Um cadáver em estado esquelético e mumificado de um aposentado foi encontrado, no sábado (11), em seu apartamento no bairro da Fuensanta, em Valência, na Espanha, onde pode ter permanecido sem vida por até 13 anos. A descoberta só ocorreu após um vazamento de água da chuva no prédio levar os bombeiros ao local, revelando uma cena insalubre, com pombos mortos e insetos.
O homem foi identificado como Antonio Famoso Jiménez, que teria 86 anos atualmente. Segundo o jornal EL PAÍS, o corpo foi encontrado vestido em um dos cômodos do apartamento de aproximadamente 100 metros quadrados, localizado na porta 12 do número 6 da rua Luis Fenollet.
Ausência não percebida
De acordo com relatos de vizinhos colhidos pela imprensa local, o jornal “Levante”, Antonio era uma pessoa discreta e solitária. Vários conhecidos disseram que ele havia perdido contato com o mundo após se separar da esposa, há três décadas, rompendo relações com seus dois filhos.
“Quando deixamos de vê-lo, pensamos que estava em uma residência para idosos”, declarou Rafael, um vizinho de 44 anos que levou à descoberta ao reportar um vazamento proveniente da cobertura.
A ausência do aposentado não foi notada pela comunidade. Xavi, vizinho de um prédio próximo, descreveu Antonio como um “aposentado, desorientado, abatido, solitário e descuidado”.
Investigação em andamento
Fontes da Polícia Nacional, que assumiu as investigações, confirmaram a morte natural e declararam que “Não há nada raro, por agora”. A porta do apartamento não estava arrombada e a fechadura interna estava trancada. O corpo foi encontrado caído aos pés da cama, com a chave na fechadura pela parte de dentro, eliminando qualquer possibilidade de intrusão.
Pagamentos em dia
Um dos aspectos mais surpreendentes desse caso é que todas as despesas do apartamento, incluindo o condomínio, a luz, o gás, a água e o imposto predial (IBI), estavam sendo pagas regularmente há anos, segundo relatos do síndico, Alejo Pérez.
Isso foi possível porque a Segurança Social espanhola continuou depositando a pensão de Antonio durante todos os anos em que ele esteve morto. Isso porque na Espanha não é necessária uma “prova de vida” — documento que atesta que um pensionista está vivo — para receber o benefício, a menos que o cidadão resida no exterior.
Quando ele morreu: 2012, 2013 ou 2014?
Embora inicialmente se especulasse que o corpo estivesse lá há 15 anos, o síndico, Alejo Pérez, forneceu uma pista crucial: ele consultou as atas de reuniões do condomínio, das quais Antonio era frequentador e o aposentado esteve presente em uma reunião em janeiro de 2012, faltou à de janeiro de 2013, mas compareceu à seguinte, em 24 de janeiro de 2014, a última vez que foi visto.
Antonio não compareceu a nenhuma reunião subsequente a partir de 2014. Com base nisso, a estimativa é que ele faleceu entre janeiro de 2013 e janeiro de 2014, há cerca de 13 anos.
O administrador também lembrou que “há 10 ou 12 anos, os vizinhos ficaram preocupados e até chamaram a polícia.”, mas a polícia disse que, sem mais provas, não podiam entrar no apartamento sem uma ordem judicial.
Investigação da data e causa da morte
Para datar o óbito com mais precisão, a Polícia Nacional solicitará uma autorização judicial para acessar a conta bancária de Antonio e verificar quando deixaram de ocorrer movimentos compatíveis com a vida, como compras em supermercados. Paralelamente, o Instituto de Medicina Legal (IML) de Valência fará análises histopatológicas de tecido ósseo.
A polícia já localizou um dos filhos do falecido para realizar um teste de DNA, que será comparado com amostras extraídas dos restos mortais, como o fêmur, para confirmação formal da identidade. As causas da morte ainda são desconhecidas, embora todos os indicadores apontem para uma morte natural, no entanto o acesso ao prontuário médico do aposentado também foi solicitado à Justiça.
Aposentadoria deve ser devolvida?
Os herdeiros de Antonio são os seus dois filhos que provavelmente terão que proceder à devolução dos valores da pensão recebidos após a data oficial da morte, assim que esta for descoberta.
Por Eduardo Carvalho – Correspondente MD News em Portugal | Revisão: Pietra Gomes
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