Em nota exclusiva ao MD News, a esquerda italiana manifestou preocupação com a presença de senadores brasileiros alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro em Roma, em apoio à deputada licenciada Carla Zambelli. Parlamentares e partidos de oposição questionam o papel de autoridades italianas na agenda política da comitiva e alertam para possíveis repercussões diplomáticas.
A Aliança Verde Esquerda, por meio do deputado Angelo Bonelli, anunciou que pedirá explicações à primeira-ministra italiana Giorgia Meloni sobre a participação do vice-primeiro-ministro Matteo Salvini em encontros com Flávio Bolsonaro e senadores brasileiros já presentes em Roma. Segundo Bonelli, embora visitar uma detenta seja um direito legítimo, a participação de Salvini em um congresso intitulado “Brasil: ditadura ou democracia” representa uma provocação inaceitável, capaz de gerar uma crise diplomática entre Itália e Brasil.
Bonelli destacou que os parlamentares bolsonaristas estão na Itália para defender Zambelli, que enfrenta condenações recentes: 10 anos de prisão por invasão de sistemas informáticos e cinco anos por apontar uma arma contra um jornalista. “Dirijo-me à primeira-ministra Meloni e pergunto se considera adequado que seu vice-primeiro-ministro participe de um congresso que define o Brasil como uma ditadura, e se não seria necessário solicitar que Salvini se abstenha de participar de um evento que representa um ataque à democracia brasileira”, afirmou o deputado.
A comitiva brasileira já presente em Roma inclui senadores como Damares Alves, Magno Malta, Eduardo Girão. Flávio Bolsonaro confirmou sua vinda, mas ainda não desembarcou na Itália e deve participar do evento organizado pelo partido Lega, a convite do vice-primeiro-ministro Matteo Salvini. Segundo a assessoria de comunicação dos senadores, todas as despesas da viagem foram custeadas com recursos próprios, sem utilização de verba pública.
A agenda da comitiva inclui visitas à deputada licenciada Zambelli na penitenciária de Rebibbia, encontros com autoridades italianas e participação em eventos públicos de debate político. Apesar da programação divulgada, a assessoria dos senadores tem se mantido restritiva nas informações fornecidas, sem detalhar horários completos nem entrevistas previstas.
A situação acende um debate sobre a dimensão internacional da política brasileira e a forma como alianças transnacionais podem influenciar percepções políticas e diplomáticas, enquanto autoridades e partidos de esquerda na Itália, como a Aliança Verde Esquerda, questionam o papel do governo italiano na facilitação de encontros de figuras políticas estrangeiras com parlamentares condenados no Brasil.
Por David Gonçalves, correspondente MD News na Itália | Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Comitiva bolsonarista chega a Roma e intensifica articulações em defesa de Zambelli