O número de famílias que contraíram dívidas em 2025 mantêm crescimento contínuo desde fevereiro e alcançou 79,5% em outubro. Este é apontado como o maior percentual da história, de acordo com a pesquisa da Confederação Nacional do Comércio. Os débitos no geral são em cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.
Já a inadimplência permaneceu estável. No entanto, projeções da CNC indicam o crescimento do endividamento nos próximos meses. Se isso se manter, as famílias devem encerrar o ano de 2025 mais endividadas que no final do ano passado.
Estabilidade da inadimplência acende alerta
De acordo com o educador financeiro Leandro Trajano, palestrante e autor de livros sobre planejamento financeiro, essa estabilidade não pode ser entendida como sinal de melhora.

“Essa estabilidade não indica melhora. É muito mais um sinal de alerta de uma estabilidade em um nível que indica corda no pescoço.”
Para Trajano, o endividamento é resultado da junção de vários fatores ao longo do ano. Segundo o especialista, o custo de vida mais alto acaba colaborando para que as famílias recorram ao crédito, que continuou sendo oferecido sem qualquer restrição, só que mais caro, com juros maiores.
“A partir do momento em que as pessoas continuam pegando o crédito só que os juros estão maiores, esmaga-se mais o poder de compra. Os prazos, muitas vezes, ficaram menores. Então, prazos menores com juros mais altos acabaram tomando uma parcela maior do salário. E isso fez o endividamento aumentar”, detalha.
Indicadores mostram piora na capacidade de pagamento
A pesquisa também mostrou um aumento na percepção de endividamento: o percentual de famílias que se consideram muito endividadas subiu para 16,5%, o maior nível desde agosto de 2024, quando havia atingido 16,8%.
O maior endividamento em outubro manteve estabilidade, no entanto, as famílias que não possuem condições de regularizar a situação financeira subiu para 13,2% – maior número já registrado no histórico da pesquisa.
Já o percentual de famílias com permanência das dívidas por mais de um ano teve aumento pelo segundo mês consecutivo e atingiu 31,1%. A consequência disso é que muitas delas acabam pagando mais no pagamento a prazo por conta dos juros, levando em média 7,2 meses para quitar as dívidas.
Famílias que permanecem inadimplentes por mais de 90 dias avançou de um percentual de 48,7% para 49,0%. O caso fica ainda mais alarmante quando percebemos que mesmo com maior parcelamento das dívidas as famílias que ficam com mais da metade dos rendimentos comprometidos teve aumento de 18,8% para 19,1% pelo segundo mês.
“Se a pessoa percebe que está em situação de endividamento e inadimplência, precisa tomar atitudes. Costumo dizer que, se a pessoa está dentro do buraco, precisa parar de cavar e reconhecer a situação”, exemplifica Leandro.
Crédito caro empurra famílias para parcelar até itens essenciais
Os dados do Banco Central mostram que a inadimplência de 90 dias chegou a 6,8%, o maior nível desde 2012. Isso significa que há R$ 157 bilhões em dívidas atrasadas, o maior valor da história.
No consumo, o acesso ao crédito das famílias ficou estável, mas a disposição para comprar bens duráveis, como fogão, geladeira, móveis, caiu. Isso indica que, apesar do crédito movimentar o comércio, a alta inadimplência já está segurando o consumo.
Depois da dívida contraída as famílias se vêem em dificuldade para garantir itens básicos para sua subsistência. Isso ocorre pela elevação dos juros nos créditos concedidos comprometendo parte significativa do orçamento familiar colocando-os em parcelamentos longos que acabam virando uma bola de neve.
“Não falo nem de consumo de supérfluo, mas de consumo básico de moradia, alimentação, saúde e higiene. Isso reduz o poder de compra. Acaba que muitas famílias ficam sem saída e acabam parcelando compras básicas “, comenta Trajano.
A projeção é que, nos próximos meses, tanto o endividamento quanto a inadimplência continue subindo, e que 2025 termine com as famílias mais endividadas e com mais contas atrasadas do que no ano passado. Para 2026 o que esperar? Leandro Trajano é enfático:
“O endividamento deve se manter em um mesmo patamar. A gente deve manter a taxa de juros em um patamar ainda alto. Existirá crédito mas, por falta de educação financeira, muita gente vai aderir a esse crédito mesmo sem ter condições de honrar o compromisso”, finaliza.
Por Daniela Gentil | Revisão: Lais Queiróz
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