
- A residência de Paulo Henrique Bezerra Rodrigues Costa, presidente do BRB.
A Justiça Federal determinou ainda o afastamento imediato de Paulo Henrique do cargo. Ele estava nos Estados Unidos no momento da operação, mas já foi notificado oficialmente. A presença do BRB no inquérito se deve ao interesse recente da instituição em adquirir parte do Banco Master, uma negociação vetada pelo Banco Central e considerada suspeita pelos investigadores.
Para a PF, havia indícios de que informações internas poderiam ter sido manipuladas ou ocultadas durante as tratativas de compra.
Quem é Daniel Bueno Vorcaro
Nascido em 6 de outubro de 1983, em Belo Horizonte (MG), Daniel Vorcaro pertence a uma geração de executivos que ampliou sua atuação para áreas financeiras, tecnológicas e corporativas.
Formado em Economia e com MBA em Finanças pelo IBMEC, construiu sua trajetória em diversos setores antes de entrar de vez no sistema bancário. Entre investimentos e participação em negócios variados, consolidou-se como um dos nomes de destaque no mercado financeiro mineiro.
Em 2018, assumiu o então Banco Máxima, redesenhando a instituição e modificando sua identidade para Banco Master. A partir daí, buscou expandir suas operações, aproximando o banco do mercado de crédito consignado, varejo e estruturas de investimento.
Seu estilo de gestão agressivo ajudou a projetar o banco nacionalmente, mas também levantou questionamentos sobre práticas contábeis e velocidade de crescimento, pontos que agora estão no centro das investigações.
Próximos passos da investigação
Com o avanço da Operação Compliance Zero, a PF deve aprofundar:
- A cadeia de comando responsável pela fabricação dos papéis fraudulentos;
- A participação de executivos e consultores externos;
- O possível envolvimento de outras instituições financeiras;
- A extensão dos danos ao mercado e a investidores.
A Justiça Federal deve decidir, nos próximos dias, se mantém a prisão de Vorcaro ou se autoriza medidas alternativas, como monitoramento eletrônico ou restrição de movimentações financeiras. A defesa do empresário promete colaborar, mas ainda não apresentou pedidos formais à Justiça.
O Banco Central, por sua vez, deve seguir administrando a liquidação do Banco Master, garantindo o atendimento aos clientes e evitando efeitos sistêmicos no mercado.
A crise que envolve Daniel Vorcaro ainda está longe de terminar. A expectativa é de que novos desdobramentos ocorram nos próximos dias, sobretudo após a análise do vasto material apreendido.
Por Alemax Melo I Revisão:Daniela Gentil
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