A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por coação no curso de processo, no contexto da tentativa de golpe de Estado investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com o relatório entregue o STF, os dois teriam tentando intimidar autoridades que se encontram envolvidas no caso da ruptura institucional. Durante a inspeção, a PF achou no celular de Jair Bolsonaro um texto que requeria asilo político imediato à Argentina.
O arquivo, que não tinha data nem nome, foi feito por um usuário chamado “Fernanda Bolsonaro”, que possivelmente está vinculado à pessoa da nora do ex-presidente, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, mulher do senador Flávio Bolsonaro.
De acordo com os metadados acessados, o texto foi feito em fevereiro de 2024, quando Bolsonaro já estava sob investigação por crimes como: Organização criminosa, Abolição violenta de Estado Democrático de Direito e Tentativa de golpe de Estado.
Áudios apagados e conversas com Malafaia e Eduardo Bolsonaro
A Polícia Federal recuperou, no celular do ex-presidente, gravações de áudio e mensagens deletadas que mencionam o deputado Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia. As conversas indicam um possível plano para pressionar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de influenciar o julgamento da Ação Penal nº 2668, que segue em andamento na Corte.
De acordo com a PF, o intuito das pressões era evitar uma possível sentença desfavorável a Bolsonaro e outros réus relacionados aos atos de tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
Viagem à Argentina e suspeita de fuga
O relatório aponta que, em 5 de dezembro de 2023, Bolsonaro informou ao ministro Alexandre de Moraes sobre sua viagem à Argentina, agendada entre 7 e 11 de dezembro. A Polícia Federal sugere que tal deslocamento pode ter ligação com uma possível fuga, considerando que o pedido de asilo descoberto depois reforça a ideia de evitar as punições da lei.
Medidas contra Silas Malafaia
A apuração também levou à adoção de precauções em relação ao pastor Silas Malafaia, que apoia Bolsonaro. Nesta quarta-feira (20), Malafaia voltou de Lisboa e foi abordado por policiais federais no Aeroporto do Galeão (RJ). Ele foi levado para depor e teve seu telefone e objetos particulares confiscados, de acordo com a ordem de busca e apreensão emitida pelo STF.
Investigação iniciada por solicitação da PGR
Em resposta a informações de que Eduardo Bolsonaro estaria tentando obter auxílio de figuras influentes nos Estados Unidos com o objetivo de exercer pressão sobre ministros do STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) requereu a abertura de um inquérito, o qual teve início em maio.
O processo investigativo tem passado por sucessivas prorrogações, a mais recente, concedida pelo ministro Alexandre de Moraes no começo de julho, que adicionou um prazo de 60 dias para que novas averiguações pudessem ser efetuadas.
Após decisão do STF, Jair Bolsonaro está atualmente em regime de prisão domiciliar, pelo não cumprimento de ordens judiciais anteriores.
A PF enfatiza que as evidências reunidas, incluindo documentos, diálogos, gravações e metadados, apontam para um esforço conjunto para enfraquecer as instituições democráticas e dificultar o trabalho da Justiça.
Por Aline Feitosa | Revisão: Daniela Gentil
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