Fraqueza ou formigamento em um lado do corpo, dificuldade para falar e perda súbita de visão. Esses sintomas, frequentemente associados a pessoas mais velhas, estão se tornando uma realidade alarmante para um novo grupo: os jovens entre 20 e 50 anos. O Acidente Vascular Cerebral (AVC), foco do Dia Mundial de Conscientização neste 29 de outubro, tem crescido nessa faixa etária, e especialistas alertam para um cenário preocupante.
Segundo estudo publicado no The Lancet Neurology, dos 12 milhões de casos anuais registrados no mundo, 1,8 milhão ocorrem em pessoas com menos de 50 anos.
No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que as internações por AVC nessa faixa etária aumentaram 32% entre 2008 e 2024, passando de 33,3 mil para 44,1 mil casos. O número acende um alerta sobre o impacto de fatores como estresse, hipertensão, tabagismo, sedentarismo e má alimentação na rotina das novas gerações.
Reconhecimento e tratamento rápido fazem a diferença
O neurologista Victor Hugo Espíndola explica que o reconhecimento rápido dos sinais é o primeiro passo para salvar vidas. “Identificar precocemente os sintomas do AVC é fundamental para garantir o tratamento adequado. Hoje temos alguns dos melhores tratamentos disponíveis na medicina, mas eles são extremamente dependentes do tempo”, destaca o médico.
Para ajudar a população a reconhecer os sinais, ele orienta o uso da sigla SAMU:
“O S é de sorriso: peça para a pessoa sorrir e veja se há assimetria facial, a famosa ‘boca torta’. O A é de abraço: peça para levantar os dois braços, e observe se um deles cai ou está mais fraco. O M é de música: peça para a pessoa cantar ou repetir uma frase; se ela falar enrolado ou não entender, é sinal de alerta. E o U é de urgência — porque, na menor suspeita, o paciente deve ser levado imediatamente ao hospital.”
Segundo Espíndola, o tempo é determinante para evitar sequelas. “A cada minuto, bilhões de neurônios são perdidos. O tratamento mais comum é a trombólise venosa, feita por meio de medicação que dissolve o coágulo. Mas só pode ser realizada até 4 horas e 30 minutos após o início dos sintomas. Já a trombectomia mecânica, indicada para casos mais graves, pode ser feita até 24 horas, mas quanto mais cedo o paciente for tratado, melhores serão os resultados”, contextualiza o neurologista.
Tipos de AVC e diferenças entre eles
O neurologista explica que existem dois tipos principais de AVC: o isquêmico e o hemorrágico, cada um com causas, riscos e perfis de pacientes diferentes.
“O AVC isquêmico é o mais comum. Ele ocorre quando uma artéria é obstruída e o sangue deixa de chegar a uma parte do cérebro. Costuma acometer mais homens idosos, porque está diretamente relacionado a fatores como hipertensão, diabetes e colesterol alto”, detalha Espíndola.
Já o AVC hemorrágico é causado pelo rompimento de um vaso sanguíneo dentro do cérebro, levando ao extravasamento de sangue no tecido cerebral. “Nesse caso, o pico de pressão arterial é a principal causa, e pode acontecer em qualquer idade”, esclarece.
O médico também chama atenção para os casos de aneurismas cerebrais: uma das causas mais graves de AVC hemorrágico. “Os aneurismas são mais frequentes em mulheres de meia-idade, entre 30 e 50 anos. Quando rompem, provocam um tipo de AVC com alta mortalidade, chegando a afetar metade dos pacientes”, diz.
Segundo Espíndola, embora o AVC isquêmico ainda predomine entre os mais velhos, os casos vêm crescendo entre jovens. “Isso acontece porque estamos mais sedentários, alimentando-nos mal, vivendo sob estresse constante e negligenciando o cuidado com a saúde. Quanto mais cedo nos expomos a esses fatores de risco, mais cedo o AVC pode acontecer”, alerta.
Sintomas e prevenção
Reconhecer os sinais de um AVC é fundamental para salvar vidas. Entre os sintomas mais comuns estão fraqueza ou formigamento em um dos lados do corpo, dificuldade para falar, perda de visão súbita, dor de cabeça intensa e tontura.
A prevenção inclui controle da pressão arterial, alimentação equilibrada, prática regular de exercícios e abandono do tabagismo. “Cuidar da saúde é a principal forma de evitar o AVC. Estamos vivendo uma verdadeira epidemia dessa doença, mas a boa notícia é que a maioria dos casos pode ser prevenida e tratada se o paciente chegar a tempo ao hospital”, orienta Víctor Hugo.
Reabilitação e tratamento
Para pacientes que apresentam sequelas, a reabilitação é parte essencial do processo. O tratamento é conduzido por uma equipe multidisciplinar composta por fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. O objetivo é promover independência, preservar as funções motoras e estimular o máximo potencial de recuperação.
De acordo com Espíndola, a reabilitação precoce e integrada é determinante.
“Mais de 80% dos casos de AVC podem ser evitados, pois estão ligados a fatores de risco modificáveis, como hipertensão, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo e obesidade. Por isso, o acompanhamento com uma equipe multidisciplinar — neurologista, educador físico, nutricionista e psicólogo — é essencial para promover mudanças reais de estilo de vida”, explica.
Ele lembra ainda que “mudar hábitos de vida não é simples, por isso o suporte de profissionais é indispensável para garantir adesão ao tratamento e evitar a recorrência, que chega a atingir 25% dos pacientes”.
Em caso de suspeita, o Ministério da Saúde reforça: o atendimento médico deve ser imediato. “Cada minuto conta”, conclui o especialista.
Por: Kátia Gomes | Produção e Revisão: Laís Queiroz
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