Um sofisticado esquema de contrabando de eletrônicos e lavagem de dinheiro, com movimentações financeiras que chegam a R$ 290 milhões, foi desmantelado nesta sexta-feira (3/10) pela Polícia Federal. A ação, batizada de “Operação Ligação Familiar“, ocorreu em conjunto com a Receita Federal e o Ministério Público Federal, e teve como alvo o estado do Mato Grosso do Sul.
Rede usava empresas de fachada e “laranjas”
De acordo com as investigações, a quadrilha utilizava empresas de fachada e pessoas jurídicas interligadas para introduzir irregularmente no país mercadorias estrangeiras de alto valor, especialmente celulares. Depois, o grupo promovia a ocultação da origem ilícita dos recursos, configurando um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro. O nome da operação remete ao uso de parentes e “laranjas” para registrar as empresas envolvidas, uma estratégia comum nesse tipo de crime para dificultar o rastreamento pelas autoridades.
Ao todo, foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça. Participaram da ação 29 policiais federais, além de 30 servidores da Receita Federal, entre auditores-fiscais e analistas-tributários, mobilizados para coletar provas documentais e digitais que possam aprofundar a responsabilização dos envolvidos.
Embora ainda sob sigilo, a investigação já aponta que os produtos contrabandeados eram internalizados de forma irregular no Brasil e escoavam para o comércio local e nacional. A amplitude do esquema revela um mercado paralelo robusto, que mina a arrecadação pública, afeta a concorrência legal e movimenta milhões fora do controle fiscal.
Impactos econômicos e riscos sociais
Além do impacto econômico, as autoridades alertam para os riscos sociais. A atuação de organizações criminosas nesse tipo de operação fragiliza o tecido legal do comércio, fomenta a corrupção e dificulta o combate ao crime financeiro. Caso confirmadas as suspeitas, os investigados poderão responder por descaminho, lavagem de dinheiro e associação criminosa, crimes cujas penas somadas ultrapassam 20 anos de prisão.
Especialistas em direito penal e tributário apontam que esse tipo de esquema, embora recorrente, vem sendo combatido com maior rigor nos últimos anos, especialmente com o uso de inteligência fiscal e cruzamento de dados bancários. “As empresas de fachada, por mais que tentem camuflar suas operações, deixam rastros. E o monitoramento das movimentações atípicas tem sido fundamental para desmontar essas redes”, explica um auditor que atua na operação.
A repercussão imediata ainda está sendo avaliada, mas a expectativa é que os desdobramentos da investigação atinjam outras regiões e ramificações do grupo. O desafio agora, segundo fontes da PF, é aprofundar as conexões da rede e identificar os beneficiários finais do esquema.
A operação desta sexta reforça a atuação integrada entre órgãos de controle e investigação e levanta um alerta sobre a necessidade de reforçar os mecanismos de rastreamento de empresas com movimentações incompatíveis com suas declarações fiscais. Em um cenário de crescente uso da tecnologia para fraudes, o combate ao crime econômico exige também constante atualização das ferramentas de fiscalização e cooperação interinstitucional.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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