A China está enfrentando um novo dilema demográfico. Depois de anos impondo multas e restrições severas a casais que tinham mais de um filho, o país agora tenta desesperadamente reverter a queda na taxa de natalidade – e está pagando para isso.
Cidades e vilarejos estão oferecendo benefícios em dinheiro para casais que decidirem ter filhos. Em Shenzhen, uma das metrópoles mais ricas do país, o governo promete cerca de R$ 2.600 (4.000 yuans) por bebê nascido. Em outras regiões, há ofertas que incluem creches subsidiadas, licenças parentais estendidas e até auxílios-moradia.
O contraste é gritante. Durante décadas, a política do filho único – vigente de 1980 até 2016 – penalizava famílias que ousassem ter mais de uma criança. Agora, com o envelhecimento acelerado da população e a força de trabalho em declínio, a mesma máquina estatal que multava hoje implora por berçários cheios.
Mesmo assim, o plano enfrenta resistência. O custo de vida nas grandes cidades, aliado à pressão social e ao modelo de vida urbano, tem feito muitos jovens desistirem da ideia de formar uma família. Segundo dados oficiais, a taxa de natalidade em 2023 foi a mais baixa desde a fundação da República Popular da China, em 1949.
Analistas apontam que as medidas são tardias – e talvez insuficientes. A economia chinesa também sente os efeitos de um país que envelhece rápido demais. A população em idade ativa caiu em quase 10 milhões só no último ano.
Enquanto isso, o governo segue tentando. Em algumas províncias, já se fala em pagar bônus para o terceiro filho, algo impensável há menos de uma década. A nova política é clara: de “menos é mais”, a China passou a defender que “quanto mais, melhor” – pelo menos quando o assunto são bebês.
No entanto, especialistas alertam que esse valor não é suficiente para educar, alimentar e criar uma criança, especialmente nas grandes cidades, onde os custos com moradia, saúde e educação são elevados. O desafio de convencer os casais a aumentar a família segue grande e complexo.
Por David Gonçalves | Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Nascimentos despencam no Brasil e país registra pior marca em quase 50 anos
