A Câmara dos Deputados já desembolsou R$ 3,3 milhões para manter gabinetes de parlamentares que estão presos ou fora do Brasil, sem registro de presença nas sessões. O valor corresponde às despesas com as equipes e estruturas de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), cassado após um ano de prisão, e dos deputados Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália, e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que mora nos Estados Unidos.
Mesmo sem atuar presencialmente, os três mantiveram gabinetes em funcionamento, com servidores e benefícios pagos pela Casa. O detalhamento dos gastos revela uma estrutura robusta operando à distância:
- Chiquinho Brazão: Antes de ser cassado por excesso de faltas, manteve 24 funcionários a um custo de R$ 120 mil mensais, totalizando R$ 1,9 milhão durante seu afastamento.
- Eduardo Bolsonaro: Possui nove servidores em seu gabinete, com uma folha de pagamento mensal de R$ 132 mil, somando R$ 900 mil no período.
- Carla Zambelli: Mantém uma equipe de 12 assessores, que custa cerca de R$ 103 mil por mês e já consumiu R$ 300 mil em verbas públicas.
A situação de cada um é distinta, mas o resultado é o mesmo: o uso contínuo de recursos públicos. Zambelli está presa na Itália após condenação a mais de dez anos de prisão, enquanto Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos e é acusado pela Procuradoria-Geral da República de tentar articular sanções internacionais contra autoridades brasileiras. Brazão perdeu o mandato em abril de 2025, após acumular faltas durante o período em que esteve detido por envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco.
Reação e “Acordão” no Congresso
A continuidade dos gastos provocou forte indignação e reacendeu o debate sobre os privilégios parlamentares. O vice-líder do governo, Alencar Santana (PT-SP), propôs um projeto de lei para extinguir o “deputado home office”. “É ilógico ser eleito para exercer função na Câmara e ficar em outro país”, declarou Santana ao Estadão.
O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), foi mais duro, classificando o caso como “um absurdo e um escárnio” e sugerindo a existência de “um acordão para blindar os bolsonaristas”. Em suas redes sociais, Farias defendeu a cassação imediata dos mandatos. “Eduardo está fora do país só conspirando contra o nosso Brasil. Que tipo de trabalho parlamentar ele está fazendo para ter uma equipe dessas?”, questionou.
Processos parados e impasse político
Os processos de cassação dos dois deputados seguem travados na Câmara. A Comissão de Constituição e Justiça ainda não julgou o pedido de perda de mandato de Zambelli, e o Conselho de Ética avalia o caso de Eduardo Bolsonaro, cujo relator, Delegado Marcelo Freitas (União-MG), pediu o arquivamento.
Internamente, há resistência em levar os casos a plenário. Segundo aliados do governo, a estratégia de setores da Casa seria deixar que Eduardo perca o mandato por excesso de faltas, o que preservaria seus direitos políticos e permitiria uma nova candidatura em 2026.
Para especialistas, o impasse reforça o desgaste da imagem do Legislativo, que segue custeando estruturas milionárias de deputados afastados de suas funções. Enquanto isso, cresce a pressão por mais transparência e por um controle mais rigoroso sobre os gastos parlamentares.
Por: Laís Queiroz | Revisão: Daniela Gentil
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