O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, em entrevista à BBC News e à BBC News Brasil nesta quarta-feira (17), que a relação entre seu governo e a gestão de Donald Trump praticamente inexiste. Segundo ele, o presidente americano “não quer conversar” com o Brasil e prefere manter proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Não tem relação”, resumiu Lula ao ser questionado sobre o atual contato com Trump. “A relação dele é com o Bolsonaro, e não com o Brasil”, acrescentou.
Tarifas e atritos comerciais
Desde 6 de agosto, os Estados Unidos aplicam tarifas de 50% sobre uma lista de produtos brasileiros, como café, carne bovina e equipamentos de engenharia civil. O pacote atinge mercadorias que, somadas, representam mais da metade das exportações brasileiras ao mercado norte-americano.
A Casa Branca argumenta que a medida tem múltiplos motivos: críticas às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre redes sociais, que, segundo Trump, prejudicam empresas americanas; o impacto do sistema Pix; e ainda a condenação de Bolsonaro por envolvimento em tentativa de golpe. Para o republicano, o ex-presidente estaria sendo vítima de uma “caça às bruxas” no Brasil.
Sanções e pressão política
O episódio também ocorre em meio às investidas do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra nos Estados Unidos para pressionar o governo Trump a agir contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que resultou na condenação de seu pai no STF.
Em resposta, os EUA já aplicaram restrições de visto ao magistrado e incluíram seu nome na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, que impõe bloqueios financeiros a pessoas acusadas de violações de direitos humanos.
Apesar do impasse, Lula garantiu que seu governo não se fechou ao diálogo. Segundo ele, ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) vêm tentando há quatro meses estabelecer uma agenda de negociação.
“Nós tentamos entrar em contato muitas vezes. No dia 16 de maio, inclusive, enviamos uma carta cobrando resposta sobre as conversas já realizadas”, afirmou. Lula também criticou o fato de a primeira comunicação de Trump sobre as tarifas ter sido divulgada diretamente em suas redes sociais, sem passar pelos canais diplomáticos.
Questionado sobre um contato direto com o presidente americano, Lula disse que não telefonou porque “ele nunca quis conversar”. Em agosto, Trump havia afirmado que o brasileiro poderia ligar “a qualquer momento”, mas Lula respondeu que “o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo”.
Para o petista, apenas um ponto não entra na mesa de negociação: “O que não tem negociação é a questão da soberania nacional”, concluiu.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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