O que seria um domingo de lazer em família, terminou em tragédia no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A jovem maquiadora Verônica Dias Barreto, de 26 anos, foi morta a tiros ao passar de carro com o filho de 4 anos por uma barricada na comunidade de Itaúna, uma das áreas controladas por criminosos armados. A vítima estava com o menino no colo quando foi atingida por três disparos, um deles na cabeça.
O crime aconteceu na manhã de domingo (19), quando Verônica seguia para um sítio em Itaguaí com amigos e familiares. Além do filho, estavam no veículo a sogra, uma cunhada, outras crianças e um amigo da família, que dirigia o carro. Todos presenciaram o ataque.
Segundo informações iniciais da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), um dos criminosos que teria participado do ataque foi encontrado morto horas depois em um dos acessos ao Salgueiro. A polícia suspeita que o homem possa ter sido o autor dos disparos que mataram Verônica.
Ataque repentino e desespero
De acordo com testemunhas, o grupo passava por uma barricada montada por traficantes quando os tiros começaram. O carro estava com os vidros fechados e trafegava lentamente pela rua principal de Itaúna. Sem qualquer aviso, os criminosos atiraram diversas vezes contra o veículo.
Verônica foi atingida por três disparos, sendo um na cabeça e dois no tórax. Mesmo ferida, ela ainda conseguiu solicitar ajuda. O motorista identificado apenas como Kevin, amigo da família, acelerou o carro em busca de socorro e conseguiu chegar até a UPA de Nova Cidade, também em São Gonçalo.
Devido à gravidade dos ferimentos, Verônica foi transferida para o Pronto-Socorro Central de São Gonçalo, no bairro Zé Garoto. Apesar dos esforços das equipes médicas, ela não resistiu.
O filho da vítima, de apenas 4 anos, estava no banco de trás do carro e viu tudo. Segundo familiares, o menino ainda não consegue compreender a morte da mãe: “Ele viu quando ela foi atingida. Disse: ‘Mamãe foi baleada’. É uma dor que não tem fim”, contou Matheus da Silva Barreto, irmão de Verônica.
Era um dia para ser feliz
Para a família, a morte da jovem é uma tragédia que jamais será superada. O pai, Alexandre da Silva Barreto, ainda tenta entender o que aconteceu. Ele contou que a filha estava animada com o passeio, planejado havia dias.
“Eles iam para um sítio em Itaguaí e, infelizmente, ao saírem, deram tiros no carro. A minha filha tomou três tiros e, infelizmente, não está mais aqui. No carro estava o Kevin, que era o motorista e joga bola comigo, a sogra, a cunhada e as crianças, que tiveram que sair às pressas para socorrê-la”, relatou, abalado.
Alexandre descreveu a filha como uma jovem alegre, dedicada e muito querida na comunidade onde morava: “Eu não aceito perder uma filha tão nova. Ela era alegre, sempre brincando e rindo. Agora a gente só sente esse vazio. Os tiros acertaram nela e os estilhaços atingiram a sogra. É um pesadelo”, desabafou.
Dor da perda e lembrança da avó
A tragédia aconteceu apenas três dias após outro momento difícil para a família. Na quinta-feira (16), Verônica e os irmãos haviam sepultado a avó, uma figura muito próxima deles: “O último abraço que dei na minha irmã foi no enterro da nossa avó. Nunca imaginei que seria o último mesmo”, lamentou Matheus.
Nas redes sociais, amigos e clientes de Verônica, que trabalhava como maquiadora, deixaram mensagens de luto e revolta. Muitos destacaram o talento da jovem e a dedicação com o filho: “Ela era luz, trabalhadora, batalhadora e uma mãe incrível. É uma perda que dói em todos nós”, escreveu uma amiga próxima.
Investigação e suspeita
A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo assumiu as investigações. O carro usado pela família foi periciado e, segundo a polícia, apresenta diversas marcas de tiros. O veículo já foi liberado para os familiares.
Horas após o crime, os policiais também encontraram o corpo de um homem armado em um dos acessos ao Complexo do Salgueiro. Ele ainda não foi oficialmente identificado, mas há suspeita de que tenha sido o autor dos disparos que mataram Verônica. A hipótese é de que ele tenha sido executado por integrantes da própria facção, como forma de retaliação pela repercussão do caso.
A investigação tenta confirmar se o carro foi confundido com o de rivais ou se os disparos ocorreram por puro nervosismo dos criminosos que controlam a área.
Uma área marcada pela violência
O Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, é uma das regiões mais conflagradas do estado do Rio de Janeiro. Composto por mais de dez comunidades, o conjunto é dominado por uma das principais facções criminosas do tráfico de drogas.
Nos últimos anos, a área tem sido palco de operações policiais violentas, confrontos entre quadrilhas e casos de mortes de inocentes. Moradores vivem sob constante medo, entre barricadas e tiroteios frequentes.
O caso de Verônica reacendeu o debate sobre a insegurança nas comunidades e a falta de controle do poder público sobre áreas dominadas pelo tráfico: “As famílias vivem em meio ao fogo cruzado, sem saber se vão voltar para casa. É uma realidade cruel”, disse um morador
Luto e despedida
Familiares e amigos se mobilizam para dar o último adeus à jovem, cuja morte deixou uma lacuna profunda: “A Verônica era uma menina doce, trabalhadora, cheia de sonhos. Não dá para entender uma tragédia dessas”, lamentou uma tia da vítima.
Enquanto o caso segue em investigação, a família pede justiça: “A gente só quer que descubram quem fez isso e que essa pessoa pague. Minha filha não volta mais, mas outras mães não merecem passar por isso”, disse o pai.
Esperança de justiça
A DHNSG continua colhendo depoimentos e analisando câmeras de segurança próximas à área do crime. A polícia também tenta identificar testemunhas que possam ter visto os criminosos no momento dos disparos.
O caso está sendo tratado como homicídio doloso, e os investigadores trabalham com três linhas principais: execução por engano, represália entre grupos locais ou erro de percepção dos criminosos ao ver o carro atravessando a barricada.
A Secretaria de Estado de Polícia Civil informou, em nota, que “todas as diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do crime e identificar os autores”. Enquanto isso, familiares e amigos de Verônica tentam encontrar consolo em meio à dor: “Ela era uma guerreira, uma mãe que fazia tudo pelo filho. É revoltante saber que vidas estão sendo ceifadas assim, sem sentido”, declarou uma amiga próxima.
Por Alemax Melo I Revisão: Pietra Gomes
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