O Museu do Louvre, em Paris, considerado o maior e mais visitado museu do mundo, enfrenta uma crise de credibilidade após a revelação de falhas graves em seu sistema de segurança. Auditorias privadas, obtidas pelo grupo CheckNews e publicadas pelo jornal Libération no último sábado (1º), mostram que a senha do sistema de vigilância do museu era simplesmente “Louvre”.
Os documentos revelam um cenário de obsolescência tecnológica e negligência administrativa que se arrasta há pelo menos uma década. Segundo os relatórios, oito softwares críticos da área de segurança estavam sem atualização há anos, incluindo o Sathi, um programa desenvolvido pela empresa Thales em 2003 para supervisionar câmeras e controlar acessos.
Um relatório técnico de 2019 já alertava que o software havia deixado de ser mantido pela empresa. Em resposta, a Thales afirmou que não havia contrato de manutenção ativo e que o museu nunca solicitou renovação do serviço.
Outro documento, datado de 2021, aponta que o Sathi ainda operava em um servidor com Windows Server 2003, sistema descontinuado pela Microsoft desde 2015. Essa combinação de softwares antigos e incompatíveis teria comprometido não apenas a proteção das obras, mas também a segurança dos visitantes.
Senhas fracas e rede vulnerável
A auditoria revelou que especialistas em cibersegurança conseguiram acessar a rede de segurança do museu a partir de computadores comuns da administração e, a partir daí, comprometer o sistema de videomonitoramento. Em testes internos, foi possível até alterar as permissões de crachás e invadir o banco de dados de controle de acesso.
Em alguns casos, bastava digitar “LOUVRE” para acessar um servidor responsável pelas câmeras, ou “THALES” o nome da própria fornecedora para entrar em outro sistema. Segundo a Agência Nacional de Segurança dos Sistemas de Informação (ANSSI), esses testes demonstram que os ataques poderiam ser realizados remotamente, inclusive fora das dependências do museu.
Governo muda discurso
As revelações forçaram o governo francês a revisar sua postura. Até então, autoridades negavam falhas estruturais na segurança do Louvre e tratavam o roubo das joias de Napoleão, ocorrido no dia 19, como um caso isolado.
Agora, a ministra da Cultura, Rachida Dati, reconheceu publicamente as vulnerabilidades:
“Houve falhas de segurança. O que ocorreu exige uma reformulação completa dos nossos protocolos e uma auditoria de todos os sistemas culturais sob gestão do Estado.”
Ladrões seriam “amadores”
Quatro suspeitos foram detidos pela polícia francesa. De acordo com a promotoria, os perfis dos detidos indicam que eles seriam amadores, sem ligação com organizações criminosas especializadas em arte.
“Não se trata exatamente de delinquência cotidiana, mas é um tipo de delinquência que geralmente não associamos aos escalões superiores do crime organizado”, afirmou a promotora de Paris, Laure Beccuau, em entrevista à rádio Franceinfo.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Polícia francesa prende dois suspeitos de roubo milionário no Museu do Louvre




