A Polícia Civil realizou nesta quinta-feira (9) a exumação do corpo de Neil Corrêa da Silva, de 65 anos, aposentado que morreu em abril após comer uma feijoada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O procedimento ocorreu no Cemitério Memorial do Rio, em Cordovil, e busca confirmar se o idoso foi envenenado com terbufós, substância encontrada na casa de uma das suspeitas.
As investigações apontam que o crime teria sido planejado por Michele Paiva da Silva, de 43 anos, filha da vítima, com a ajuda da ex-colega de escola Ana Paula Veloso Fernandes, moradora de Guarulhos (SP).
De acordo com o inquérito, Michele teria pago R$ 4 mil para que Ana Paula viajasse ao Rio de Janeiro e executasse o plano. Ambas estavam presentes na casa de Neil no dia em que a feijoada foi servida.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) identificou que o caso pode estar relacionado a outros três homicídios em São Paulo, também por envenenamento, atribuídos a Ana Paula. O delegado Halisson Ideião Leite, do 1º Distrito Policial de Guarulhos, informou que a suspeita possui formação na área da saúde e calculava doses e efeitos do veneno com precisão.
Durante depoimento, Ana Paula confessou ter testado o terbufós em cerca de dez cães antes de usá-lo contra humanos. O agrotóxico, com efeito semelhante ao “chumbinho”, é altamente tóxico e de uso restrito na agricultura.
O produto foi apreendido na residência dela, em Guarulhos, durante buscas policiais. A suspeita admitiu ainda ter participado de outros casos de envenenamento, inclusive uma tentativa envolvendo um bolo contaminado em uma faculdade.
A irmã gêmea de Ana Paula, Roberta Cristina Veloso, também teve prisão temporária decretada por suspeita de colaborar com o plano contra Neil. As duas viajavam juntas entre São Paulo e o Rio.
O crime
Segundo as investigações, a substância teria sido misturada à feijoada servida na casa do aposentado. Testemunhas relataram que, logo após a refeição, Neil começou a sentir fortes convulsões e foi levado ao Hospital Adão Pereira Nunes, onde morreu horas depois.
A certidão de óbito inicialmente registrou insuficiência respiratória aguda e complicações diabéticas, mas os relatos levantaram suspeitas de envenenamento.
Agentes encontraram na cozinha uma panela com restos da feijoada em posição incomum, o que reforçou a hipótese de manipulação proposital.
Peritos do Instituto Médico-Legal (IML) recolheram amostras de tecidos para análises toxicológicas detalhadas, que devem confirmar se houve contaminação por terbufós.
A quebra de sigilo telefônico autorizada pela Justiça revelou mensagens trocadas entre Michele e Ana Paula com detalhes sobre a viagem, a refeição e o uso do veneno.
Michele foi presa na porta da faculdade onde estudava Direito, no Rio de Janeiro. Ela também trabalhava como motorista de ônibus e nega o crime.
Parentes informaram à polícia o desaparecimento de cerca de R$ 4,5 mil que Neil guardava em casa, o que pode indicar motivo financeiro para o homicídio.
Ana Paula está presa preventivamente desde julho, em São Paulo, e já foi denunciada pelo Ministério Público por três mortes anteriores atribuídas ao mesmo método.
Conexão entre crimes
A cooperação entre as polícias do Rio e de São Paulo revelou semelhanças no modo de agir: todas as vítimas teriam ingerido alimentos contaminados com agrotóxicos potentes.
As autoridades acreditam que Ana Paula atuava como executora em diferentes casos, recebendo valores para realizar os envenenamentos.
O delegado Renato Martins, que coordena as investigações no Rio, informou que os resultados preliminares das análises toxicológicas devem ser divulgados nas próximas semanas.
A confirmação dos laudos será decisiva para definir as acusações contra Michele Paiva da Silva e Ana Paula Veloso Fernandes.
Por Katia Gomes | Revisão: Redação MD News
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