A inadimplência no ensino superior privado atingiu 8,73% no primeiro semestre de 2025, segundo a 17ª Pesquisa de Inadimplência do Ensino Superior Privado, divulgada pelo Instituto Semesp, em parceria com a Principia. Apesar de representar uma queda de 1,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, o índice ainda é um dos mais altos entre todos os setores da economia brasileira.
O levantamento ouviu 293 instituições de ensino superior (IES), que juntas representam 42,5% dos alunos de graduação do país. O estudo mostra que, embora o cenário tenha apresentado leve melhora, a inadimplência continua afetando especialmente as instituições de pequeno porte, onde o índice ultrapassa 12%.
Cursos presenciais puxam a recuperação
Segundo o Semesp, a redução geral foi impulsionada principalmente pelos cursos presenciais, que apresentaram melhor desempenho financeiro no período. Em contrapartida, o ensino a distância (EAD) teve aumento de 8,4% na inadimplência, movimento associado às mudanças no marco regulatório e às instabilidades no setor.
Entre as graduações mais afetadas, Direito e Administração continuam liderando o ranking de inadimplência. A novidade é o curso de Medicina, que agora aparece na quarta posição.
De acordo com o Semesp, essa mudança reflete uma transformação no perfil financeiro dos estudantes de Medicina. “A judicialização dos processos de abertura de novos cursos e os incentivos para atrair novos alunos, com a oferta de bolsas, mudaram completamente a dinâmica da inadimplência em Medicina”, explicou Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp.
Perda de renda ainda é o principal motivo
Os motivos mais citados para o atraso no pagamento das mensalidades seguem ligados à instabilidade financeira dos estudantes e de suas famílias.
Entre as causas mais apontadas pelas IES estão:
- Perda de emprego ou redução de renda (62,8%)
- Falta de planejamento financeiro (58,1%)
- Aumento de despesas familiares (44,2%)
- Problemas de saúde (32,6%)
- Atraso no pagamento de salário ou ajuda familiar (30,2%)
- Outros financiamentos pessoais, como carro, casa e moto (30,2%)

Esses fatores, segundo o estudo, mostram que a inadimplência estudantil ainda reflete a fragilidade econômica das famílias brasileiras, especialmente entre as classes C e D, que concentram a maior parte dos alunos do ensino superior privado.
Apostas online começam a preocupar instituições
Um dos pontos que mais chamaram atenção nesta edição da pesquisa foi o impacto das apostas online (bets) na vida financeira dos estudantes.
O estudo aponta que 19,1% das instituições já identificam relação direta entre o comportamento de apostas e a inadimplência. A preocupação das IES com o tema atingiu nível médio de 5,1, em uma escala de 0 a 10. Ainda assim, a maioria (71,4%) das instituições não investigou o tema com profundidade.
“Vamos investigar novamente o impacto das apostas online (bets) na vida financeira dos estudantes. Nesta pesquisa, elas têm influência, mas representam cerca de 7% dos casos efetivos. O grande problema continua sendo o desemprego e a queda de renda”, ponderou Capelato.
Panorama de alerta para o setor
Mesmo com a leve queda observada no primeiro semestre, o cenário segue desafiador para as instituições de ensino superior privadas. O endividamento das famílias, aliado à alta rotatividade de alunos e à concorrência crescente no setor, mantém a inadimplência em patamar elevado.
Para o Semesp, o acompanhamento próximo da situação financeira dos estudantes e políticas de renegociação e apoio psicológico podem ajudar a mitigar os impactos e evitar o aumento do abandono escolar.
A pesquisa reforça que, apesar de uma melhora pontual, a inadimplência estudantil ainda é um dos principais obstáculos para a sustentabilidade do ensino superior privado no Brasil.
Por: Laís Queiroz | Revisão: Pietra Gomes
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