O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste fim de semana para Roma, onde participará, na segunda-feira (13), do Fórum Mundial da Alimentação 2025, evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A reunião marca os 80 anos da criação da entidade e deve destacar o retorno do Brasil a uma posição de referência internacional no combate à fome.
A presença do presidente ocorre poucos meses após o anúncio da saída do país do Mapa da Fome, feito em julho, no relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo” (SOFI 2025). A conquista foi celebrada como um dos principais resultados do programa Brasil Sem Fome, retomado no início do atual governo.
Durante o evento, Lula também encerrará a segunda reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, e vai inaugurar o Mecanismo de Apoio da Aliança Global, que funcionará como o secretariado permanente da iniciativa. A estrutura terá sede em Roma, junto à FAO, e escritórios regionais em Brasília, Adis Abeba, Bangkok e Washington, com o objetivo de apoiar países que enfrentam insegurança alimentar e extrema pobreza.
Segundo o coordenador-geral de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério das Relações Exteriores, ministro Saulo Arantes Ceolin, a viagem tem um simbolismo forte.
“O objetivo principal da presença do presidente é prestigiar o fórum e, sobretudo, celebrar o aniversário da FAO, uma organização com a qual o Brasil mantém uma relação histórica e estratégica há décadas”, afirmou Ceolin.
O Fórum Mundial da Alimentação
Criado em 1945, o Fórum Mundial da Alimentação é considerado o principal espaço global de discussão sobre a transformação dos sistemas agroalimentares. O evento é guiado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 das Nações Unidas e busca promover soluções concretas para reduzir desigualdades e garantir alimentação adequada e sustentável para todos.
A estrutura do fórum se baseia em três pilares Juventude, Ciência e Inovação, e Investimentos e adota o conceito dos “quatro melhores” (four betters), que orientam a gestão do diretor-geral da FAO, Qu Dongyu: melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e melhor vida.
Nesta edição, a organização preparou atividades especiais em comemoração aos 80 anos, incluindo a inauguração de um novo museu da FAO, uma mostra sobre segurança alimentar global e premiações de reconhecimento a países e instituições que se destacaram na luta contra a fome e na promoção da agricultura sustentável.
“Haverá, para além do calendário normal, uma série de eventos comemorativos e de reconhecimento de boas práticas no combate à pobreza e na promoção de sistemas alimentares resilientes”, disse Ceolin.
Conselho de Campeões e nova fase da cooperação internacional
Copresidida pelo Brasil e pela Espanha, a segunda reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza deve reunir ministros, representantes de agências da ONU, bancos multilaterais e organizações da sociedade civil. O encontro pretende alinhar ações conjuntas e atrair novos parceiros financeiros e técnicos para o esforço global de erradicação da fome até 2030.
Entre os temas prioritários está a Iniciativa de Implementação Acelerada (Fast Track), que apoia planos nacionais de combate à fome e à pobreza em países como Etiópia, Quênia, Haiti, Ruanda e Zâmbia. Segundo dados do Itamaraty, mais de 80 manifestações de interesse foram registradas até agora por parte de governos, bancos e agências de cooperação internacional.
A iniciativa da Aliança Global já apoia o desenvolvimento de nove planos nacionais voltados para acelerar ações contra a fome, a pobreza e os impactos climáticos. A estratégia é reforçar o papel da agricultura sustentável, fortalecer redes de abastecimento e garantir acesso à renda e alimentação saudável em comunidades vulneráveis.
Declaração de Belém e COP30
Outro ponto de destaque na agenda é a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, proposta pela presidência brasileira da COP30, que será sediada em novembro de 2025, em Belém (PA).
O documento, ainda em fase final de elaboração, busca articular compromissos concretos entre governos, sociedade civil e setor privado, unindo agendas de combate à fome e justiça climática.
Segundo o Itamaraty, a expectativa é que a declaração seja aprovada durante a Cúpula de Líderes da COP30, em um dos momentos mais simbólicos da presidência brasileira no evento.
“A Declaração de Belém pretende colocar as pessoas no centro das soluções para a crise climática e alimentar, reconhecendo que não há sustentabilidade possível sem justiça social e sem erradicação da fome”, reforçou um diplomata envolvido na elaboração do texto.
Cúpula de Líderes em Doha
A agenda internacional da Aliança Global prevê ainda a Primeira Cúpula de Líderes, marcada para 3 de novembro, em Doha, no Catar, à margem da Segunda Cúpula de Desenvolvimento Social das Nações Unidas.
O encontro reunirá chefes de Estado e de Governo para anunciar novos compromissos de financiamento e cooperação internacional voltados ao enfrentamento da fome e da pobreza extrema.
Entre as metas da reunião está a ampliação do fundo global de apoio técnico e financeiro às políticas públicas dos países de baixa e média renda.
Com quase 200 membros incluindo 103 países e diversas organizações internacionais, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza tem como objetivo mobilizar recursos públicos e privados, fortalecer a governança multilateral e impulsionar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 (Erradicação da Pobreza) e 2 (Fome Zero).
Papel de liderança do Brasil
O Itamaraty avalia que a presença de Lula em Roma consolida o retorno do Brasil à diplomacia de combate à fome, marca do governo brasileiro nos anos 2000. O país volta a ter papel de referência técnica e política em programas de transferência de renda, compras públicas de alimentos e políticas de segurança alimentar.
O Brasil também deve apresentar novos dados sobre a redução da insegurança alimentar, que caiu para menos de 2,5% da população, segundo o relatório da FAO, após a reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e o fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
“O mundo reconhece que o Brasil tem experiência e resultados concretos. É uma liderança que inspira outras nações e mostra que é possível vencer a fome com políticas públicas bem estruturadas e participação social”, afirmou Ceolin.
A expectativa é que o discurso de Lula em Roma ressalte o compromisso do país com a erradicação da fome até 2030, e defenda cooperação internacional solidária, especialmente com países em desenvolvimento.
Ao destacar o sucesso brasileiro, o governo pretende reforçar a mensagem de que combater a fome é um ato de soberania, justiça social e humanidade e que o Brasil está disposto a liderar esse movimento mais uma vez no cenário global.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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