Parece que o embate mais eletrizante do BBB é entre o público e os comentaristas de reality. Na ressaca da vitória da bailarina, o comentário no canal WebTVBrasileira foi de que o “povo votou errado e atrapalhou o jogo”. Além disso, o site Notícias da TV alegou que, se fosse considerado apenas o voto único, tudo seria diferente.
Os analistas ainda têm uma visão mais saudosista do game: de quando havia personagens complexos e humanos, com as verdadeiras tretas. Isso, antes da era das redes sociais e do cancelamento. Eles ainda culpam o telespectador de TV, que não vê a repercussão nas redes e tem acesso apenas à edição promovida pela Globo. Porém, hoje, o público ativo e votante é mais conservador e não gosta de quem se posiciona de forma mais incisiva.
Também alegam que os participantes pensam no que fazer depois do jogo e adotam posturas mais “fofas” para não serem cancelados. Mas essa é a forma mais fácil de ser acolhido e atrair as marcas. “O econômico determina o social e o político”, como diria um professor inteligente.
Seria interessante uma análise ou até uma pesquisa mais profunda para entender esse fenômeno. Mas não existe interesse em ouvir a voz rouca das ruas, como diria Fernando Henrique, presidente do Brasil no ano das primeiras edições do BBB.
Essa mudança de paradigma também traduz uma espécie de extinção de personagens mais complexos, até mesmo em outras facetas do entretenimento.
Figuras como Anna Karenina e Madame Bovary sumiram dos livros, assim como as Odetes Roitman, Carminhas e outras deixaram de aparecer nas novelas. E nem é preciso citar a forma como o humor é tratado na telinha. Até mesmo no esporte — um dos últimos bastiões das tretas raiz —, quem ousa promover alguma é cancelado. Vide as indiretas entre Polina e Thaísa após um efervescente Osasco x Minas, válido pela semifinal da Superliga Feminina de Vôlei.
Mas, para a TV e para as marcas, tudo vai muito bem. Notícia do portal Meio & Mensagem informa que a audiência do reality foi excelente, segundo a emissora. Todas as marcas que estamparam seus nomes gostaram da repercussão, e todos os participantes tiveram aumento de seguidores.
Além disso, quem se destacou no game show possivelmente terá contrato com a Globo. Inclusive Daniele Hypólito já foi entrevistada no programa Hello LA do SporTV, que aborda o ciclo dos esportes para as próximas Olimpíadas.
Ou seja: foi bom para a torcida da bailarina, bom para as marcas, bom para os participantes e bom para a emissora. Ruim para quem queria as saudosas tretas — e um entretenimento que, ao que parece, ficou pequeno demais para a casa mais vigiada do Brasil.
Por Paulo Octavio
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