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Baixa cobertura vacinal expõe adolescentes e pessoas sem comorbidades à morte por gripe

Casos graves do vírus influenza crescem entre jovens saudáveis no Brasil; especialistas atribuem avanço à baixa cobertura vacinal e desinformação

Enquanto o Brasil enfrenta a baixa cobertura da vacina da gripe, a contadora Inês Custódio, 45 anos, convive com a saudade de seu único filho, Samuel. Há oito meses, o adolescente de 14 anos apresentou sintomas da doença após uma viagem escolar. A evolução entre “um resfriado normal” e a perda do filho, vítima do influenza B, foi rápida.

Natural do Rio de Janeiro, a família chegou a buscar ajuda médica. Entre diversos exames e idas e vindas ao hospital, o adolescente evoluiu com tosse intensa, febre moderada, falta de apetite e dores no peito. Em poucos dias estava com falta de ar e baixa saturação. Chegou a ser internado, entubado, mas não resistiu, vindo a óbito no dia seguinte por falência múltipla dos órgãos. O jovem era saudável e sem comorbidades. 

Brasil está longe da meta de vacinação contra gripe

Casos como o de Samuel se multiplicaram em 2025. De acordo com dados atualizados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal contra influenza, vírus responsável pela gripe, não atingiu até o momento nem 40% da população. A meta do governo é de 90%. Com a baixa adesão à vacina, há um aumento expressivo de internações e óbitos por influenza, inclusive entre jovens e pessoas fora do grupo prioritário. 

Imunizar é a única forma eficaz de prevenir casos graves de influenza. Samuel não se vacinou naquele ano contra a gripe, por estar resfriado na época da campanha. “Não tomou porque não teve chance, mas teria tomado, com certeza”, explica a mãe. A vacina está disponível de forma gratuita nos postos de saúde em dose única e deve ser repetida anualmente para acompanhar a cepa em circulação. 

Segundo o infectologista Dr. Bernardo Almeida, “nesses períodos de maior intensidade da circulação do vírus, quando muitas pessoas contraem a gripe ao mesmo tempo, acabam acontecendo eventos incomuns ou raros. Complicações mesmo em indivíduos que não têm fatores de risco”. Ele explica que, quanto maior a cobertura vacinal, há diminuição dos casos graves e dos óbitos.

Dados do Boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram o aumento de infecções por influenza. Entre todos os mais de 103 mil casos graves de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) contabilizados este ano, cerca de 53% estão relacionados a algum vírus. Destes, cerca de 27% possuem relação com os vírus influenza A ou influenza B. 

Dados da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo mostram aumento nas mortes por SRAG por influenza. Só na capital paulista, entre os meses de janeiro a maio deste ano, foram registrados 1.765 casos e 192 mortes. Em comparação com o ano passado, os números representam um aumento de 71% nas infecções e 182% nas mortes por influenza. A vacina não impede a doença em si, mas evita casos graves. Em média, 90% dos mortos por gripe não estavam vacinados.

Inês Custódio e seu filho Samuel, morto pelo influenza B. (Foto: arquivo pessoal/Inês Custódio)

Quando buscar ajuda médica

Uma particularidade da gripe é que ela pode deixar adolescentes e até adultos prostrados e com febre alta, além de outros sintomas como dor de garganta, coriza, tosse e dores no corpo. Em crianças maiores de 7 anos e adolescentes, podem surgir sintomas de mialgia, que é uma dor muscular intensa. Segundo a pediatra Dra. Jéssica Pinha, ao apresentar esses sintomas, “essas crianças maiores e adolescentes têm que ir à emergência para fazer exames de sangue. Dependendo de como eles estiverem, são até internadas”.

Perguntada se a dor da gripe pode ser confundida com a dor de crescimento, a pediatra explica que não, pois “a mialgia é uma dor mais intensa, enquanto a dor do crescimento é mais simétrica, sendo igual nas duas pernas ou nos dois braços”, por exemplo. A mialgia provoca uma dor muscular generalizada, pode gerar incapacidade ou dificuldade de andar. Esses sintomas podem ser confundidos com a dengue, por conta da febre e dores no corpo.

A indicação é que os pais ou responsáveis busquem logo um hospital. “A febre alta no adolescente é o maior sinal de alerta, depois vem a dor no corpo”. Já os indivíduos com alguma comorbidade, com sobrepeso, pacientes com asma ou alguma doença respiratória, ou no coração, devem ser levados para a emergência imediatamente.

Infelizmente, é possível uma evolução para um quadro grave, mesmo apresentando sintomas leves. “Eu tive um paciente há pouco tempo, com 14 anos, menino previamente hígido que a gente fala, que nunca tinha nada. Esportista, jogava futebol. Começou com uma febre, coriza e evoluiu com insuficiência respiratória. Foi parar no CTI e chegou até ficar no respirador. Quando a gente foi ver, o resultado era influenza. Ele não tinha tomado a vacina ainda porque não estava na época”, revela a especialista.

Miocardite, pneumonia e morte

A principal complicação da gripe está relacionada aos pulmões. O vírus influenza pode causar pneumonia e outros problemas respiratórios, especialmente em pessoas com fatores de risco, como crianças pequenas, idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas.

“É muito comum nós termos, como evolução de uma gripe, uma pneumonia que pode chegar a estados graves, levando à internação e muitas vezes à falência respiratória e óbito”, explica o pediatra Dr. Celso Fiszbeyn.

Além das pneumonias, os casos de morte por gripe podem acontecer um processo inflamatório de vários órgãos ao mesmo tempo. “Mas começa basicamente por uma infecção respiratória comum. Atinge a garganta, o corpo não reage ou a pessoa não é vacinada”, explica Fiszbeyn. O quadro, infelizmente, pode ser irreversível e levar o paciente à morte.

O infectologista Dr. Bernardo Almeida reforça que, “se não se sabe se é grave ou se é leve, é melhor buscar ajuda médica”, seja presencialmente ou por teleconsulta. Sintomas como dificuldade para respirar, prostração intensa e cansaço fora do comum devem servir de alerta para procurar assistência médica imediata.

Embora mais rara, a miocardite — inflamação do músculo cardíaco — também pode ocorrer como complicação de infecções virais, incluindo a gripe. Quando o vírus circula pelo corpo, há risco de atingir o coração e provocar quadros graves, como insuficiência cardíaca. A miocardite exige atenção urgente. Dores no peito, batimentos acelerados, falta de ar, tontura, náuseas, cansaço extremo e inchaço nos membros inferiores estão entre os principais sintomas.

Nas redes sociais, é comum encontrar informações equivocadas que associam a vacina contra a Covid-19, aplicada meses ou anos antes, a casos de miocardite, especialmente entre jovens. No entanto, esse medo vem da desinformação.

Dr. Bernardo reforça que é essencial avaliar caso a caso e estabelecer o vínculo epidemiológico e temporal entre uma infecção ou a vacinação e o surgimento da miocardite. De acordo com a Fiocruz, a miocardite é um evento muito raro e mais frequente em crianças e adolescentes que contraíram a covid-19 do que como reação adversa da vacina.

Não é possível desenvolver miocardite meses ou anos após a aplicação de uma vacina. Quando ela ocorre, é próxima da data da última dose de alguma vacina que possa ter esse efeito adverso raro. “Se houve uma infecção por influenza, é muito mais provável que tenha sido associada à infecção”, explica o especialista.

A vacina é forma eficaz de prevenção de casos graves, mas desinformação atrapalha

De acordo com o Prof. Luiz Moreira, Mestre em Ciências da Saúde: “A vacina da gripe, que chamamos inativada, não contém o vírus vivo, ou seja, por si só, ela não consegue causar a gripe”. Os efeitos após a aplicação costumam ser leves e transitórios: dor, vermelhidão, inchaço no local da aplicação, febre baixa, mal-estar, dores musculares leves, dor de cabeça e até a sensação de cansaço, com duração entre 24 a 48 horas. As únicas contraindicações são para bebês menores de seis meses e para pessoas com alergia grave ao ovo ou histórico de reação anterior à vacina da gripe. 

“Neste começo de 2025, estamos vivenciando uma variante de influenza um pouco mais agressiva. A vacinação é de suma importância, principalmente para reduzir o agravamento desses quadros de doenças respiratórias agudas”, explica o professor. 

A etiqueta respiratória, amplamente divulgada durante a pandemia da Covid-19, segue válida e ajuda a diminuir a propagação do vírus, como o uso de álcool em gel; uso de máscaras e evitar contato próximo com pessoas com sintomas gripais.

Em nota, o Ministério da Saúde reforça que “aderir à vacinação é a principal forma de proteção contra os vírus respiratórios que mais circulam nesta época do ano, como Influenza A. A vacina Influenza pode ser administrada na mesma ocasião de outras vacinas do Calendário Nacional de Vacinação. Pessoas apresentando quadro de doenças febris agudas, moderadas ou graves, e/ou caso confirmado de covid-19 (RT- PCR e TR Ag): recomenda-se adiar a vacinação até a melhora do quadro, com o intuito de não serem atribuídas à vacina as manifestações da doença”.

O isolamento do paciente sintomático é importante para evitar a propagação do vírus. Por esse motivo, é recomendado que a pessoa aguarde a melhora dos sintomas antes de se vacinar, para evitar contato com o grupo prioritário, passível de quadros graves. Em casos de resfriado, vírus diferente da gripe, quadros leves, é possível sim tomar a vacina, mas é importante avisar ao profissional de saúde sobre a situação.

É fundamental que toda a população esteja vacinada, inclusive os adolescentes e as crianças, “não só para se proteger, mas também para proteger as pessoas ao seu redor, como os avós, os bebês e população mais vulnerável. A vacina salva vidas”, reforça Dra. Jéssica Pinha.

Um apelo que parte do luto 

Em meio ao luto, Inês Custódio transformou a dor em alerta e solicita que os pais vacinem seus filhos e passem tempo de qualidade com eles. Descreve sua relação com Samuel como muito próxima e o filho como um rapaz “prestativo, empático, um garoto extraordinário”. Hoje, Inês mantém as boas lembranças e se apoia em sua fé, na esperança de rever o filho um dia. “Eu gostaria de ver muitas coisas que eu não vou ver mais, mas sou extremamente grata ao que a gente pode viver”

Por: Iamara Lopes | Revisão: Redação

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