Os chilenos voltaram às urnas neste domingo (16) para definir os rumos do país após uma das eleições mais polarizadas da última década. Com urnas apuradas, Jeannette Jara, candidata do Partido Comunista e apoiada pelo presidente Gabriel Boric, liderou o primeiro turno com 31,3% dos votos.
Em segundo lugar aparece o ultraconservador José Antonio Kast, fundador do Partido Republicano, com 23,3%, garantindo assim o segundo turno em 14 de dezembro.
O resultado confirma o embate direto entre duas visões opostas de país: de um lado, Jara representa a continuidade da atual agenda social progressista; de outro, Kast defende uma guinada à direita com foco em segurança e austeridade.
O presidente Gabriel Boric parabenizou os finalistas e afirmou confiar “no diálogo, no respeito e no amor pelo Chile” durante a nova etapa eleitoral.
Primeiro turno fragmentado e marcado pela segurança pública
A votação foi acirrada, com forte presença de candidatos da direita e centro-direita, Franco Parisi, Evelyn Matthei, Harold Mayne-Nicholls, Marco Enríquez-Ominami e Eduardo Artés, nenhum deles conseguindo ultrapassar a barreira dos 50% para liquidar a disputa no primeiro turno.
A segurança pública dominou o debate eleitoral. Segundo pesquisa do Centro de Estudos Públicos (CEP), 35% dos chilenos consideram Kast o candidato mais preparado para enfrentar o narcotráfico, enquanto 32% avaliam que ele manteria melhor a ordem social. O tema se intensificou diante do aumento da criminalidade e da percepção de descontrole nas fronteiras.
Outro foco da campanha foi a migração, especialmente a entrada de venezuelanos, assunto explorado por Kast em defesa de políticas mais rígidas. Jara, por sua vez, alerta para possíveis retrocessos em direitos sociais e de gênero em caso de vitória da extrema-direita.
Pela primeira vez desde 2012, o voto foi obrigatório no Chile. Cerca de 15 milhões de eleitores participaram do pleito.
Segundo turno deve repetir a polarização
Apesar da vantagem inicial da esquerda, levantamentos recentes, como o AtlasIntel indicam um cenário mais favorável à direita no segundo turno. Isso porque grande parte dos votos de candidatos derrotados tende a migrar para Kast.
Em simulações de segundo turno, Jara aparece com cerca de 40% a 41% das intenções, contra 46% atribuídos a Kast ou ao também direitista Johannes Kaiser. Isso revela uma disputa apertada e de alta tensão.
O que está em jogo para cada campo político
Para a esquerda, a eleição é vista como a chance de consolidar uma agenda voltada à redução das desigualdades, ampliação de programas sociais e fortalecimento das políticas públicas, pilares defendidos por Jeannette Jara. No entanto, sua campanha enfrenta o desafio de conquistar um eleitorado disperso e preocupado com segurança.
Já a direita aposta em um discurso de “lei e ordem”, endurecimento contra o crime e restrições à imigração irregular. Kast tenta unificar os diferentes segmentos conservadores, divididos entre ele, Kaiser e Matthei, apostando no cansaço de parte da população com a instabilidade política dos últimos anos.
Congresso será peça-chave para governabilidade
Além da presidência, o Chile também renova seu Congresso, fator decisivo para o futuro governo. Sem maioria clara, tanto Jara quanto Kast podem enfrentar dificuldades para aprovar reformas estruturais, tornando a composição legislativa tão importante quanto o resultado presidencial.
A expectativa agora se volta para as próximas semanas de campanha, que devem intensificar a polarização e mobilizar eleitores indecisos. No dia 14 de dezembro, os chilenos decidirão quem conduzirá o país pelos próximos quatro anos.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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