A cada 5 de junho, o mundo se volta para uma das maiores agendas globais da atualidade: o meio ambiente. Instituído em 1973 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Mundial do Meio Ambiente transcende fronteiras, unindo governos, organizações e cidadãos em torno de uma causa comum. Neste ano de 2025, o alerta ganha contornos ainda mais urgentes: “Acabe com a Poluição por Plástico” é o tema escolhido, trazendo à tona um dos maiores desafios ambientais do século.
O plástico está em todos os lugares, e essa onipresença já deixou de ser um símbolo de modernidade e conveniência para se tornar um sinal de emergência planetária. O secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma mensagem contundente, lembrou que o plástico não apenas invade oceanos e rios, mas também é encontrado no topo do Monte Everest, no cérebro humano e até no leite materno. Segundo Guterres, “o plástico está sufocando nosso planeta. Ele polui nossos oceanos, entope nossos rios e ameaça a vida selvagem. Está em toda parte.”
Um problema visível, mas ainda subestimado
A ONU estima que, até o final de 2025, o mundo produzirá 516 milhões de toneladas de plástico, número que cresce ano após ano. Mais da metade dessa produção é composta por plásticos descartáveis — sacolas, embalagens, copos, talheres e itens de uso único que, muitas vezes, são utilizados por minutos e permanecem no meio ambiente por séculos.
Esse modelo linear de consumo, baseado no “extrair, produzir, descartar”, entrou em colapso. A natureza não consegue absorver tanto impacto. “É preciso repensar toda a cadeia produtiva. A indústria, o comércio e os consumidores precisam migrar para uma economia circular, onde o resíduo deixa de ser um fim e passa a ser um recomeço”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Coreia do Sul assume protagonismo ambiental em 2025
Neste ano, a ilha de Jeju, na Coreia do Sul, foi escolhida como sede oficial das celebrações. Conhecida por sua rica biodiversidade e paisagens naturais, Jeju se tornou palco de debates e compromissos em torno da urgência ambiental.
A escolha do país asiático reflete seu avanço em políticas de reciclagem e gestão de resíduos, além de simbolizar o crescente papel da Ásia na pauta ambiental global. Eventos, fóruns e encontros bilaterais marcaram a programação, com foco em inovação, ciência ambiental e mobilização popular.
Entre os destaques esteve o Fórum das Gerações Futuras, realizado em 4 de junho, reunindo jovens de diversas nacionalidades para apresentar soluções práticas para a redução do uso de plástico em setores como moda, alimentação, embalagens e transporte. “A juventude é a faísca que pode acender a revolução verde. Precisamos ouvi-la e dar espaço para suas ideias”, defendeu a ministra sul-coreana do Meio Ambiente, Han Wha-jin.
Poluição plástica também afeta as migrações
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) também lançou um alerta importante neste Dia Mundial do Meio Ambiente: a poluição por plástico agrava crises humanitárias. Em áreas costeiras vulneráveis, como ilhas do Pacífico e zonas costeiras da África e da Ásia, a contaminação dos recursos hídricos, a destruição de manguezais e o desaparecimento de espécies afetam diretamente a subsistência de comunidades inteiras.
O resultado? Deslocamentos forçados, aumento da pobreza e novas ondas migratórias. “A crise ambiental é também uma crise humanitária. Não há mais como separar esses mundos”, afirmou Amy Pope, diretora-geral da OIM.
O Brasil e a história da data
O Brasil tem um papel importante na história do Dia Mundial do Meio Ambiente. Em 2012, o país foi sede das celebrações internacionais, sediando eventos no Rio de Janeiro, duas décadas após a emblemática Cúpula da Terra de 1992. Na ocasião, o tema “Economia Verde: Isso Inclui Você?” colocou o país no centro das discussões sobre sustentabilidade e desenvolvimento responsável.
O impacto foi significativo: o site oficial da ONU para o evento registrou mais de 4,25 milhões de acessos, marcando um recorde histórico e demonstrando o engajamento crescente da sociedade.
No ano passado, em 2024, o tema escolhido foi “Nossa Terra. Nosso Futuro. Somos a #GeraçãoRestauração”, com foco na restauração de ecossistemas degradados como ferramenta central no combate à emergência climática. Iniciativas de reflorestamento, recuperação de nascentes e regeneração de solos ganharam força em diversos países, inclusive no Brasil, com destaque para projetos na Amazônia Legal e no Cerrado.
Onde o Brasil mais recicla: São Paulo, Paraná e Santa Catarina lideram
Quando o assunto é reciclagem, o Brasil ainda engatinha em comparação com nações desenvolvidas, mas algumas unidades da federação já se destacam. De acordo com dados recentes da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) e do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), São Paulo lidera o ranking nacional de reciclagem de garrafas PET, seguido de perto por Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais.
São Paulo é responsável por cerca de 25% de todo o volume reciclado no país, graças a um sistema de coleta seletiva relativamente bem estruturado, parcerias com cooperativas e investimentos privados. Já no Sul, a forte cultura de cooperativismo e educação ambiental ajuda a manter índices acima da média nacional.
Mesmo assim, apenas 55% das garrafas PET consumidas no Brasil são recicladas, um índice considerado insuficiente diante da urgência ambiental. Estados do Norte e do Centro-Oeste ainda apresentam taxas bastante baixas, sobretudo por falta de infraestrutura e de políticas públicas eficientes.
Mobilização global começa no cotidiano
Especialistas apontam que a solução para a poluição por plástico passa tanto por acordos globais ambiciosos quanto por mudanças individuais e locais. Evitar o uso de itens descartáveis, optar por produtos reutilizáveis, apoiar empresas com práticas sustentáveis e cobrar políticas públicas são caminhos concretos que todos podem adotar.
“Cada garrafa não reciclada, cada saco plástico descartado sem consciência, é uma oportunidade perdida de proteger o planeta”, resume o engenheiro ambiental João Paulo Grando, da Universidade de Brasília. “Mas cada escolha consciente também é um ato de resistência.”
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o chamado é direto: não há mais tempo para neutralidade diante da crise dos plásticos. A natureza está enviando sinais claros. Cabe à humanidade ouvir e agir.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil
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