O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez duras críticas ao Brasil nesta quinta-feira (14), classificando o país como “um dos piores parceiros comerciais do mundo” e condenando a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No início de agosto, passou a valer a tarifa de 50% imposta pelo governo americano sobre diversos produtos brasileiros que entram no mercado norte-americano. Segundo Trump, a decisão foi uma resposta direta a políticas comerciais que, na avaliação dele, prejudicam há anos empresas e produtores dos EUA.
“O Brasil tem sido um péssimo parceiro comercial em termos de tarifas. Eles cobram tarifas enormes, muito mais do que cobrávamos deles. Na prática, quase não cobrávamos nada”, afirmou Trump, durante entrevista coletiva.
O republicano também acusou o Brasil de adotar, ao longo de décadas, uma postura hostil nas relações comerciais. “Eles nos trataram muito mal como parceiros comerciais, por muitos e muitos anos. Um dos piores países do mundo nesse sentido. Então agora, eles estão pagando tarifas de 50%. Não estão felizes, mas é assim que as coisas são”, completou.
Críticas à Justiça brasileira
O tom crítico de Trump não se restringiu à área econômica. O presidente americano também comentou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que colocou Bolsonaro em prisão domiciliar no final de julho.
“O Brasil tem algumas leis muito ruins em vigor, onde pegaram um presidente, colocaram na cadeia e estão tentando prendê-lo. Eu conheço o homem e vou te dizer: sou muito bom em entender as pessoas. Acho que ele é um homem honesto”, disse.
Trump classificou a medida como uma “execução política” e afirmou considerar a situação “terrível”. “Estão tentando destruir politicamente o Bolsonaro. Isso é errado e prejudica a democracia brasileira”, declarou.
Disputa comercial
A nova tarifa de 50% afeta especialmente produtos industrializados e parte do setor agropecuário brasileiro. De acordo com analistas, trata-se de uma das medidas mais duras já adotadas contra o Brasil desde a retomada das relações comerciais formais entre os dois países no século XX.
Antes da decisão, a média das tarifas aplicadas pelos EUA sobre mercadorias brasileiras estava entre 5% e 15%, dependendo do produto. A elevação repentina foi interpretada como uma mensagem política e econômica de Trump, que, no discurso interno, busca mostrar força na defesa da indústria e do campo americano.
Reação de Brasília
O governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, classificou as falas de Trump como “infundadas” e acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar o aumento das tarifas.
Fontes do Itamaraty indicam que, além da disputa no órgão internacional, o Brasil poderá adotar medidas de retaliação, elevando tarifas sobre produtos norte-americanos, caso não haja acordo nas negociações.
Impacto no mercado
Setores como o de calçados, têxteis e peças automotivas estão entre os mais prejudicados, já que dependem fortemente do mercado norte-americano. Exportadores temem perda de competitividade e já calculam queda nas encomendas para os próximos meses.
Em contrapartida, segmentos como o de café, soja e suco de laranja produtos de alta demanda nos EUA ficaram de fora da nova tarifa, resultado de negociações de bastidores para evitar um impacto ainda maior na balança comercial.
Relações com a China
Durante a coletiva, Trump também respondeu a questionamentos sobre a aproximação de países da América Latina, incluindo o Brasil, com a China. Demonstrando pouca preocupação, disse não temer a expansão da influência chinesa na região.
“Não estou nem um pouco preocupado. Eles podem fazer o que quiserem. Nenhum deles está indo muito bem. E o que estamos fazendo em termos de economia… Estamos superando todo mundo, incluindo a China. Estamos indo melhor do que qualquer outro país do mundo agora”, afirmou.
Escalada nas tensões
A combinação das críticas econômicas e políticas eleva a tensão diplomática entre Brasília e Washington. Especialistas em relações internacionais alertam que, caso não haja um recuo de ambas as partes, a crise pode se prolongar e comprometer acordos estratégicos nas áreas de segurança, energia e tecnologia.
Apesar das divergências, diplomatas dos dois países ainda mantêm canais abertos para negociações, tentando evitar que a disputa se transforme em um rompimento mais profundo nas relações bilaterais.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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