O BRICS realizou, nesta segunda-feira (8), uma cúpula virtual que reuniu os principais líderes do bloco e de países parceiros. A reunião, que durou cerca de 1h30, teve como foco o fortalecimento do multilateralismo, a ampliação do comércio interno e a busca de respostas conjuntas contra o aumento das medidas unilaterais que vêm afetando o equilíbrio do comércio global.
Participaram da conferência o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da China, o presidente Xi Jinping, da Rússia, Vladimir Putin, além de representantes do Egito, Indonésia, Irã, África do Sul, Índia, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A diversidade de vozes presentes mostrou que o BRICS, ao longo dos anos, deixou de ser apenas um grupo de economias emergentes e se consolidou como espaço estratégico para o diálogo político e econômico entre diferentes regiões do mundo.
Lula: “chantagem tarifária”
Em seu pronunciamento, Lula destacou a necessidade de os países do Sul Global unirem esforços diante do que classificou como “chantagem tarifária”. O presidente fez referência às tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros e criticou práticas comerciais que, segundo ele, buscam limitar a soberania e a capacidade de desenvolvimento das nações em desenvolvimento.
“Não podemos aceitar que tarifas sejam utilizadas como instrumentos de pressão política. O BRICS deve responder com mais integração, mais comércio interno e com solidariedade entre os seus membros”, afirmou Lula.
O discurso foi acompanhado de perto pelos parceiros do bloco, que endossaram a crítica à escalada do protecionismo e do unilateralismo em escala global.
Xi Jinping defende multilateralismo
O presidente chinês, Xi Jinping, reforçou a importância de proteger o multilateralismo diante das “novas formas de hegemonismo” e da crescente fragmentação da economia global. Para Xi, os países do BRICS devem fortalecer mecanismos de cooperação que ampliem o comércio justo e inclusivo, sem imposições externas.
“A defesa do multilateralismo não é apenas uma questão diplomática, mas uma necessidade para garantir prosperidade e segurança para nossos povos”, disse o líder chinês, em tom de alerta contra o risco de isolamento econômico de países emergentes.
Propostas de cooperação
Durante a reunião, os líderes também compartilharam propostas práticas para ampliar a cooperação. O Egito apresentou projetos de integração em áreas como energia renovável, infraestrutura e agricultura, defendendo que o BRICS seja um espaço de convergência entre setor público e privado.
Já a Índia, representada pelo chanceler Subrahmanyam Jaishankar, ressaltou que o comércio internacional precisa evoluir com base em regras claras, livres e equitativas, garantindo tratamento diferenciado para nações em desenvolvimento.
O Irã defendeu a reforma das instituições financeiras internacionais e sugeriu a criação de sistemas independentes de pagamento que reduzam a dependência do dólar no comércio entre os países. A proposta foi bem recebida por Rússia e China, que já vêm trabalhando em mecanismos alternativos de liquidação.
A África do Sul, por sua vez, destacou a necessidade de diversificação de parcerias comerciais, com especial atenção ao continente africano, que representa um dos maiores potenciais de crescimento do comércio internacional nas próximas décadas.
Preparação para fóruns internacionais
O encontro também serviu de preparação para uma série de compromissos internacionais que ocorrerão até o fim do ano. Entre eles, a 80ª Assembleia Geral da ONU, marcada para 23 de setembro, a COP-30, que será realizada em Belém a partir de 6 de novembro, e a Cúpula de Líderes do G20, prevista para os dias 22 e 23 de novembro.
De acordo com comunicado do Palácio do Planalto, os líderes concordaram que o BRICS deve chegar a esses fóruns com uma posição coesa, defendendo um sistema internacional mais equilibrado e inclusivo, capaz de responder de maneira eficaz às demandas do Sul Global.
Relevância do BRICS
Criado em 2009, o BRICS nasceu como uma sigla para designar grandes economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com o passar dos anos, o grupo passou a incorporar novos parceiros e a ganhar protagonismo político. Hoje, os países do bloco representam cerca de 40% do PIB global e quase metade da população mundial.
O crescimento do bloco reflete o aumento da importância geopolítica das nações em desenvolvimento e a busca por maior autonomia frente às potências tradicionais. Para analistas internacionais, o BRICS se tornou um contraponto às instituições financeiras ocidentais, como o FMI e o Banco Mundial, ao propor uma ordem mais democrática e multipolar.
Um recado ao mundo
A reunião desta segunda-feira deixou claro que os países do BRICS pretendem assumir um papel mais ativo no cenário global. Ao condenar práticas unilaterais e reforçar o compromisso com o multilateralismo, o bloco envia um recado direto a Washington e Bruxelas: as economias emergentes não estão dispostas a aceitar passivamente decisões impostas de fora.
Ao mesmo tempo, a ênfase na ampliação do comércio entre os membros do BRICS demonstra a busca por alternativas práticas diante das dificuldades impostas pelo protecionismo internacional. Para Lula, Xi e Putin, o fortalecimento do bloco não é apenas uma questão de retórica, mas um caminho estratégico para enfrentar desafios comuns.
A cúpula virtual do BRICS mostrou, mais uma vez, que o bloco se consolida como um dos principais fóruns de discussão política e econômica do século 21. Com um discurso afinado em defesa do multilateralismo, os países-membros deixaram evidente que estão dispostos a ampliar a cooperação e a resistir às pressões externas.
Nos próximos meses, a forma como o grupo atuará nos principais fóruns internacionais será determinante para medir até onde vai a capacidade do BRICS de transformar discursos em ações concretas.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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