Mesmo fora da lista dos produtos atingidos diretamente pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, o suco de laranja brasileiro não escapou dos efeitos do tarifaço. A conta pode chegar a R$ 2,9 bilhões, segundo estimativas da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).
O problema está nos chamados subprodutos da laranja, como os “gominhos” (células cítricas) e os óleos essenciais usados em bebidas, perfumes e cosméticos. Esses itens receberam a tarifa máxima e, na prática, perderam viabilidade econômica para exportação.
Na safra anterior, só esses produtos renderam quase R$ 1 bilhão em receita, agora, esse montante está praticamente comprometido.
“Embora o setor esteja aliviado por ter sido incluído na lista de exceções, os impactos são significativos, principalmente em um contexto de mercado desafiador como o deste ano”, afirma o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto.
Peso do suco in natura e queda nos preços
Mesmo o suco in natura, incluído entre as exceções, foi atingido por uma tarifa menor, de 10%. Isso representa perdas adicionais de mais de R$ 560 milhões.
Além disso, o setor enfrenta outro desafio: a forte queda nos preços internacionais. O Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) aponta que a oferta de frutas cresceu 36% em relação à safra passada. Com isso, o preço médio da tonelada exportada para os EUA caiu de US$ 4.243 para US$ 3.387 no início de agosto — uma redução de mais de 20%.
Mantidos os volumes, essa desvalorização gera prejuízo adicional de US$ 261,8 milhões (R$ 1,43 bilhão).
Impactos também para os EUA
Nos Estados Unidos, os efeitos também podem ser sentidos pelos consumidores e pela indústria local. Cerca de 58% do suco de laranja vendido no país é reconstituído a partir de concentrado importado.
“Muitos desses produtos dependem de ingredientes como células cítricas e óleos essenciais responsáveis pelo aroma. Esses insumos estão sobretaxados em 50%, o que inviabiliza a operação”, explica Netto.
Segundo ele, a sobretaxa pode encarecer o produto final, reduzir a qualidade e até prejudicar empresas americanas que dependem do insumo brasileiro.
Setor em alerta
Combinando tarifas mais altas e retração nos preços internacionais, o cenário é de incerteza. O setor, que já convive com oscilações de safra e custos de produção elevados, agora enfrenta um impacto que pode ultrapassar os R$ 2,9 bilhões.
Ou seja, mesmo escapando do imposto mais pesado, o Brasil amarga um cenário de perdas bilionárias, vê seus produtos encarecerem lá fora e ainda sofre com a desvalorização da laranja no mercado internacional.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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