A indústria brasileira de madeira processada está entre os primeiros setores a sentir os efeitos práticos do tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos, que entra em vigor nesta sexta-feira, 1º de agosto. Diante da nova taxa de 50% sobre as exportações brasileiras, empresas como Sudati, BrasPine e Millpar anunciaram cortes, férias coletivas e paralisações.
Na última semana, a Sudati confirmou o desligamento de 100 trabalhadores de suas fábricas em Ventania e Telêmaco Borba, no Paraná, regiões que produzem compensados de madeira destinados majoritariamente ao mercado norte-americano. As demissões ocorrerão ao longo de 60 dias. A companhia ainda mantém operações em outras cidades paranaenses e em Santa Catarina.
Segundo a empresa, a medida visa garantir o equilíbrio financeiro diante da retração na demanda externa, especialmente dos Estados Unidos, principal destino das exportações da empresa. “É um plano de adequação às incertezas relacionadas ao aumento tarifário, necessário para preservar a operação”, declarou a Sudati em nota.
A reação em cadeia se estende por outras indústrias do setor. A BrasPine, que também atua com madeira processada, concedeu férias coletivas para 1,5 mil dos 2,5 mil funcionários em Telêmaco Borba e Jaguariaíva. Já a Millpar adotou a mesma estratégia para 720 trabalhadores em Guarapuava e Quedas do Iguaçu.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), 90% da produção nacional está concentrada nos estados do Sul, e metade da exportação tem os EUA como destino. Com o novo cenário, contratos vêm sendo cancelados, embarques suspensos e parte da produção paralisada.
A entidade estima que 2.500 contêineres estão em trânsito ou aguardando despacho para os EUA, agravando o risco de prejuízo.
“Nosso maior desafio agora é manter os empregos e a continuidade das atividades industriais”, alerta a Abimci. O setor emprega cerca de 180 mil pessoas diretamente em todo o país.
O tarifaço foi anunciado pelo presidente Donald Trump, que justificou a medida com base em supostas práticas comerciais desleais por parte do Brasil. O governo norte-americano abriu investigação formal para apurar as alegações.
Até o momento, não houve avanço nas negociações diplomáticas entre os dois países.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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