Uma resolução publicada nesta segunda-feira (28) no Diário Oficial da União acendeu um alerta definitivo sobre um tema que vinha ganhando força entre influenciadores e celebridades brasileiras: a utilização de anestesia geral ou sedação para realizar tatuagens. O Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu vetar essa prática em qualquer circunstância estética, independentemente do tamanho ou da área do corpo a ser tatuada.
A medida estabelece que a única exceção são os procedimentos com finalidade reparadora, ou seja, com prescrição médica e vínculo com tratamentos clínicos como a reconstrução da aréola mamária em mulheres que passaram por mastectomia.
A decisão veio à tona meses após a morte do empresário e influenciador Ricardo Godoi, de 46 anos, em Itapema (SC). Segundo informações divulgadas na época, Godoi teria sido submetido a uma anestesia geral durante uma sessão de tatuagem. Ele não resistiu e faleceu após complicações.
Godoi não foi o único a recorrer ao uso de anestesia para suportar a dor das agulhadas. Nomes famosos como o cantor Igor Kannário, a influenciadora Rafaella Santos irmã do jogador Neymar e o funkeiro MC Cabelinho admitiram publicamente terem utilizado métodos anestésicos para realizar grandes tatuagens em uma única sessão.
Em um podcast recente, MC Cabelinho detalhou a experiência:
“Contratei uma equipe médica, fechei uma sala de cirurgia, os médicos disseram que era possível e eu tomei anestesia geral. Dormi por oito horas, fiquei entubado, porque era nas costas. Tatuei as costas todas.”
A fala gerou debates sobre os limites entre vaidade, dor e segurança, evidenciando a banalização de um procedimento invasivo e que, apesar de comum em ambientes hospitalares, apresenta riscos.
Anestesia x Sedação
Há uma diferença importante entre os dois métodos, e agora precisa ser levada ainda mais a sério.
Anestesia geral: o paciente perde totalmente a consciência, deixa de respirar sozinho e precisa ser entubado. Esse tipo de anestesia só pode ser feito em hospitais, com suporte completo e equipamentos de ventilação.
Sedação: é mais branda, podendo ser leve, moderada ou profunda. O paciente pode adormecer e sentir menos dor, mas continua respirando sozinho e pode ser acordado durante o procedimento. Algumas clínicas com estrutura e autorização específicas da Anvisa são habilitadas para esse tipo de sedação.
No caso de celebridades como Rafaella Santos e Igor Kannário, eles relataram que foram sedados. Já MC Cabelinho afirmou que passou por anestesia geral com entubação o que se torna agora proibido em procedimentos meramente estéticos como tatuagens.
Cultura da dor “indolor”
A prática de usar anestesia para se tatuar ganhou força nos últimos anos, impulsionada pelas redes sociais e por uma estética do “sofrimento editável”. A tatuagem, que sempre esteve ligada a uma espécie de ritual simbólico muitas vezes associado à dor, passou a ser vista, para alguns, como algo que poderia e deveria ser indolor.
Essa tendência também gerou uma corrida por clínicas clandestinas ou sem estrutura adequada para oferecer o “combo” anestesia + tatuagem em uma única sessão, atraindo especialmente quem desejava cobrir grandes áreas do corpo rapidamente.
O problema é que, fora do ambiente hospitalar, a anestesia pode provocar quedas bruscas de pressão arterial, alterações na frequência cardíaca e outros efeitos graves especialmente se não houver uma equipe médica especializada, monitoramento constante ou equipamentos de suporte à vida.
Em muitos desses locais, não há ventiladores pulmonares, sala de recuperação ou profissionais com registro ativo nos conselhos regionais de medicina. Mesmo com toda a aparência de segurança, a ausência de preparo adequado pode custar a vida do paciente.
O que muda com a nova resolução
Com a nova regra, o Conselho Federal de Medicina estabelece que qualquer procedimento de anestesia geral, sedação ou bloqueio anestésico com fins estéticos passa a ser considerado irregular.
Médicos que participarem de procedimentos desse tipo podem ser punidos inclusive com cassação do registro profissional. A fiscalização caberá aos Conselhos Regionais de Medicina, em articulação com a Anvisa e autoridades sanitárias locais.
A proibição busca proteger a vida dos pacientes e evitar que a estética ultrapasse os limites da segurança. Não se trata de restringir a arte da tatuagem, mas de impedir que práticas médicas complexas sejam usadas fora dos ambientes apropriados e por profissionais não habilitados.
Enquanto o debate segue nas redes sociais, o alerta é claro: não há beleza que justifique colocar a vida em risco.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Bruce Willis tem piora no estado de saúde, diz imprensa americana