Criminosos especializados em crimes cibernéticos conseguiram libertar irregularmente quatro detentos em Belo Horizonte (MG) ao forjar alvarás de soltura após invadir sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
De acordo com as investigações, o grupo utilizou logins e senhas legítimos pertencentes a magistrados, explorando indevidamente essas credenciais, sem que houvesse violação direta das barreiras de segurança do sistema.
Ricardo Lopes de Araújo, Wanderson Henrique Lucena Salomão, Nikolas Henrique de Paiva Silva e Junio Cezar Souza Silva deixaram o Ceresp Gameleira, na região Oeste de Belo Horizonte, no último sábado.
A prisão ocorreu em 10 de dezembro, quando eles e outros cinco suspeitos foram detidos durante uma operação policial que tinha como alvo uma organização criminosa acusada de tentar acessar ilegalmente o banco de dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os homens deixaram a prisão utilizando a mesma artimanha que havia motivado a detenção. Até esta terça-feira (23), apenas um deles havia sido recapturado, enquanto outros três permaneciam foragidos.
As detenções ocorreram no âmbito da Veredicto Sombrio, operação que cumpriu 27 mandados judiciais, entre prisões, buscas e apreensões, nas cidades de Belo Horizonte, Sete Lagoas, na região Central, e Jacutinga, no Sul de Minas. Ao todo, foram bloqueados cerca de R$ 40 milhões do grupo investigado, incluindo US$ 180 mil em criptoativos, além da apreensão de veículos de luxo, celulares, computadores e jóias.
Morte forjada
Um dos envolvidos,Ricardo Lopes de Araújo,de 32 anos, conhecido no meio criminoso como “Dom”, teria simulado a própria morte nos sistemas digitais do órgão, ao utilizar credenciais do Judiciário para executar o ataque virtual e gerar um documento que o declarava oficialmente morto, manobra que teria como finalidade evitar a emissão de novos mandados de prisão contra seu nome.
“Dom” permaneceu detido por menos de duas semanas. O criminoso é apontado como o líder da organização criminosa que liberou, até o momento, outros três presos por habeas corpus fraudados. O registro de óbito no nome do Dom dificulta ainda mais os processo da polícia: “Com isso, seria impossível emitir uma ordem de prisão contra ele”, explicou o chefe do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), delegado Álvaro Huertas, em coletiva no início do mês.
CNJ se manifestou
O Conselho Nacional de Justiça afirmou que não houve invasão ou violação estrutural aos sistemas judiciais sob sua administração. Veja a seguir a nota na íntegra:
“O Conselho Nacional de Justiça esclarece que não houve invasão ou violação estrutural aos sistemas judiciais sob sua administração. As ocorrências em apuração referem-se ao uso fraudulento de credenciais legítimas de acesso, obtidas de forma ilícita.
No caso informado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, as ordens fraudulentas foram identificadas em menos de 24 horas, devidamente canceladas, com restauração dos mandados prisionais, além do imediato acionamento dos órgãos de segurança estaduais e federais para a recaptura dos foragidos, com determinação expressa para a rigorosa apuração dos fatos.
O CNJ acompanha permanentemente episódios dessa natureza, mantém procedimentos próprios de controle e tem buscado o aprimoramento contínuo dos protocolos de segurança de seus sistemas, atuando em articulação com outros atores responsáveis.
Não há, até o momento, qualquer indício de falha sistêmica ou do envolvimento funcional de servidores”
O TJMG informou que as ordens fraudulentas foram identificadas em menos de 24 horas e canceladas. O tribunal assegurou que “não serão medidos esforços para a recaptura dos foragidos”. Já a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) instaurou procedimentos administrativos e criminais para apurar o caso.
Por Arthur Moreira:




