Jornalistas independentes que atuam na Faixa de Gaza para a BBC News e para as maiores agências de notícias do mundo estão enfrentando fome e privações extremas. O alerta foi feito nesta semana em uma declaração conjunta da BBC, da Agence France-Presse (AFP), da Associated Press (AP) e da Reuters, que classificaram a situação como “desesperadora”.
Segundo o comunicado, esses profissionais locais, responsáveis por informar o mundo sobre a guerra entre Israel e o Hamas, estão cada vez mais incapazes de alimentar a si mesmos e suas famílias. “Por muitos meses, esses jornalistas independentes têm sido os olhos e ouvidos do mundo em Gaza. Agora, eles estão enfrentando as mesmas circunstâncias terríveis que aqueles que estão cobrindo”, diz a nota.
As quatro agências dependem de jornalistas locais, uma vez que o governo de Israel impede que correspondentes estrangeiros entrem na região sitiada. O bloqueio afeta não apenas a liberdade de imprensa, mas também o acesso da população civil, incluindo os profissionais da mídia, a itens básicos como alimentos, água e medicamentos.
“Os jornalistas enfrentam muitas privações e dificuldades em zonas de guerra. Estamos profundamente alarmados que a ameaça de fome agora seja uma delas”, afirma o texto.
As agências reforçaram o apelo para que as autoridades israelenses permitam a entrada e saída de jornalistas de Gaza, além de viabilizarem a chegada urgente de suprimentos humanitários.
Fome em massa e bloqueio agravado
A denúncia das agências jornalísticas ocorre ao mesmo tempo em que mais de 100 organizações humanitárias internacionais, como Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, também expressaram alarme com o agravamento da crise alimentar em Gaza. Em comunicado separado, essas entidades afirmaram que seus colegas e as pessoas atendidas estão “definhando”.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, ao menos 45 palestinos morreram por desnutrição desde domingo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 25% da população do território está enfrentando condições equivalentes à fome.
“Não sei como chamar isso de outra forma que não seja fome em massa, e é causada pelo homem. E está muito claro, é por causa do bloqueio”, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na quarta-feira (23).
Israel acusa organizações humanitárias de “servirem à propaganda do Hamas”, e desde março impediu a entrada de ajuda internacional em Gaza, após o fim de um cessar-fogo temporário. Embora o bloqueio tenha sido parcialmente flexibilizado nas últimas semanas, a situação no território continua crítica. Um novo sistema de distribuição, coordenado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF) com apoio dos Estados Unidos e de Israel, tem sido duramente criticado por sua ineficiência. Relatos indicam que centenas de pessoas morreram nos arredores dos centros de distribuição desde que o programa começou a operar há oito semanas.
A crescente insegurança alimentar em Gaza não poupa nem mesmo os profissionais responsáveis por dar visibilidade ao sofrimento da população. Agora, jornalistas e suas famílias fazem parte da longa lista de vítimas da guerra e do cerco.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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