O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a elevar o tom contra o governo federal ao publicar, no domingo (16), um vídeo nas redes sociais no qual afirma que “troca o CEO que o Brasil volta a funcionar”. A frase, acompanhada da sugestão de “demitir o CEO do país”, foi interpretada de forma unânime como uma referência indireta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que o governador não o cite nominalmente.
O vídeo foi gravado durante um evento promovido pelo grupo G4 Educação, que reuniu empresários, executivos e gestores públicos. No palco, Tarcísio apresentou uma série de críticas ao modelo econômico brasileiro, argumentando que o país precisa abandonar a dependência excessiva das commodities e adotar estratégias robustas de inovação, tecnologia e reindustrialização.
Uma crítica com endereço certo
A publicação repercutiu rapidamente entre aliados e opositores. A analogia com o cargo de CEO, o mais alto posto na hierarquia executiva de uma empresa, foi vista como uma metáfora direta ao presidente da República. “Troca o CEO que o Brasil volta a funcionar”, escreveu o governador em suas redes, reforçando o tom provocativo do discurso.
Embora não tenha mencionado Lula, a mensagem foi interpretada como direcionada ao Palácio do Planalto, reforçando a postura crítica que o governador tem mantido em relação ao governo federal. Nas últimas semanas, Tarcísio tem retomado discursos em defesa de maior autonomia da iniciativa privada e de reformas estruturais, especialmente em temas fiscais e produtivos.
O discurso no evento: inovação, IA e mudança de rota econômica
No vídeo divulgado, Tarcísio afirma que o Brasil precisa deixar de ser “simplesmente exportador de mais uma commodity”. Para ele, o país corre o risco de estagnar caso não invista fortemente em capacitação profissional, especialmente em áreas relacionadas à Inteligência Artificial (IA).
Segundo o governador, a IA tem potencial para “resolver os principais problemas que atingem o país”, desde a modernização do setor produtivo até a melhoria dos serviços públicos. Ele defendeu que o país invista em qualificação técnica, atração de empresas de tecnologia e criação de condições para desenvolver soluções próprias, e não apenas consumir tecnologias estrangeiras.
O discurso, apesar de focado em economia e inovação, foi intercalado com críticas ao que Tarcísio chamou de “falta de direção” do governo federal. A sugestão de “demitir o CEO do país” surgiu nesse contexto, como forma de reforçar que, em sua visão, o Brasil precisaria de uma liderança diferente para avançar.
Rumores sobre 2026 voltam a ganhar força
Apesar de reiterar publicamente que buscará apenas a reeleição ao governo de São Paulo em 2026, as declarações reacenderam especulações sobre uma possível candidatura de Tarcísio ao Palácio do Planalto.
Aliados próximos afirmam que, caso a direita consiga consolidar uma frente ampla nacional, o governador poderia reavaliar sua posição. Seu nome é frequentemente citado como uma das principais apostas do campo conservador para disputar a presidência, especialmente após a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Tarcísio, no entanto, mantém o discurso oficial: “Sou candidato à reeleição em São Paulo”, e tem repetido em entrevistas recentes. A nova declaração nas redes, contudo, foi vista como um gesto político calculado, capaz de manter sua imagem em evidência nacional.
Estratégia digital e comunicação direta
A forma como o vídeo foi divulgado reforça o estilo de comunicação que Tarcísio vem adotando desde que assumiu o governo paulista. Publicações em linguagem empresarial, com metáforas baseadas no mundo corporativo, têm feito parte de sua estratégia para dialogar tanto com o setor privado quanto com eleitores que se identificam com discursos de eficiência de gestão.
A referência ao presidente como “CEO” faz parte desse repertório, aproximando a política de uma lógica empresarial estratégia também utilizada em momentos anteriores por figuras como João Doria e Jair Bolsonaro, cada um à sua maneira.
Reações no cenário político
Dentro do governo federal, a declaração foi recebida como mais um ataque político sem fundamento técnico. Aliados de Lula classificaram a fala como tentativa de autopromoção e afirmaram que Tarcísio procura se posicionar como alternativa presidencial sem assumir isso publicamente.
Por outro lado, apoiadores do governador celebraram a fala nas redes, classificando-a como um “alerta” sobre a condução econômica do país e um chamado para um novo ciclo de crescimento.
Especialistas em análise política avaliam que Tarcísio busca construir uma ponte entre críticas ao governo federal e propostas de modernização econômica, estratégia que pode fortalecer sua imagem nacional. No entanto, destacam que o governador enfrenta um dilema: manter-se como gestor estadual moderado ou assumir publicamente ambições maiores para 2026.
Um discurso que amplia a tensão nacional
As declarações do governador paulista ocorrem em um momento de polarização intensa no país. Gestos como o de Tarcísio tendem a intensificar o embate entre governo federal e lideranças regionais, especialmente entre aquelas associadas ao campo da direita.
Analistas apontam que a fala pode ser um ponto de inflexão na relação entre Lula e Tarcísio, que até então mantinham diálogo institucional razoável, apesar das diferenças políticas. O comentário sobre “demitir o CEO do país” elevou o tom e colocou o governador no centro do debate nacional.
Projeções para os próximos meses
Com a aproximação de 2026 e o fortalecimento de discussões internas nos partidos, declarações como a de Tarcísio devem se tornar mais frequentes. A pressão por uma liderança nacional consolidada no campo conservador coloca o governador constantemente no radar mesmo que ele continue, publicamente, negando interesse no Planalto.
Enquanto isso, sua presença em eventos empresariais, sua defesa de reformas estruturais e seu discurso técnico voltado para inovação reforçam sua imagem de gestor eficiente, atributo valorizado por setores do eleitorado.
A fala do domingo, embora simbólica, mostra que Tarcísio pretende continuar participando do debate político nacional seja como articulador, seja como potencial candidato futuro.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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