O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9) que o ex-presidente recebeu, leu e editou a chamada “minuta do golpe”, documento que previa a prisão de autoridades dos Três Poderes após a derrota eleitoral em 2022. Segundo Cid, Bolsonaro teria “enxugado” o texto, removendo os nomes de diversas autoridades, mas mantendo a prisão do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a tentativa de golpe.
“Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor ficaria como preso”, disse Cid, dirigindo-se ao próprio Moraes durante a oitiva. O depoimento integra a série de interrogatórios com os oito réus considerados parte do “núcleo crucial” da suposta trama golpista, entre eles o próprio Bolsonaro, ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas.
Cid relatou que não estava presente no momento das alterações feitas no documento, mas confirmou ter visto o conteúdo modificado logo após a edição, que teria sido realizada com auxílio do ex-assessor especial Filipe Martins. “Ele estava com o computador para fazer essas alterações solicitadas pelo presidente”, disse o militar.
O ex-ajudante reforçou declarações prestadas em sua delação premiada à Polícia Federal, firmada em 2023, e destacou que presenciou, mas não participou diretamente, das articulações golpistas. “Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, declarou.
Antes do início dos depoimentos, um gesto simbólico chamou atenção: Bolsonaro e Mauro Cid se cumprimentaram com um aperto de mãos no plenário do STF. O reencontro aconteceu momentos antes de Cid dar um dos depoimentos mais aguardados da semana, apontando diretamente para a participação do ex-presidente na construção do plano golpista.
Os interrogatórios seguirão até sexta-feira (14), com os seguintes réus:
● Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin;
● Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
● Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
● Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
● Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
● Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
● Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice em 2022.
A nova fase da investigação conduzida pelo STF e pela Procuradoria-Geral da República pode definir os próximos desdobramentos do caso que apura a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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