O governo dos Estados Unidos anunciou, nesta quinta-feira (20), uma mudança significativa na política tarifária aplicada a produtos importados do Brasil. O presidente Donald Trump assinou uma nova ordem executiva que reduz o alcance da sobretaxa de 40% instituída no fim de julho, aliviando pressões sobre setores estratégicos do agronegócio brasileiro entre eles, o de café e o de carne bovina.

A decisão marca mais um capítulo do processo de negociação iniciado entre Washington e Brasília no último trimestre, após semanas de tensão comercial. Segundo o documento oficial, diversos itens passam a ser isentos da tarifa adicional de 40% de forma retroativa a 13 de novembro de 2025. Isso significa que importadores que já haviam recolhido o imposto terão direito a reembolso pelas autoridades americanas.

A revisão anunciada por Trump chega poucos dias depois da retirada da tarifa recíproca de 10% para uma série de produtos brasileiros, anunciada na semana passada. Na prática, com a combinação das duas medidas, determinados itens que até então eram taxados em até 50% (somando a tarifa recíproca e a sobretaxa de 40%) deixam de sofrer o tarifaço.

Negociação direta entre Trump e Lula desencadeou revisão tarifária

De acordo com o presidente americano, a mudança tem relação direta com “progresso inicial” nas conversas estabelecidas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 6 de outubro, ambos tiveram uma ligação telefônica na qual concordaram em dar início a negociações sobre as medidas comerciais adotadas pelos EUA.

Na ordem executiva divulgada nesta quinta-feira, Trump cita explicitamente essa conversa:

“Em 6 de outubro de 2025, participei de uma conversa telefônica com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, durante a qual concordamos em iniciar negociações para abordar as preocupações identificadas no Decreto Executivo 14323. Essas negociações estão em andamento.  Certas importações agrícolas do Brasil não deveriam mais estar sujeitas à alíquota adicional ad valorem porque houve progresso inicial nas negociações com o Governo do Brasil.”

O republicano também destaca que recebeu orientações de diversas autoridades americanas responsáveis por acompanhar os efeitos do Decreto Executivo 14323  o mesmo que, em julho, classificou as políticas do governo brasileiro como uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança e à economia dos EUA. Foi a partir desse decreto que a tarifa adicional de 40% foi imposta.

Agora, parte substancial dessa lista começa a ser desmontada.

Secretário de Estado continuará monitoramento

O secretário de Estado, Marco Rubio, seguirá encarregado de acompanhar o andamento da situação e poderá recomendar alterações futuras ao presidente. A implementação prática das mudanças tarifárias envolverá ainda diferentes órgãos da administração americana, como os departamentos do Tesouro, Comércio, Segurança Interna e a Representação Comercial dos EUA.

A depender do ritmo das negociações com o Brasil, novos ajustes não estão descartados.

Café e carne bovina lideram lista de produtos com tarifa reduzida

Entre os produtos mais afetados pela revisão estão itens simbólicos da pauta exportadora brasileira.

Carne bovina

Diversas categorias de carne bovina foram excluídas da alíquota de 40%, incluindo:

• carcaças frescas, refrigeradas ou congeladas;
  
• cortes com e sem osso;
  
• miúdos comestíveis, como língua e fígado;
  
• carnes salgadas, curadas ou defumadas.

A decisão deve beneficiar diretamente frigoríficos brasileiros que dependem do mercado americano, atualmente o segundo maior importador de carne bovina do Brasil.

Frutas, raízes e vegetais

A lista inclui um conjunto amplo de itens, entre eles:

• tomate fresco, mandioca, inhame
  
• banana-da-terra, abacate, abacaxi
  
• laranja, manga, goiaba e kiwi.

A liberação impacta positivamente exportadores de frutas tropicais, um nicho em expansão no mercado norte-americano.

Castanhas e produtos típicos

Produtos tradicionais das exportações brasileiras, como castanha-do-pará e castanha de caju, também foram retirados da sobretaxa.

Café, chás, erva-mate e especiarias

O corte tarifário também alcança:

• café verde e torrado
  
• chás diversos
  
• erva-mate
  
• especiarias como pimenta, gengibre, cravo, baunilha e açafrão.

O café  símbolo do agronegócio brasileiro e item de grande demanda nos EUA foi mencionado por autoridades americanas como um produto cuja sobretaxa teria efeito negativo sobre consumidores locais.

Setores não agrícolas também foram contemplados

Apesar de o grosso da revisão se concentrar no agronegócio, a medida inclui diversos setores industriais e energéticos.

Minerais e combustíveis

Passam a ser isentos do imposto adicional:

• minério de ferro e estanho;
  
• carvão;
  
• óleos de petróleo brutos;
  
• gasolina, nafta, combustíveis de aviação;
  
• gás natural liquefeito (GNL).

Fertilizantes

Outra parte significativa da lista envolve fertilizantes essenciais à agricultura mundial:

• ureia;
  
• nitratos;
  
• fosfatos;
  
• potássio.

Indústria aeronáutica e tecnologia

A ordem também contempla itens voltados à aviação, como:

• pneus e turbinas;
  
• partes de motores;
  
• componentes metálicos.

Além disso, deixam de ser sobretaxados produtos de tecnologia:

• equipamentos de transmissão de dados;
  
• aparelhos celulares;
  
• máquinas automáticas de processamento de dados;
  
• baterias, tubos metálicos, sistemas de alarme.

Efeitos e perspectivas para as relações comerciais Brasil EUA

Economistas avaliam que a decisão representa uma trégua importante na relação bilateral, que vinha apresentando sinais de deterioração desde o anúncio do tarifaço em julho. Ao aliviar pressões sobre exportadores brasileiros e reduzir potenciais aumentos de preços para consumidores americanos, o governo Trump sinaliza predisposição para avançar nas negociações.

Para o Brasil, a retirada de itens-chave da lista de sobretaxas diminui riscos de perda de competitividade internacional, especialmente em cadeias agrícolas sensíveis.

Nos bastidores, interlocutores em Brasília acreditam que as próximas semanas serão decisivas para definir se o tarifaço será completamente revisto ou se as isenções anunciadas fazem parte de uma estratégia gradual de flexibilização.

Por ora, a nova ordem executiva marca uma mudança relevante no tom da política comercial entre os dois países  e abre caminho para futuras tratativas.

Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil

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