A noite que deveria marcar o primeiro título do Atlético-MG na Copa Sul-Americana terminou com um roteiro amargo para o torcedor alvinegro. Em Assunção, no Defensores del Chaco, o Galo lutou durante 120 minutos, criou as duas melhores chances da prorrogação e até largou em vantagem nas penalidades. Mas nada disso foi suficiente para superar uma figura que se tornou gigante sob as traves: Nahuel Losada, o goleiro do Lanús que escreveu sozinho um capítulo inesquecível na história do clube argentino.
Com três defesas em cobranças decisivas em chutes de Hulk, Biel e Vitor Hugo, Losada transformou-se no grande protagonista da final deste sábado (22). O empate por 0 a 0 levou a decisão para os pênaltis, e o Lanús venceu por 5 a 4, conquistando pela segunda vez a Copa Sul-Americana e repetindo o feito de 2013.
Enquanto os jogadores argentinos comemoravam enlouquecidos no gramado paraguaio, o Atlético deixava o campo lamentando não apenas os pênaltis desperdiçados, mas principalmente as chances que poderiam ter evitado o drama.
O desenho da final: equilíbrio, tensão e pouca inspiração
O duelo entre Atlético-MG e Lanús sempre prometeu ser equilibrado, e assim se confirmou desde o apito inicial. O Galo buscou propor o jogo, mas encontrou forte resistência da equipe argentina, compacta e com linhas muito próximas, dificultando a criação alvinegra.
O primeiro tempo foi travado, com raros momentos de emoção. A etapa complementar ganhou em intensidade, mas não em qualidade. À medida que o relógio avançava, o cenário ficava claro: quem errasse menos no detalhe sairia campeão.
A prorrogação veio carregada de tensão. O desgaste físico de ambos os lados era evidente, mas o Atlético achou brechas importantes e desperdiçou as duas maiores oportunidades da noite.
As chances do Galo na prorrogação
Ao ser acionado no tempo extra, Biel parecia destinado a ser o homem da decisão. Mas o camisa 11 viveu uma noite que não vai esquecer tão cedo e não pelos motivos que gostaria.
No primeiro tempo da prorrogação, ele recebeu cruzamento perfeito de Gustavo Scarpa. A bola veio açucarada, praticamente um convite para estufar as redes. Biel, posicionado quase dentro da pequena área, cabeceou fraco demais, e Losada defendeu sem grandes dificuldades.
No segundo tempo da prorrogação, Biel teve a chance ainda mais clara: Hulk deixou o atacante cara a cara com o goleiro. Era o momento de definir. Era o instante do título. Mas novamente Losada levou a melhor, com uma defesa à queima-roupa que mudou totalmente o destino do jogo.
Poucos minutos depois, o árbitro apitou o fim do tempo extra. O Atlético sentia que havia deixado o título escapar pelas mãos ou pelos pés antes mesmo da marca da cal.
A montanha-russa emocional dos pênaltis
Na disputa de pênaltis, até mesmo o torcedor mais cético acreditou que o destino poderia sorrir ao Galo. Já na primeira cobrança do Lanús, Walter Bou bateu mal, e Everson defendeu com tranquilidade. Era o início perfeito.
Mas a alegria durou pouco. O experiente Hulk, um dos maiores ídolos da história recente do Atlético, cobrou de maneira estranha, lenta, previsível. Losada encaixou sem esforço. Foi o nono pênalti decisivo perdido pelo atacante com a camisa do Galo, manchando ainda mais sua relação com momentos cruciais desde a chegada ao clube.
A série seguiu com cinco acertos consecutivos para cada lado. Até que Biel, personagem da noite, caminhou para sua cobrança. A responsabilidade pesava, o histórico recente também. Ele bateu, e Losada brilhou de novo.
O Lanús tinha ali o “match point”. Lautaro Acosta, um dos mais experientes do time argentino, isolou, mandando por cima e dando sobrevida ao Atlético. A torcida alvinegra voltou a acreditar.
Na sequência, Everson, goleiro do Galo, assumiu a responsabilidade. Com personalidade, encheu o pé e marcou, mandando no ângulo. Era o tipo de cobrança que o torcedor desejava ver dos jogadores de linha.
A série seguiu para as alternadas, e foi aí que a estrela de Losada atingiu seu auge.
Cardozo, Alexsander e Watson converteram pelo Lanús. Chegou a vez de Vitor Hugo, jovem, talentoso e promissor. Um script perfeito para um herói improvável mas o futebol é cruel.
Vitor Hugo bateu à meia altura. Losada esticou-se com precisão e fez a defesa final: a defesa do título, a defesa do bicampeonato, a defesa que eterniza um goleiro.
Losada: do anonimato ao status de ídolo
Antes da final, poucos davam destaque ao goleiro do Lanús. Ao fim dela, ele saiu como o maior responsável pela conquista. Sua frieza, posicionamento e explosão impressionaram até mesmo torcedores adversários.
Três defesas em uma final continental não são obra do acaso. São obra de quem viveu uma noite perfeita.
Na Argentina, os jornais já o tratam como herói. No Brasil, seu nome entrará para a lista de goleiros que frustraram clubes nacionais em decisões ao lado de nomes como Cássio, Victor e Gallese.
Lanús, o gigante silencioso
O Lanús não é dos clubes mais midiáticos da Argentina, mas tem construído, passo a passo, seu espaço no futebol continental. O título de 2025 é o segundo da história na Sul-Americana, repetindo o feito conquistado em 2013 sobre a Ponte Preta, no Pacaembu.
Apesar do orçamento modesto, o clube tem sido eficiente, competitivo e organizado. Sua campanha até o título foi marcada por defesa sólida, jogos pragmáticos e inteligência tática.
Com a taça, o Lanús garante vaga direta na fase de grupos da próxima Copa Libertadores. O objetivo agora é prolongar a onda positiva.
O sentimento do Atlético: frustração e reflexão
Para o Atlético-MG, o sentimento é de frustração profunda. A equipe tinha elenco, experiência e momentos decisivos a seu favor. Criou chances que poderiam ter definido o jogo. Teve vantagem nos pênaltis. E mesmo assim deixou escapar um título inédito.
A derrota expõe fragilidades que têm se repetido em finais recentes: nervosismo, decisões precipitadas e erros de fundamentos em momentos decisivos.
Hulk, embora ídolo e líder, novamente perde pênalti crucial. Biel viveu uma noite desastrosa. E a equipe como um todo mostrou dificuldade em lidar com a pressão quando o troféu estava ao alcance da mão.
É uma cicatriz que ficará, e uma reflexão que será inevitável.
Uma final inesquecível por diferentes razões
Para o Lanús, a final de Assunção ficará eternizada como a noite em que Losada se transformou em muralha humana e conduziu o clube à glória. Para o Atlético, será lembrada como o dia em que a taça esteve ali tão perto mas resolveu escapar por entre dedos, pés e luvas adversárias.
No fim, o futebol, com sua crueldade e beleza, escreveu mais um capítulo clássico do drama sul-americano. Um capítulo onde um goleiro se tornou lenda, um clube argentino reencontrou a glória e um gigante mineiro viu seu sonho ruir nos detalhes.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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