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Dia do Orgulho Autista: luta por visibilidade, respeito e políticas públicas no Brasil ainda enfrenta grandes desafios

Embora o número de diagnósticos cresça no país, famílias e pessoas com autismo seguem enfrentando barreiras de acesso à saúde, educação inclusiva e mercado de trabalho

O Dia do Orgulho Autista, celebrado em 18 de junho, é mais do que uma simples data no calendário da diversidade. É um grito coletivo de afirmação e resistência das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Criado por autistas para promover a autoaceitação e combater o estigma que historicamente cerca a condição, essa data visa reforçar que o autismo não é uma doença a ser curada, mas sim uma forma diversa de funcionamento neurológico que deve ser respeitada, valorizada e incluída em todos os espaços sociais.

No Brasil, o número de pessoas diagnosticadas com TEA vem crescendo significativamente nos últimos anos, impulsionado por uma maior conscientização, ampliação dos critérios diagnósticos e aumento do acesso à saúde mental. Segundo estimativas do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2 milhões de brasileiros são autistas, o que representa cerca de 1% da população nacional. Especialistas acreditam, no entanto, que esse número pode ser ainda maior, devido à subnotificação e ao subdiagnóstico, principalmente em regiões de menor acesso a serviços especializados.

O estado de São Paulo, por concentrar maior densidade populacional e mais unidades de atendimento especializado, é o que possui o maior número de diagnósticos registrados. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia aparecem logo em seguida. Contudo, esse dado também reflete uma desigualdade estrutural: enquanto em alguns estados o diagnóstico pode ser feito ainda na primeira infância, em outros, crianças esperam anos na fila do SUS por uma consulta com neurologista ou psiquiatra infantil. O atraso no diagnóstico compromete significativamente as possibilidades de intervenção precoce e, portanto, de qualidade de vida.

Educação inclusiva para autistas

Na educação, os obstáculos são profundos. Apesar das garantias legais previstas na Constituição Federal, na Lei Brasileira de Inclusão (LBI) e na Lei 12.764/2012, a realidade das famílias de crianças autistas é marcada por barreiras físicas, pedagógicas e atitudinais. Muitas escolas públicas e privadas não oferecem mediadores escolares profissionais que deveriam acompanhar os estudantes com TEA, e o despreparo de professores é comum. Casos de exclusão escolar, isolamento em sala de aula ou abandono das famílias por falta de estrutura ainda são frequentes.

A educação inclusiva é um direito, mas sem estrutura adequada se torna uma violência silenciosa. Muitas mães e pais relatam que precisam abandonar seus empregos para acompanhar os filhos na escola ou para levá-los a terapias, pois o sistema público não oferece suporte integral. A sobrecarga recai quase sempre sobre as mulheres, gerando impactos emocionais, financeiros e sociais para toda a família.

Acesso ao tratamento multidisciplinar

Na área da saúde, o acesso às terapias multidisciplinares como fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional, musicoterapia e acompanhamento comportamental  é desigual. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda é insuficiente para suprir toda a demanda. Centros especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPSi), estão sobrecarregados. Filas de espera se estendem por meses, quando não anos. Famílias de baixa renda, em especial nas periferias e zonas rurais, enfrentam uma verdadeira peregrinação em busca de atendimento.

+ Nova lei garante acompanhamento alimentar no SUS para pessoas com autismo

Quando se trata da vida adulta, o abandono do Estado se torna ainda mais evidente. A maioria dos serviços públicos voltados para o autismo está concentrada na infância. Pouco se fala sobre autistas adultos, idosos ou sobre o acesso ao mercado de trabalho. Dados do IBGE revelam que menos de 1% dos autistas estão inseridos formalmente no mercado de trabalho, e muitos sequer conseguem acessar cursos técnicos ou ensino superior por falta de adaptações pedagógicas. O preconceito, o desconhecimento e a falta de políticas de empregabilidade fazem com que o capacitismo se perpetue.

Políticas Públicas

Apesar das dificuldades, houve conquistas importantes. A Lei 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, representou um marco no reconhecimento do autismo como deficiência para fins legais, garantindo o acesso a direitos como educação, saúde e prioridade no atendimento.

Outras leis estaduais e municipais criaram a Carteira de Identificação do Autista (CIA), documento que facilita o acesso à prioridade em filas de estabelecimentos públicos e privados e que serve como reconhecimento legal da condição. Além disso, algumas cidades começaram a adotar centros de referência em autismo, programas de capacitação de profissionais e campanhas permanentes de conscientização.

No entanto, muitas dessas políticas ainda não saíram do papel. Falta orçamento, fiscalização e vontade política para implementar verdadeiramente uma inclusão que vá além do discurso. O Brasil precisa avançar com políticas intersetoriais, que envolvam saúde, educação, assistência social, trabalho e direitos humanos.

+ “Epidemia de autismo”: fala de secretário de saúde reacende debate sobre o aumento nos diagnósticos

Uma mudança significativa nos últimos anos foi o crescimento do movimento de autistas ativistas. Cada vez mais, pessoas dentro do espectro estão assumindo a liderança do debate sobre inclusão, acessibilidade, respeito e direitos. Por meio das redes sociais, de coletivos, ONGs e canais de informação, eles compartilham vivências, desmistificam o autismo e exigem uma sociedade que respeite a neurodiversidade.

Esse protagonismo é fundamental. Afinal, quem melhor do que a própria pessoa autista para falar sobre suas necessidades, desejos e desafios? O lema “Nada sobre nós sem nós” é mais do que um bordão: é um chamado por participação ativa, empoderamento e escuta real.

O Dia do Orgulho Autista não é apenas sobre exaltar uma condição. É um ato de resistência, especialmente em um país em que o preconceito, a desinformação e a exclusão ainda são uma realidade dolorosa. É um momento para a sociedade refletir sobre o quanto ainda precisa evoluir para garantir que todos tenham o direito de existir com dignidade, autonomia e respeito.

Ser autista é ser único. É perceber o mundo de outra forma. É sentir, amar e comunicar de jeitos que nem sempre são compreendidos  mas que são, sem dúvida, legítimos. Ter orgulho de ser quem se é, em um mundo que insiste em padronizar e excluir, é um gesto revolucionário.

Por Alemax Melo I Revisão: Lais Queiroz 

Leia também: Senado aprova projeto que torna homicídio em escola crime hediondo

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Marcia Dantas

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