Em 3 de novembro de 1957, uma cadela sem dono nas ruas de Moscou entrou para a história e memória da humanidade. Laika, uma vira-lata de cerca de dois anos, foi o primeiro ser vivo a orbitar a Terra. O feito, que marcou o avanço da corrida espacial, também se tornou símbolo do custo humano (e animal) da ciência em tempos de disputa política e tecnológica.
A missão Sputnik 2
A bordo do foguete soviético Sputnik 2, Laika partiu rumo ao espaço como parte do projeto da União Soviética para comprovar que um organismo vivo poderia sobreviver em órbita. O lançamento aconteceu apenas um mês após o sucesso do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da Terra.
Dessa vez, a ambição era ainda maior: levar um ser vivo para fora do planeta e abrir caminho para as futuras viagens espaciais humanas. Mas a missão tinha um problema crucial: não havia plano de retorno. A tecnologia para trazer a nave de volta em segurança ainda não existia.
Morte em órbita
Segundo a Nasa, a cadela sobreviveu somente algumas horas após o lançamento. O superaquecimento da cabine e o estresse causado pelas condições extremas do voo levaram à sua morte. Por décadas, o governo soviético afirmou que Laika havia resistido por dias, até o fim do oxigênio. Só em 2002 foi revelada a verdade: ela morreu poucas horas depois da decolagem.
Acredita-se que uma falha no sistema de separação do foguete contribuiu para o aumento de temperatura dentro da cápsula, tornando o ambiente insuportável.
Experimento que abriu caminhos
Apesar da tragédia, a missão cumpriu um papel fundamental para o avanço da exploração espacial. Na época, pouco se sabia sobre como os seres vivos reagiriam à microgravidade e às condições fora da atmosfera terrestre.
O experimento com Laika ajudou cientistas a entenderem os efeitos fisiológicos e psicológicos de uma viagem espacial, permitindo que, anos depois, a União Soviética enviasse o primeiro homem (Yuri Gagarin, em 1961) e a primeira mulher (Valentina Tereshkova, em 1963) ao espaço.
Antes de Laika, já haviam sido realizadas outras experiências: moscas lançadas pelos Estados Unidos em 1947 e dois cães, Dezik e Tsygan, enviados pelos soviéticos em 1951 em voos suborbitais.
Legado e homenagem
Décadas depois, Laika segue lembrada como símbolo de coragem e sacrifício. Em 11 de abril de 2008, um monumento foi inaugurado em Moscou, perto do centro de pesquisa militar que preparou seu voo. A escultura mostra a figura de um cão em pé sobre um foguete, uma forma de reconhecer o papel da cadela que, mesmo sem retorno, abriu as portas do espaço para a humanidade.
Laika também está eternizada no Monumento aos Conquistadores do Cosmos, em Moscou. Seu nome segue na história, como lembrança de um tempo em que o desejo de explorar o desconhecido se sobrepôs aos limites éticos, mas também deu início a uma nova era de descobertas.
Por: Laís Queiroz | Revisão: Pietra Gomes
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