Um forte terremoto de magnitude 6,7 atingiu na noite deste domingo (9) a costa nordeste do Japão, levando a Agência Meteorológica do Japão (JMA) a emitir um alerta de tsunami para a província de Iwate. O abalo foi sentido em diversas cidades da região de Tohoku, onde sirenes e mensagens de emergência acionaram imediatamente a evacuação de moradores das áreas costeiras.
De acordo com a JMA, o tremor ocorreu por volta das 17h03, horário local (5h03 de Brasília), com epicentro no mar, a leste da costa de Iwate. O órgão registrou uma profundidade de cerca de 60 quilômetros e classificou a intensidade máxima em nível 4 na escala japonesa de tremores suficiente para balançar edifícios e interromper temporariamente serviços de transporte.
As autoridades japonesas orientaram a população a se afastar imediatamente da costa e da foz de rios, por causa do risco de ondas repentinas ou transbordamentos. “Aqueles que estão próximos ao litoral devem buscar abrigo em locais elevados e permanecer atentos às informações oficiais”, reforçou o comunicado da JMA.
Evacuação em massa e cenas de alerta
Na cidade de Ofunato, uma das mais próximas do epicentro, as sirenes soaram pouco após o abalo. A prefeitura emitiu uma ordem de evacuação para 6.138 pessoas em 2.825 residências das áreas mais vulneráveis, próximas ao mar e aos rios que deságuam na baía.
Outros municípios Kamaishi, Otsuchi e Rikuzentakata também determinaram a saída imediata de moradores que vivem “fora dos diques”, as barreiras de concreto erguidas para conter o avanço do mar.
O sistema de alto-falantes, comum nas cidades japonesas, repetia a mesma mensagem em intervalos curtos: “Um tsunami pode atingir a costa. Afaste-se imediatamente da área costeira.” Em alguns portos, pescadores e equipes de resgate se apressaram em deslocar barcos e equipamentos para pontos seguros.
Pequenos tsunamis de cerca de 20 centímetros foram registrados no porto de Ofunato e na cidade de Kuji, conforme medições da JMA. Apesar da altura modesta, a agência alertou que ondas subsequentes poderiam ser maiores, e que correntes marítimas anormais representavam risco para quem permanecesse próximo ao litoral.
Reação do governo japonês
A primeira-ministra Sanae Takaichi divulgou uma mensagem nas redes sociais pouco depois do tremor. Segundo ela, um escritório de ligação para emergências foi instalado na Residência Oficial do Primeiro-Ministro para reunir informações e coordenar as ações de resposta.
“Foi emitido um alerta de tsunami, portanto, por favor, deixem a costa imediatamente. O tsunami que chegar poderá ser maior do que o esperado. Existe também a possibilidade de réplicas. Continuem atentos a tremores fortes”, escreveu Takaichi.
O governo central determinou o envio de equipes da Força de Autodefesa do Japão (SDF) e do Departamento de Bombeiros para as cidades costeiras de Iwate, a fim de apoiar eventuais resgates. O alerta de tsunami permaneceu em vigor por cerca de três horas e foi suspenso quando as medições confirmaram que o risco imediato havia diminuído.
Ainda assim, as autoridades locais mantiveram o estado de vigilância e recomendaram que os moradores não retornassem às suas casas até o amanhecer, devido à possibilidade de réplicas.
Trens suspensos e inspeção em usinas nucleares
A empresa ferroviária JR East suspendeu temporariamente o serviço do trem-bala Shinkansen na rota que liga Tóquio à cidade de Morioka, capital da província de Iwate, para inspeção de trilhos e estruturas. O tráfego aéreo, no entanto, não foi afetado.
Segundo a Tokyo Electric Power Company (TEPCO), as inspeções nas usinas nucleares de Fukushima Daiichi e Daini não apontaram anomalias. O Japão mantém um rígido protocolo de segurança desde o desastre nuclear de 2011, quando um terremoto de magnitude 9,0 e o subsequente tsunami devastaram a região e causaram o colapso da central de Fukushima.
Um país em alerta permanente
A costa nordeste japonesa é uma das mais monitoradas do mundo. Situado no chamado Anel de Fogo do Pacífico, o Japão registra cerca de 20% de todos os terremotos de magnitude 6 ou superior do planeta. A região de Iwate, em especial, está sobre a junção das placas tectônicas do Pacífico e da Eurásia, o que explica sua alta frequência de abalos.
Desde 2011, o governo investiu bilhões de ienes na construção de novos diques, sirenes automáticas, rotas de evacuação e sistemas de alerta integrados. Essas medidas reduziram consideravelmente o tempo de resposta em emergências um fator decisivo para salvar vidas.
“Mesmo um pequeno tsunami pode ser perigoso. O que aprendemos com o passado é que cada segundo conta. A evacuação imediata é a melhor proteção”, afirmou Kenji Matsumoto, pesquisador do Instituto Nacional de Prevenção de Desastres do Japão, em entrevista à NHK.
População em prontidão
Relatos da imprensa local mostram que a população reagiu com calma, mas em alerta. Em Kamaishi, abrigos escolares foram abertos em menos de 10 minutos após o aviso da JMA. Famílias inteiras, envoltas em cobertores e máscaras, aguardavam instruções enquanto acompanhavam as notícias em televisores portáteis.
Para muitos japoneses, o episódio deste domingo serviu como lembrete da vulnerabilidade do país e da importância de manter a preparação constante. Kits de emergência, rotas de fuga e pontos de encontro familiares fazem parte da rotina em grande parte das residências.
Sem registros de vítimas ou danos graves
Até o fechamento desta reportagem, não havia registro de feridos graves ou danos significativos em infraestruturas. Pequenos deslizamentos e interrupções temporárias de energia foram relatados em algumas áreas rurais, mas a situação foi controlada rapidamente.
O alerta de tsunami foi cancelado por volta das 20h, e os moradores começaram a retornar gradualmente às suas casas, ainda sob recomendação de cautela. “Mesmo que o risco maior tenha passado, precisamos manter a atenção nas próximas horas”, disse um porta-voz do governo provincial de Iwate.
O peso da memória de 2011
A lembrança do grande terremoto e tsunami de 11 de março de 2011, que deixou cerca de 20 mil mortos e desaparecidos, ainda está viva entre os moradores da região. Iwate foi uma das províncias mais atingidas naquela tragédia, e sua reconstrução levou anos.
Desde então, o Japão aprimorou sistemas de alerta, construiu novos refúgios elevados e desenvolveu uma das redes sísmicas mais avançadas do mundo. Hoje, alertas automáticos chegam aos celulares segundos antes da chegada das ondas sísmicas, dando à população tempo precioso para se proteger.
“Cada vez que a terra treme, o coração aperta”, disse Haruto Saito, professor de ensino médio em Rikuzentakata. “Mas também aprendemos a reagir rápido. A preparação salva vidas, e isso é algo que o Japão inteiro entende hoje.”
Expectativa e vigilância
Especialistas afirmam que o tremor de domingo não deve causar danos estruturais relevantes, mas que réplicas moderadas podem continuar nos próximos dias. A JMA segue monitorando a região 24 horas por dia e atualizando previsões em tempo real.
Por ora, a rotina começa a ser retomada em Iwate. Escolas e comércios abrirão normalmente nesta segunda-feira (10), e equipes de inspeção seguem avaliando estruturas de pontes, portos e estradas.
O tremor de 6,7 revisado para 6,9 por alguns institutos deixa o país em mais uma prova de resistência, mas também evidencia o alto grau de preparo que o Japão construiu ao longo das últimas décadas. Em uma nação acostumada a conviver com a instabilidade da terra, cada alerta serve como exercício real de sobrevivência e memória.
Por Alemax Melo | Revisão : Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Governo enviará ajuda humanitária ao Paraná após ciclone extratropical



