A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu um passo decisivo no combate à obesidade no Brasil. Nesta segunda-feira (9), foi publicada no Diário Oficial da União a aprovação do uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade. Até então, o remédio só era autorizado para uso em pacientes com diabetes tipo 2.
A liberação da Anvisa representa um marco importante no cenário da saúde pública e no enfrentamento de uma das doenças crônicas mais prevalentes entre os brasileiros. A obesidade é considerada uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afetando milhões de pessoas e contribuindo para o aumento de doenças como hipertensão, problemas cardíacos, colesterol alto e até mesmo certos tipos de câncer.
O Mounjaro, comercializado em formato de caneta injetável, já vinha sendo utilizado no Brasil desde maio, porém, com a indicação restrita ao tratamento do diabetes tipo 2. Com a nova regulamentação, a tirzepatida agora também poderá ser usada para o controle do peso em pacientes diagnosticados com obesidade, mesmo que não sejam diabéticos.
Como o medicamento atua no organismo?
A tirzepatida é uma molécula inovadora que age simultaneamente nos receptores GIP e GLP-1, dois hormônios intestinais que regulam a saciedade e a resposta à glicose. Essa ação dupla faz com que o paciente sinta menos fome e, ao mesmo tempo, tenha um melhor controle da taxa de açúcar no sangue. É justamente essa combinação que permite o emagrecimento eficaz aliado ao controle glicêmico.
Estudos clínicos apontam que o uso da tirzepatida pode levar a uma perda de até 20% do peso corporal em determinados pacientes. Os resultados foram tão expressivos que a substância passou a ser vista como uma forte concorrente da semaglutida, princípio ativo do Ozempic, também utilizado no tratamento da obesidade e do diabetes.
Antes mesmo da aprovação para obesidade, o Mounjaro já era alvo de grande procura nas farmácias brasileiras. Pacientes que sofrem com sobrepeso ou obesidade conseguiam o medicamento via prescrições médicas específicas, em um uso conhecido como off label, ou seja, fora da indicação oficial da bula.
Agora, com o aval da Anvisa, médicos poderão prescrever a tirzepatida com maior respaldo, e espera-se que a demanda aumente ainda mais nas próximas semanas. Especialistas alertam, no entanto, que o uso do medicamento deve ser feito com acompanhamento profissional e integrado a mudanças no estilo de vida, como reeducação alimentar e prática regular de atividade física.
Saúde e estilo de vida
Em entrevista ao MD News, Carolina Rorato, fisioterapeuta e especialista em saúde e bem-estar, explica que canetas como o Mounjaro são apenas uma parte do processo de emagrecimento. “O uso das canetas emagrecedoras pode ser um grande aliado em um processo de reeducação, mas elas são só parte do caminho. O que sustenta os resultados a longo prazo é o que construímos ao redor: alimentação consciente, atividade física regular, suporte emocional e rotina equilibrada.”
Carolina Rorato – especialista em saúde e bem-estar
Carolina explica que, para manter o emagrecimento, é preciso transformar o estilo de vida de modo geral, e não depender de um único recurso, pois a caneta não faz tudo sozinha.
“Muita gente encara como uma ‘solução mágica’ e negligencia o que realmente consolida o emagrecimento: o comportamento. Sem mudança de hábitos, sem consciência alimentar e sem movimento, o peso volta — e muitas vezes com efeito rebote emocional. Por isso, defendemos um acompanhamento multidisciplinar, com escuta, planejamento e, principalmente, constância. O foco precisa estar em saúde e longevidade, não só no número da balança“, diz a especialista.
Obesidade no Brasil
A liberação do Mounjaro para tratar a obesidade também simboliza uma mudança no modo como a doença vem sendo tratada no Brasil. Antes vista apenas como resultado de má alimentação ou sedentarismo, a obesidade está sendo reconhecida, cada vez mais, como uma condição complexa e multifatorial, que exige intervenções médicas, psicológicas e sociais.
A aprovação do medicamento reforça o entendimento de que a obesidade precisa ser encarada como uma doença crônica, com tratamento contínuo e abordagem individualizada. Para muitos pacientes, a chegada de mais uma opção medicamentosa representa esperança e qualidade de vida.
A expectativa agora é de que os planos de saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS) passem a discutir a incorporação do Mounjaro em seus protocolos, o que pode ampliar ainda mais o acesso ao tratamento.
Enquanto isso, a população aguarda o impacto da novidade no mercado farmacêutico, no preço final do medicamento e nas políticas públicas de combate à obesidade no país.
Por Alemax Melo I Revisão: Thaisi Carvalho
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