Israel anunciou nesta sexta-feira (25) que permitirá que outros países realizem lançamentos de ajuda humanitária por via aérea na Faixa de Gaza. A informação é do jornal The New York Times.
A região enfrenta uma crise humanitária severa, na qual diversas pessoas, entre elas crianças, já morreram de desnutrição. A Jordânia e os Emirados Árabes Unidos enviarão ajuda por via aérea nos próximos dias, de acordo com a COGAT, a agência militar israelense que supervisiona assuntos humanitários em Gaza.
Esta medida ocorre enquanto quase um terço das pessoas no território enfrenta insegurança alimentar, segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas. A desnutrição atinge em especial crianças, idosos e gestantes.
A Crise Humanitária em Gaza se aprofunda
A população de Gaza vive em condições precárias após 21 meses de conflito. As autoridades de saúde de Gaza relatam um aumento na desnutrição aguda e mortes de crianças. Mais de 100 organizações já alertaram para a “fome em massa” se espalhando por Gaza, reforçando os apelos para que Israel suspenda as restrições à ajuda humanitária.
Agências internacionais de jornalismo, como a AFP, divulgaram recentemente que a fome já alcançou os jornalistas presentes em Gaza, responsáveis pela cobertura da guerra.
A ONU denunciou em junho o que classificou de uso da fome como arma de guerra, por parte de Israel. Este uso é considerado crime de guerra e foi questionado após diversos relatórios de ONGs sobre o avanço da fome no território palestino.
Especialistas questionam a eficácia dos lançamentos aéreos
Apesar da iniciativa dos airdrops, especialistas e oficiais da ONU têm se manifestado criticamente sobre sua eficácia. Juliette Touma, porta-voz principal da agência da ONU para refugiados palestinos, descreveu os lançamentos aéreos como “extremamente caros” e geralmente utilizados apenas como “último recurso”. Ela ressaltou que milhares de caminhões de ajuda estão aguardando aprovação israelense para entrar em Gaza.
Oficiais da ONU têm argumentado que a melhor forma de levar alimento suficiente para Gaza é por terra, através das fronteiras controladas por Israel e Egito.
Obstáculos na entrega de ajuda por Terra
Ainda na sexta-feira (25), as Nações Unidas acusaram Israel de impor “obstáculos burocráticos, logísticos, administrativos e outros operacionais” à distribuição da ajuda. Essas restrições se somam a outros problemas, como ataques a comboios por criminosos armados dentro de Gaza, segundo o escritório de assuntos humanitários da ONU.
Embora as autoridades israelenses afirmem não ter limitado o número de caminhões que entram no território, a realidade no terreno é complexa.
Durante um cessar-fogo entre janeiro e março, Israel permitiu a entrada de centenas de caminhões de ajuda diariamente. No entanto, com a paralisação das negociações de trégua, Israel praticamente proibiu a entrada de toda a ajuda em Gaza por mais de dois meses, incluindo alimentos, combustível e medicamentos.
Embora a permissão para entrada de comboios tenha sido retomada em maio, a assistência que entrou em junho foi relativamente menor em comparação com outros períodos da guerra, de acordo com dados oficiais israelenses.
Um incidente recente, envolvendo um comboio do Programa Mundial de Alimentos, gerou cenas caóticas onde soldados israelenses atiraram contra multidões de palestinos que corriam para pegar sacos de farinha. Oficiais de saúde de Gaza relataram que dezenas de pessoas foram mortas e feridas.
O Programa Mundial de Alimentos declarou em um comunicado: “À medida que o comboio se aproximava, a multidão ao redor foi atingida por tanques israelenses, snipers e outros tiros”. Eles também afirmaram: “Essas pessoas estavam simplesmente tentando acessar comida para alimentar a si mesmas e suas famílias à beira da fome”.
O exército israelense, por sua vez, alega ter disparado “tiros de advertência” após milhares de palestinos invadirem a área e contestou o número de mortos fornecido pelas autoridades de Gaza, sem apresentar outros dados em contrapartida.
A permissão para lançamentos aéreos é vista como uma tentativa de mitigar a crise, mas não substitui a necessidade de um fluxo constante e seguro de ajuda por via terrestre. Enquanto o povo palestino enfrenta obstáculos para receber ajuda, o mínimo para a manutenção da vida em Gaza, circulam pelo mundo imagens, em especial de crianças, mortas pela fome. Uma violação clara dos direitos humanos.
Por: Iamara Lopes | Revisão: Redação
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