A Polícia Federal apreendeu quase R$ 230 milhões em dinheiro, bens de luxo e patrimônio de alto valor durante a nova fase da Operação Compliance Zero, deflagrada nesta terça-feira (18). A ação faz parte da investigação que levou à liquidação do Banco Master e que aponta para um complexo esquema de emissão e venda de títulos de crédito falsos no mercado financeiro.
Entre o material apreendido, segundo a PF, estão obras de arte, relógios de alto padrão, jóias, veículos de luxo e até uma aeronave avaliada em R$ 200 milhões. O volume de bens confiscados reflete a dimensão do esquema, considerado um dos maiores casos de fraude financeira dos últimos anos no país.
A operação contou com o cumprimento de cinco mandados de prisão preventiva, dois mandados de prisão temporária e 25 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas. As ações ocorreram em cinco estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal, envolvendo dezenas de agentes federais.
Investigações começaram após denúncia ao MPF
A apuração teve início em 2024, a partir de uma denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal. O MPF apontou indícios de que o Banco Master estaria fabricando carteiras de crédito falsas, que posteriormente eram vendidas a outra instituição financeira como se fossem títulos legítimos. Essa prática, segundo os investigadores, tinha o objetivo de inflar artificialmente a rentabilidade e o patrimônio da instituição.
Os documentos fraudados teriam sido apresentados ao mercado como ativos reais, mas, após fiscalização do Banco Central, foram substituídos por outros ativos sem qualquer avaliação técnica adequada. Essa substituição irregular reforçou as suspeitas de fraude e levou o BC a aprofundar a análise interna, acionando o MPF e, posteriormente, a Polícia Federal.
A partir daí, a PF passou a mapear as operações financeiras, transações suspeitas e movimentações patrimoniais que indicavam enriquecimento abrupto de pessoas diretamente ligadas ao esquema. Foram identificados indícios de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e crimes contra o sistema financeiro nacional.
Apreensões somam quase R$ 230 milhões
A nova fase da operação resultou na maior apreensão de valores materiais já registrada até agora no caso. De acordo com a PF, foram identificados e recolhidos:
- Veículos de luxo: R$ 9,2 milhões
- Dinheiro em espécie: R$ 2 milhões
- Relógios de alto padrão: R$ 6,15 milhões
- Jóias: R$ 380 mil
- Obras de arte: R$ 12,4 milhões
- Aeronave: R$ 200 milhões
Os números chamam atenção não apenas pelo valor, mas pela natureza dos bens. A aeronave apreendida, avaliada em R$ 200 milhões, sugere a utilização de ativos de altíssimo padrão para ocultação patrimonial, o que é típico de esquemas de fraude complexa. Relógios e obras de arte, por sua vez, costumam ser usados em processos de lavagem de dinheiro por sua fácil mobilidade e elevada valorização no mercado internacional.
Segundo investigadores, a existência desse patrimônio de luxo reforça a tese de que o esquema movimentava grandes valores de forma ilícita e que parte das operações era utilizada para financiar gastos pessoais, manutenção de estilos de vida ostentatórios e circulação de recursos fora dos sistemas bancários formais.
Esquema envolvia falsificação e venda de ativos
A principal acusação envolve a emissão de títulos de crédito que não tinham lastro real. Em vez de representar empréstimos concedidos, como ocorre em carteiras de crédito legítimas, os documentos fabricados não tinham origem comprovada. Mesmo assim, eram negociados no mercado como se fossem ativos sólidos.
O objetivo, segundo a PF, era criar uma falsa aparência de solvência e lucratividade. Ao vender títulos inexistentes para outra instituição financeira, o Banco Master conseguia captar recursos de forma irregular, ao mesmo tempo em que mascarava problemas internos de balanço.
Após a atuação do Banco Central, que detectou inconsistências nos documentos apresentados, houve uma tentativa de substituir os ativos por outros títulos sem que eles fossem submetidos a avaliação técnica, algo obrigatório no sistema financeiro. Essa substituição irregular foi um dos principais gatilhos para a abertura da investigação criminal.
Repercussão e impactos no sistema financeiro
A liquidação do Banco Master e as recentes etapas da investigação tiveram forte impacto no mercado financeiro, principalmente entre empresas que operam com aquisição e revenda de carteiras de crédito. O caso levantou alertas sobre a necessidade de reforçar mecanismos de fiscalização e compliance nas instituições, especialmente em operações envolvendo títulos de grande valor e baixa transparência.
Especialistas avaliam que o episódio representa um dos maiores escândalos envolvendo emissão fraudulenta de ativos no país nos últimos anos. A apreensão de valores tão expressivos, incluindo um avião de R$ 200 milhões, indica que o esquema possuía ramificações complexas e envolvia pessoas com acesso privilegiado a recursos e informações internas.
Além das prisões e apreensões, a PF também busca identificar possíveis beneficiários indiretos do esquema, como empresas de fachada ou intermediários financeiros que possam ter atuado na ocultação dos valores.
Os Próximos passos da investigação
A Polícia Federal afirmou que a operação segue em andamento e que novas etapas podem ser deflagradas conforme avançar a análise do material apreendido. A expectativa é que a investigação permita mapear completamente o fluxo financeiro da fraude, identificando não apenas os responsáveis diretos, mas também eventuais cúmplices ou operadores especializados em lavagem de dinheiro.
Peritos federais também devem avaliar as obras de arte recolhidas, verificando autenticidade, origem e eventual ligação com galerias ou colecionadores. Já a aeronave será periciada e deverá ficar sob custódia judicial até o fim do processo.
Com a continuidade da investigação, é possível que novos bens sejam localizados e bloqueados, ampliando o valor total recuperado pelo Estado.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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