A audiência pública com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, realizada nesta quarta-feira (11) na Câmara dos Deputados, foi encerrada de forma antecipada após uma série de confrontos verbais entre o ministro e parlamentares da oposição.
O tumulto ocorreu durante sessão conjunta das comissões de Finanças e Tributação, e de Fiscalização Financeira e Controle, em meio a debates sobre compensações fiscais e o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
O embate começou quando os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) usaram seu tempo de fala para criticar o que chamaram de “gastança” do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de atribuírem ao atual governo a responsabilidade pelo aumento da inflação e da taxa de juros.
Logo após as declarações, ambos os parlamentares deixaram o plenário. Durante sua resposta, Haddad lamentou a ausência dos deputados e classificou o comportamento como “molecagem”. “Esse tipo de atitude de quem aparece aqui para fazer cena e depois foge do debate é lamentável. Isso não contribui para a democracia”, declarou o ministro.
A declaração provocou a volta dos parlamentares ao plenário. Visivelmente irritado, Carlos Jordy pediu o direito de resposta e atacou diretamente o ministro: “Moleque é você, ministro, por ter assumido um cargo dessa importância e ter produzido o maior déficit da história, de R$230 bilhões. O governo Lula é pior do que uma pandemia”, afirmou o deputado do PL.
Na sequência, Nikolas Ferreira também tentou rebater as falas de Haddad, mas foi interrompido pelo presidente da audiência, o deputado Rogério Correia (PT-MG), que justificou a interrupção dizendo que o parlamentar falava “aos berros” e não respeitava a ordem de fala. “Deputado, não é no grito que se fala aqui. Peço que respeite os colegas e apresente a questão de ordem de forma objetiva”, disse Correia.
O clima no plenário se agravou com a tentativa do deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) de intervir, o que levou a um bate-boca generalizado. Sem conseguir retomar o controle da sessão, Correia decidiu encerrar a audiência e liberou o ministro da Fazenda.
Após o encerramento, parlamentares da oposição gritaram contra Haddad, chamando-o de “fujão”. Já fora do plenário, o ministro falou com jornalistas e afirmou ter sido desrespeitado pelos deputados que não permaneceram para ouvir as respostas. “Venho ao Parlamento para dialogar, não para ser hostilizado. Assim como aconteceu com a ministra Marina Silva, novamente um ministro é alvo de desrespeito em uma comissão”, disse Haddad.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), saiu em defesa do ministro e afirmou que haverá reação por parte da base governista. “Jordy e Nikolas saem enfraquecidos desse episódio. A bancada do PT prestará solidariedade a Haddad”, declarou.
Em contrapartida, o deputado Marcos Feliciano (PL-SP) afirmou que o encerramento da audiência foi uma estratégia de Haddad para fugir do confronto. “Haddad é um fujão. Não quis debater e se retirou sob proteção da presidência da comissão”, criticou.
Durante a audiência, Haddad ainda rebateu as acusações sobre o déficit fiscal, afirmando que o superávit de 2022, último ano do governo Bolsonaro, foi obtido com manobras como o não pagamento de precatórios, privatização da Eletrobras abaixo do valor de mercado, além de dividendos recordes da Petrobras que, segundo ele, não se repetirão.
A audiência terminou antes mesmo de ser iniciada a terceira rodada de perguntas, marcada por um ambiente conflituoso e sem acordo entre os parlamentares para retomar os trabalhos.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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