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Sessão de tatuagem em museu histórico de Belém leva à exoneração de servidor

Procedimento foi feito dentro do Palacete Bolonha, patrimônio tombado da Belle Époque paraense

O Palacete Bolonha, um dos mais belos exemplares da arquitetura da Belle Époque amazônica, voltou ao centro das atenções  desta vez, não por sua história ou beleza, mas por um episódio inusitado que levantou questionamentos sobre o uso de espaços públicos e a responsabilidade de gestores culturais.

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) instaurou um inquérito civil para apurar a conduta de Anderson Luis Reis Augusto, ex-diretor da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), após a divulgação de um vídeo em que ele aparece sem camisa, sendo tatuado dentro do Palacete Bolonha, em Belém. A cena, registrada por um tatuador e divulgada nas redes sociais, provocou ampla repercussão e culminou na exoneração do servidor público.

A repercussão e o inquérito

O vídeo mostra Anderson sentado em uma cadeira, em meio ao mobiliário histórico do museu-casa, enquanto o tatuador trabalha em seu braço. O local, destinado a visitas culturais e educativas, é considerado um dos patrimônios mais valiosos da capital paraense, tombado pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Pará (Dpahc) desde 1982.

Segundo o MPPA, a sessão foi realizada para fins estritamente pessoais, sem justificativa institucional ou autorização adequada. Em nota, o órgão destacou que o uso indevido de um bem público de valor histórico “pode afetar o vínculo identitário e emocional de uma coletividade, ainda que não acarrete danos materiais diretos”.

O inquérito foi aberto com base no Conselho Superior do Ministério Público, que pretende apurar responsabilidades e garantir a preservação do patrimônio cultural. O caso também reacendeu debates sobre a fragilidade das políticas de preservação e a necessidade de maior controle sobre o uso de espaços públicos de relevância histórica.

Exoneração imediata

A Prefeitura de Belém confirmou a exoneração de Anderson Reis, publicada no Diário Oficial do Município do dia 22 de outubro, e repudiou o episódio. Em nota, afirmou que “a decisão foi tomada após constatação do uso indevido das dependências e do mobiliário do Museu Casa Francisco Bolonha. A Prefeitura de Belém repudia qualquer conduta incompatível com o serviço público”.

A exoneração foi assinada pelo prefeito Igor Normando (MDB). Internamente, a Semcult informou que revisará as regras de acesso e uso de seus espaços culturais, reforçando a necessidade de autorização formal para quaisquer gravações, ensaios ou ações artísticas.

O que dizem os envolvidos

O tatuador Dan Quixote, responsável pelo procedimento, divulgou uma nota em que afirma que a sessão fazia parte da série autoral “Tatuagens por Belém”, cujo objetivo seria valorizar locais históricos da cidade. Segundo ele, a gravação tinha propósito cultural e artístico, e não comercial ou promocional.

Dan também declarou que apresentou o projeto à direção do Palacete Bolonha, obtendo autorização do então diretor Anderson Reis. Disse ainda que não houve pagamento ou uso de recursos públicos, e que todos os protocolos de biossegurança foram seguidos.

O espaço foi devolvido exatamente como foi encontrado, sem danos ao acervo ou ao mobiliário. Nosso intuito era apenas mostrar a beleza e a história de Belém por meio da arte da tatuagem”, afirmou o tatuador.

Apesar da justificativa, o MPPA reforça que o caráter simbólico e histórico do local exige um tratamento especial, e que o uso de bens tombados para fins particulares  mesmo sem prejuízo material  viola princípios de administração pública e de proteção cultural.

O valor histórico do Palacete Bolonha

Construído entre 1905 e 1908, o Palacete Bolonha foi idealizado pelo engenheiro e empresário Francisco Bolonha como presente para sua esposa, Alice Ten Brink. Inspirado na opulência europeia, o edifício reflete a influência da arquitetura francesa e italiana na Belém da época, marcada pelo ciclo da borracha.

Localizado na Avenida Governador José Malcher, no bairro de Nazaré, o prédio tornou-se símbolo da prosperidade e do refinamento da elite paraense do início do século XX. Seu interior ostenta vitrais coloridos, mármores importados, esculturas e uma escadaria central em ferro fundido, elementos que o transformaram em ícone da Belle Époque amazônica.

Tombado em 2 de julho de 1982, o imóvel é considerado bem cultural de valor inestimável para o Pará. Após um longo processo de restauração concluído em 2020, o espaço passou a abrigar o Museu Casa Francisco Bolonha, sob responsabilidade da Semcult, destinado a exposições, visitas educativas e eventos culturais.

O caso levantou discussões sobre os limites entre expressão artística e responsabilidade pública. Enquanto alguns defendem que o projeto do tatuador tinha valor cultural e simbólico, outros enxergam negligência e desrespeito à memória coletiva.

Reflexos e novas medidas

Desde a repercussão do caso, o Palacete Bolonha teve aumento no número de visitantes, em parte, pela curiosidade despertada nas redes sociais. Ainda assim, a administração municipal reforçou que nenhum uso não autorizado será permitido daqui em diante.

A Semcult afirmou que pretende implementar um manual de uso e conduta para espaços culturais, com regras claras sobre produções audiovisuais, eventos e ações artísticas. A medida visa preservar o caráter educativo e histórico dos museus municipais.

Enquanto o inquérito segue em andamento, o MPPA informou que poderá recomendar sanções administrativas ou propor ações de responsabilidade civil caso seja comprovado que houve violação à legislação de proteção do patrimônio.

Um episódio que vai além da tatuagem

O que parecia um ato simbólico para unir arte corporal e patrimônio histórico acabou se transformando em uma crise institucional e em alerta para a gestão pública de bens culturais.

O caso do Palacete Bolonha mostra como a fronteira entre o artístico e o administrativo pode ser tênue, especialmente quando envolve figuras públicas. Também expõe a necessidade de maior educação patrimonial, tanto por parte dos gestores quanto da população.

No fim, o episódio deixa lições sobre o papel dos espaços históricos na construção da identidade coletiva. Mais do que edifícios de valor arquitetônico, os patrimônios culturais representam memórias compartilhadas, que precisam ser respeitadas mesmo quando o propósito é a arte.

Por Alemax Melo I Revisão: Revisão: Daniela Gentil

VEJA TAMBÉM: Servidores do transporte coletivo paralisam parcialmente as atividades em Manaus

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Marcia Dantas

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