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Elevador da Glória: relatório preliminar revela cabo inadequado e falhas na manutenção

O problema não foi detectado pelos mecanismos de controle interno da empresa

Um novo relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) apontou uma soma de falhas técnicas e organizacionais como pano de fundo do acidente com o Elevador da Glória, em Lisboa, que causou 16 mortos e cerca de duas dezenas de feridos no dia 3 de setembro de 2025.

O documento, divulgado na segunda-feira (20), revela que o cabo de tração que se rompeu, levando ao descarrilamento e colisão do bondinho nº1, “não estava conforme com a especificação da CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa) para utilização no Ascensor da Glória”, “não estava certificado para utilização em instalações para o transporte de pessoas” e “não era indicado para ser instalado com destorcedores nas suas extremidades”.

Falhas do cabo e na manutenção

Ainda segundo o GPIAAF, “a utilização de cabos multiplamente desconformes com as especificações e restrições de utilização deveu-se a diversas falhas acumuladas no seu processo de aquisição, aceitação e aplicação pela CCFL”. A investigação apurou que, durante o processo de compra em março de 2022, a Carris enviou aos fornecedores, por um erro inexplicado, as especificações de cabos destinados ao Elevador de Santa Justa, e não as corretas para o Elevador da Glória.

No entanto, o relatório ressalva que “cabos iguais estiveram em uso durante 601 dias no Ascensor da Glória (e 606 dias no Ascensor do Lavra), sem incidentes”, concluindo, por esse motivo, “não é possível neste momento afirmar se as desconformidades na utilização do cabo são ou não relevantes para o acidente”.

A investigação também focou a manutenção, da qual é responsável uma empresa terceirizada, prestadora de serviços (identificada noutras comunicações como MNTC) desde 2019. O GPIAAF constatou que “há evidências de que tarefas de manutenção registadas como cumpridas nem sempre correspondem às tarefas efetivamente realizadas”. Especificamente sobre o dia do acidente, “as inspeções previstas (…) estão registadas como executadas (…), mas as evidências não suportam o período horário indicado nas folhas de trabalho para a sua execução”. A investigação apurou ainda que “no dia do acidente o cabo não foi observado no fosso, nem tal estava previsto nos procedimentos de manutenção”.

Freios ineficazes e falta de supervisão

Outro ponto crítico identificado foi a ineficácia do sistema de frenagem de emergência. O relatório afirma que, após a rotura do cabo, o sistema de segurança que corta a energia atuou devidamente, mas o sistema de frenagem dos bondinhos não foi eficaz para as imobilizar, apesar de no bondinho nº1 todos os existentes, automáticos e manuais, terem sido aplicados”. O GPIAAF notou que “não há memória na CCFL de alguma vez ter sido testado o freio de emergência na situação de falha no cabo” e que existia entre técnicos a percepção de que “a segurança do sistema dependia inteiramente do cabo”.

O relatório também destacou falhas no enquadramento legal e de supervisão. O Elevador da Glória (e o do Lavra, de tecnologia similar) foi considerado excluído da legislação europeia e nacional que regula e supervisiona instalações por cabo, primeiro por ser equiparado a um “carro elétrico de tipo tradicional” e, posteriormente, por ser um monumento nacional histórico. Consequentemente, “os aspetos de segurança da operação de ambos os ascensores encontravam-se à exclusiva responsabilidade da CCFL (…) sem estarem supervisionados por qualquer entidade independente”.

Apuramento de responsabilidades

Em reação ao relatório, a Prefeitura de Lisboa, liderada por Carlos Moedas, afirmou, conforme declaração escrita: “ao contrário da politização que alguns fizeram durante a campanha, este relatório reafirma que a infeliz tragédia do Elevador da Glória foi derivada de causas técnicas e não políticas”.

Já a CARRIS, em comunicado, defendeu-se das conclusões. A empresa transportadora salientou que “o processo de aquisição (dos cabos), com alegadas inconformidades, (…) ocorreu em mandato anterior ao do presente Conselho de Administração”, que desconhecia a “factualidade” exposta no relatório.

Sobre a manutenção, a organização afirmou que a empresa terceirizada, prestadora de serviços “poderá não ter cumprido devidamente o contrato” e que este incumprimento “nunca foi reportado pela Direção de Manutenção do Modo Elétrico, nem pelo Gestor do Contrato”. Na mesma nota, informa ainda que “o Diretor de Manutenção do Modo Elétrico foi, entretanto, demitido” e que estão apurando as respectivas responsabilidades.

A CARRIS discordou da conclusão sobre a sua exclusiva responsabilidade na segurança da operação, argumentando que “a regulação técnica e respetiva supervisão do Ascensor da Glória deve incumbir muito claramente à entidade da administração indireta do Estado (…), atualmente o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres)”.

Recomendações imediatas

O GPIAAF anunciou que emitirá recomendações de segurança formais. Para a CARRIS, as áreas focadas serão a revisão do controle interno para componentes críticos, a avaliação da implementação de um sistema de gestão de segurança, a clarificação e fiscalização das obrigações do prestador de manutenção e a não reabertura dos restantes elevadores sem uma reavaliação, por entidade especializada, das fixações do cabo e dos sistemas de frenagem.

Ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), o GPIAAF recomendará a promoção de um quadro legislativo que garanta que todos os funiculares e sistemas similares, bem como os elétricos que circulam em via pública, estejam devidamente enquadrados do ponto de vista técnico e de supervisão independente.

O Governo português anunciou, através da Secretaria de Estado da Mobilidade, que o IMT já se encontra a elaborar uma proposta de diploma para “reforçar e consolidar a regulação e fiscalização” dos sistemas de transporte, uma iniciativa solicitada na sequência da tragédia.

O GPIAAF reitera que o relatório é preliminar e que apenas o relatório final, a ser publicado até um ano após a ocorrência, apresentará “conclusões definitivas sobre os fatores causais e contribuintes do acidente”.

Por Eduardo Carvalho – Correspondente MD News em Portugal | Revisão: Pietra Gomes

LEIA TAMBÉM: Cabo que unia bondinhos do Elevador da Glória cedeu e freios não impediram acidente, aponta relatório

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