Os Correios buscam um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar reverter uma crise financeira que já acumula 12 trimestres consecutivos de prejuízo. A expectativa é que a operação seja concluída até o final de novembro de 2025. O valor será usado em um plano de reestruturação que inclui demissão voluntária de funcionários, venda de imóveis ociosos, readequação de custos e modernização da operação.
Segundo a estatal, a crise financeira vem desde 2022 e, nos primeiros seis meses de 2025, os prejuízos alcançaram R$ 4,36 bilhões, o maior valor da história da empresa. O empréstimo é considerado essencial para garantir liquidez, quitar dívidas com fornecedores e assegurar o funcionamento da companhia em 2025 e 2026.
O plano de reestruturação prevê:
- Demissão voluntária: programa que deve atingir cerca de 10 mil funcionários, reduzindo de forma significativa os custos com pessoal;
- Venda de imóveis: geração estimada de R$ 1,5 bilhão em receita;
- Fechamento de agências: até mil pontos de atendimento deficitários serão fechados;
- Redução de custos: renegociação de contratos com fornecedores e ajustes em planos de saúde;
- Modernização: investimento em tecnologia e infraestrutura operacional.
A negociação do empréstimo enfrentou dificuldades relacionadas ao alto custo dos juros e à exigência de garantias para a operação. A equipe econômica do governo ainda avalia a possibilidade de aporte público para viabilizar a operação.
Alguns parlamentares, como a senadora Damares, acompanharam o anúncio e questionaram a coerência das medidas da estatal, ressaltando a importância da fiscalização das contas dos Correios.
O empréstimo, embora necessário para manter a liquidez, contrasta diretamente com o plano de demissões e fechamento de agências, reacendendo o debate sobre as escolhas estratégicas da empresa e o futuro da maior estatal de logística do país.

O que levou os Correios ao declínio financeiro?
O cenário atual dos Correios é resultado de fatores acumulados ao longo dos últimos anos. A estatal registra prejuízos bilionários contínuos, chegando a R$ 4,36 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025.
Especialistas citam gestão politizada, interferências administrativas e decisões que comprometeram receitas – como o veto ao reajuste de serviços monopolistas em 2014. Em paralelo, a empresa perdeu terreno para gigantes privadas de logística, que avançaram com rede mais moderna, entregas rápidas e operação eficiente.
Além disso, os Correios mantiveram um modelo pesado, com custos crescentes, alta litigância e passivos que pressionam ainda mais o caixa. A falta de investimentos consistentes em tecnologia e automação agravou a perda de competitividade.
Esse conjunto de fatores explica o declínio financeiro atual – grave, mas não configurado como falência, já que a estatal segue operando enquanto tenta reestruturar sua base e recuperar fôlego.
No centro dessa crise está uma disputa entre passado e futuro: os Correios tentam preservar sua função pública enquanto buscam sobreviver em um mercado que se move com velocidade inédita. O empréstimo de R$ 20 bilhões pode garantir tempo, mas não resolve o desafio principal – recolocar a estatal em uma rota capaz de acompanhar um setor que não espera.
O que está em jogo é se a empresa conseguirá transformar esse respiro financeiro em mudanças reais, ou se continuará reagindo apenas a crises sucessivas.
Por David Gonçalves | Revisão: Daniela Gentil
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