A cidade de Belém, no coração da Amazônia brasileira, vai se transformar no epicentro da diplomacia mundial nos dias 6 e 7 de novembro, quando receberá a Cúpula dos Líderes, encontro que antecede a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas marcada para o dia (10) a (20) de novembro. O evento deve reunir 57 chefes de Estado e de governo e 143 delegações estrangeiras, consolidando o protagonismo do Brasil nas discussões ambientais globais.
Preparativos e bastidores diplomáticos
Confirmado pelo Itamaraty nesta sexta-feira (31), o encontro será liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegará a Belém no sábado (1º) para uma intensa agenda de reuniões bilaterais. O objetivo é articular posições conjuntas antes mesmo da abertura oficial da cúpula, reforçando o papel do Brasil como mediador nas negociações internacionais sobre o clima.
Durante o evento, Lula abrirá os trabalhos e comandará três sessões temáticas: Florestas e Oceanos, Transição Energética e Financiamento Climático. O presidente também organizará um almoço reservado com líderes e ministros estrangeiros para tratar especificamente de financiamento voltado à conservação das florestas tropicais, um dos principais eixos do governo brasileiro na agenda ambiental.
143 delegações e algumas ausências notáveis
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, 143 delegações estrangeiras já confirmaram presença em Belém. Além dos 57 chefes de Estado e de governo, o evento contará com 39 ministros e outros representantes de organismos internacionais.
Apesar da ampla adesão, Estados Unidos e Argentina ainda não oficializaram suas participações. Segundo fontes da presidência da COP30, ambos os países devem enviar delegações, mas os nomes dos representantes ainda não foram divulgados.
Lula no centro das articulações
O papel de Lula é central nessa cúpula. O presidente será responsável por conduzir as discussões e estabelecer um tom político que sirva de referência para as negociações da COP30. Fontes do Planalto destacam que o encontro em Belém funcionará como um “ensaio geral” das tratativas climáticas que se desenrolarão no ano seguinte.
Para o governo, o encontro representa uma oportunidade de reposicionar o Brasil como líder global na pauta ambiental, especialmente após o retorno ao Acordo de Paris e a retomada de programas de combate ao desmatamento e incentivo à energia limpa.
“Não basta pensamento mágico”, alerta Marina Silva
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o principal objetivo da cúpula é “dar o termo de referência aos negociados”, ou seja, preparar o terreno para os compromissos concretos que deverão ser firmados durante a COP30.
“Ao final, uma mensagem deve ser deixada pelos líderes, defendendo o fim do uso de combustíveis fósseis e do desmatamento”, destacou Marina.
“Não basta pensamento mágico. É preciso recursos reais para viabilizar investimentos em energia limpa e conservação ambiental.”
A fala reforça a cobrança histórica feita pelos países em desenvolvimento, que exigem dos países ricos maior comprometimento financeiro para apoiar a transição verde e a preservação das florestas tropicais.
Desafios logísticos em Belém
A capital paraense vive uma corrida contra o tempo para concluir obras de infraestrutura, transporte e hospedagem. Hotéis e pousadas estão com ocupação quase total e os preços dispararam. A prefeitura estima que a cidade receba mais de 30 mil visitantes durante o período da cúpula e da COP30.
Alguns atrasos em obras estruturantes, como o Centro de Convenções da Amazônia, e a logística de transporte entre os locais de evento são apontados como gargalos. Ainda assim, o governo estadual garante que todos os cronogramas estão sendo cumpridos.
Florestas, energia e financiamento: os três pilares
O formato da Cúpula dos Líderes foi desenhado para garantir espaço igual entre os participantes. Cada sessão contará com cerca de 40 representantes internacionais, com direito a intervenções curtas, sem discursos longos. O objetivo, segundo o Itamaraty, é estimular o debate multilateral e permitir que os países expressem compromissos concretos.
Entre os temas centrais estão:
- Proteção das florestas tropicais e combate ao desmatamento ilegal.
- Financiamento climático como garantir recursos para os países em desenvolvimento implementarem políticas verdes.
- Transição energética substituição gradual de combustíveis fósseis por fontes renováveis.
O papel estratégico do Brasil
Sediar o evento na Amazônia é uma aposta política e simbólica. Para o governo, a presença de líderes estrangeiros em Belém reforça a ideia de que o futuro do planeta passa pela floresta amazônica. O Brasil pretende usar essa vitrine para propor uma aliança global pela preservação e ampliar o acesso a fundos internacionais de financiamento ambiental.
A estratégia também tem peso geopolítico. Em um cenário global de disputas energéticas e tensões entre norte e sul, o Brasil tenta se posicionar como ponte diplomática entre países ricos e emergentes e como voz legítima da América do Sul nas negociações ambientais.
Um divisor de águas para a COP30
A Cúpula dos Líderes em Belém promete ser um marco preparatório decisivo para a COP30. O Itamaraty espera que, ao fim do encontro, os líderes deixem um documento conjunto que reforce compromissos de redução de emissões, proteção florestal e financiamento climático.
Para os organizadores, o evento simboliza mais do que uma reunião política é uma declaração de urgência. Com as mudanças climáticas avançando e os eventos extremos se tornando mais frequentes, o mundo olhará para Belém em busca de respostas e ações concretas.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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