O Brasil deve receber ainda nesta semana um lote do antídoto específico para intoxicação por metanol, substância altamente tóxica que tem provocado mortes após a ingestão de bebidas alcoólicas contaminadas, sobretudo no estado de São Paulo. O medicamento, conhecido como “fomepizol”, não será comercializado em farmácias e terá uso restrito exclusivamente hospitalar, segundo informou a farmacêutica responsável pela importação.
O metanol é um tipo de álcool que, quando metabolizado pelo organismo humano, se transforma em substâncias químicas capazes de causar danos graves, incluindo cegueira, falência de órgãos e, em casos extremos, a morte.
Distribuição e uso controlado
O antídoto será fornecido diretamente aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) e hospitais, seguindo protocolos rigorosos de distribuição. A administração do medicamento exige diagnóstico e acompanhamento médico especializado, o que impede a venda para a população em geral.
A medida de importar o fomepizol é considerada crucial para combater a onda de intoxicações que vem afetando o país. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já autorizou o uso emergencial do medicamento em meio ao aumento no número de casos suspeitos e confirmados.
Fabiana Sanches, diretora de Assuntos Médicos da Daiichi Sankyo Brasil, explicou que a ação rápida é essencial para o sucesso do tratamento. “Os médicos não precisam esperar a confirmação laboratorial para iniciar o tratamento. Com base na história clínica e nos sintomas, o antídoto pode ser administrado imediatamente”, destacou.
Casos de metanol em alta
O estado de São Paulo confirmou recentemente a terceira morte por intoxicação por metanol apenas nesta semana. Ao todo, são 15 casos confirmados e 164 sob investigação.
No Paraná, dois casos de intoxicação por metanol foram confirmados, embora as autoridades estaduais não tenham divulgado detalhes sobre as circunstâncias das ocorrências.
Os sintomas da intoxicação incluem:
- Visão turva ou perda da visão.
- Mal-estar generalizado.
- Náuseas e vômitos.
- Dores abdominais.
As autoridades de saúde reforçam que qualquer suspeita de ingestão de bebida adulterada deve ser tratada como emergência. A rapidez no diagnóstico e no início do tratamento é determinante para salvar vidas.
Como funciona o antídoto
O fomepizol age de forma direta sobre a enzima responsável por metabolizar o metanol no organismo. Comparado ao etanol farmacêutico, que tem sido usado como alternativa temporária em hospitais, o fomepizol possui ação mais potente e específica, tornando-o o antídoto de escolha em casos de intoxicação por metanol.
O protocolo de tratamento inclui uma dose inicial de ataque, seguida por doses menores a cada 12 horas, totalizando quatro aplicações principais. A recuperação do paciente costuma ocorrer em até 48 horas, à medida que o organismo elimina o metanol. Em situações graves, o tratamento pode ser complementado com diálise, acelerando a remoção da substância do corpo.
Sanches alerta para os riscos da automedicação: “Não tente contrabalançar a ingestão com outro tipo de álcool. Isso pode agravar a situação. A orientação é procurar atendimento médico imediatamente ao notar qualquer sintoma.”
Importação emergencial
O antídoto será importado dos Estados Unidos em caráter emergencial e distribuído pelo Ministério da Saúde. A negociação envolveu a farmacêutica Daiichi Sankyo, o ministério, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Anvisa. Apesar da urgência, o envio do medicamento ainda depende de trâmites burocráticos.
O uso hospitalar do fomepizol garante que o paciente seja monitorado de perto, permitindo ajustes de doses e intervenções rápidas caso surjam complicações. Especialistas destacam que o tratamento precoce é o fator determinante entre a vida e a morte nos casos de intoxicação por metanol.
Alerta à população
Além da importação do antídoto, autoridades reforçam medidas preventivas: evitar o consumo de bebidas alcoólicas de procedência duvidosa, denunciar estabelecimentos que comercializem produtos suspeitos e buscar atendimento médico imediato em caso de suspeita de intoxicação.
“Os sintomas podem surgir em até 48 horas após a ingestão da bebida contaminada. É fundamental não esperar para ver se passam”, disse Fabiana Sanches. A diretora enfatiza que a consciência da população e a ação rápida dos serviços de saúde são essenciais para reduzir o número de vítimas.
O monitoramento dos casos segue em expansão, e o Ministério da Saúde orienta que hospitais mantenham protocolos de atendimento e registro detalhado de pacientes suspeitos, garantindo uma resposta rápida e organizada diante da emergência.
Com a chegada do lote de fomepizol, espera-se que o país conte com uma ferramenta mais eficaz para enfrentar a intoxicação por metanol, oferecendo tratamento específico, seguro e supervisionado para os pacientes.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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