Um vídeo gravado por uma família palestina mostra uma cena rara em Gaza: gritos de alegria ao receber um saco de farinha. Em meio à fome generalizada, o alimento se tornou símbolo de resistência num território onde comer virou privilégio e sobreviver, um milagre diário.
A imagem circula nas redes enquanto mais de 6 mil caminhões com comida, remédios e água seguem parados nas fronteiras com o Egito e a Jordânia. Organizações humanitárias acusam Israel de bloquear intencionalmente a entrada de ajuda. O governo nega e afirma que os suprimentos estão disponíveis, mas que caberia às agências internacionais retirá-los.
Segundo estimativas da ONU, cerca de 470 mil pessoas já enfrentam fome extrema. Os casos de desnutrição grave aumentam a cada semana, principalmente entre crianças e mulheres. Relatórios recentes apontam que mais de 110 civis já morreram de inanição, a maioria em áreas do norte de Gaza, onde o acesso humanitário é quase impossível.
Hospitais operam sem anestesia. Cozinhas comunitárias fecham por falta de insumos. E 95% da população está sem água potável, segundo a Organização Mundial da Saúde. A ONU alerta que o território vive uma situação de “colapso total”.
As negociações por cessar-fogo seguem travadas. O Hamas exige que a ajuda humanitária seja distribuída pela ONU. Israel e os Estados Unidos rejeitam a proposta e pressionam por outras formas de controle.
Enquanto a política internacional emperra, crianças desidratam, famílias enterram seus mortos e adultos choram diante de um saco de farinha. Porque em Gaza, hoje, a fome grita mais alto que qualquer promessa de paz.
Por David Gonçalves, correspondente MD na Itália | Revisão: Daniela Gentil
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