É nítido que muitas empresas enfrentam desafios com funcionários desmotivados, seja pela falta de pertencimento, ausência de conexões humanas ou percepção de que suas vozes não são ouvidas. Diante disso, as organizações buscam maneiras de reverter esse cenário. Segundo o relatório State of the Global Workplace, da Gallup, o engajamento dos trabalhadores caiu de 23% para 21% em 2024. Esse declínio gerou uma perda global de US$ 438 bilhões em produtividade.
Para chegar a esse resultado, foram entrevistados mais de 100 mil profissionais de 160 países. O estudo indica que se as empresas oferecessem experiências de trabalho mais significativas, a economia global poderia crescer US$ 9,6 trilhões, o equivalente a 9% do PIB mundial. Durante a pandemia da COVID-19, esse desânimo ficou ainda mais evidente. O levantamento destaca que o uso inadequado da tecnologia, sem foco nas pessoas, fragiliza aspectos essenciais no ambiente corporativo.
Como funciona na prática
Outra pesquisa, chamada Founders Overview 2024, realizada pela ACE Ventures em parceria com o Sebrae, revelou que 78% das empresas usam tecnologia baseada em algoritmos e dados para automatizar processos e fornecer insights. Como resultado, 65% das startups brasileiras registraram aumento na eficiência operacional com o uso da inteligência artificial.
Nesse contexto, a startup brasileira Kipon utiliza a IA para impulsionar a eficiência e o engajamento dos colaboradores. Seu objetivo é automatizar processos complexos de gestão com agentes digitais. Esses agentes mapeiam habilidades, acompanham projetos e garantem a alocação dinâmica de talentos em tempo real. Para colocar a ideia em prática, a empresa recebeu um aporte de R$ 400 mil, captado pela DOMO.VC.
Um dos grandes diferenciais da Kipon é sua plataforma aberta, na qual qualquer funcionário pode acessar o perfil de outro colega. Essa transparência estimula a autonomia, colaboração e desenvolvimento constante. Com acesso facilitado às informações, eles se tornam protagonistas da própria atuação.
O sucesso da tecnologia é evidente: a empresa faz parceria com Creditas, iFood, Arezzo, RD Station, Bornlogic e NeST Digital. Essa abordagem muda como os líderes gerenciam suas equipes, permitindo decisões mais rápidas e baseadas em dados concretos, sem depender de processos manuais demorados.
Quais são os resultados?
Clientes da startup relatam que, logo nos primeiros dias de uso, já perceberam mudanças importantes: maior visibilidade sobre o desenvolvimento de skills com base em evidências reais de desempenho; acesso a recomendações de desenvolvimento mais personalizadas e adequadas ao momento de cada colaborador; engajamento crescente em processos tradicionalmente burocráticos, como ciclos de performance e feedback; e automatização de tarefas manuais, como a coleta e organização de dados de desempenho, agora otimizadas por análises inteligentes.
Segundo Karla Ribeiro, cofundadora da Kipon, esses resultados também têm refletido na atuação dos gestores: “O acesso a insights acionáveis sobre seus times, sem depender exclusivamente das antigas ferramentas do RH, têm contribuído para uma gestão mais responsiva e conectada à realidade das operações”, explica.
Nova lógica para gestão de pessoas
Karla também acredita que três movimentos tecnológicos devem transformar a gestão de pessoas nos próximos anos:
- Ecossistemas de agentes cooperativos, que se comunicam entre si, compartilhando contexto e resolvendo operações de ponta a ponta, desde análise de dados até a execução e acompanhamento de ações;
- Agentes ultra personalizados, moldados às necessidades específicas de cada colaborado ou equipe;
- Agentes autônomos, que vão além dos insights e realizam tarefas operacionais, automatizando fluxos de trabalho e substituindo partes relevantes das tarefas antes realizadas por pessoas.
Essas transformações representam, segundo ela, “uma mudança estrutural na força de trabalho, que deixará de ser composta exclusivamente por humanos, incluindo relações híbridas entre humanos e máquinas e interações diretas entre agentes autônomos. Isso exige uma perspectiva radicalmente nova sobre o que é a gestão da workforce.”
Inovação com responsabilidade
É claro que, com automatização, torna-se essencial para as empresas priorizarem a segurança de dados, promoverem engajamento das equipes e monitorarem a produtividade para evitar possíveis impactos psicológicos. As companhias que conseguem aliar tecnologia ao cuidado com seus colaboradores têm mais chances de prosperar de forma sustentável.
Além disso, a autonomia e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional aumentam. Os trabalhadores se tornam mais criativos, desenvolvem pensamento crítico e capacidade analítica. Como consequência, cresce também a demanda por profissionais nas áreas de ciências de dados, desenvolvimento de softwares e Machine Learning. De fato, quem seguir essa tendência, prosperará.
Por Pietra Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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