Durante a 17ª Cúpula dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma postura cautelosa diante da nova ofensiva econômica do presidente norte-americano, Donald Trump. Em uma publicação feita nas redes sociais no domingo (6), Trump anunciou que aplicará uma tarifa adicional de 10% a qualquer país que, segundo ele, “se alinhar às políticas antiamericanas do BRICS”. A medida deverá entrar em vigor no dia 1º de agosto.
Sem mencionar diretamente o nome de Trump, Lula defendeu a soberania nacional e a importância de uma ordem internacional baseada em regras e diálogo. “O mundo precisa de pontes, não de muros. O Brasil acredita na diplomacia, na cooperação e no respeito mútuo entre os povos. É isso que estamos construindo dentro do BRICS”, afirmou o presidente durante um dos painéis da cúpula.
A reação foi considerada firme, porém equilibrada, evitando um confronto direto com o governo dos Estados Unidos. Lula reforçou a necessidade de um novo multilateralismo, mais representativo e justo, especialmente diante do atual cenário de tensões geopolíticas e disputas comerciais. “Queremos construir um mundo multipolar, onde todos tenham voz. O BRICS representa esse caminho”, disse.
BRICS expande influência e defende novo modelo global
Com a presidência rotativa do BRICS sob liderança brasileira desde janeiro, a cúpula de 2025 marcou uma etapa importante para o bloco, que agora conta com 11 membros, incluindo novos países como Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Irã e Argentina. As discussões giraram em torno de reformas institucionais, desenvolvimento sustentável e cooperação estratégica, além de uma resposta coordenada à crescente pressão econômica vinda dos Estados Unidos.
Na “Declaração do Rio de Janeiro”, divulgada no fim de semana, os líderes do BRICS expressaram “sérias preocupações” com medidas tarifárias unilaterais e defenderam o fortalecimento de instituições multilaterais, como a ONU e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Embora o texto não mencione diretamente os Estados Unidos, o tom da declaração deixou clara a insatisfação do bloco com o protecionismo norte-americano.
Além das tarifas, o documento condena ações militares recentes contra países-membros e defende soluções diplomáticas para os conflitos no Oriente Médio e na Europa. O apoio à criação de um Estado palestino também foi reafirmado, com base nas fronteiras de 1967 e Jerusalém Oriental como capital.
Reações internacionais à medida de Trump
A resposta dos demais países do BRICS à ameaça de Trump veio em tom unificado. A China afirmou que “o uso de tarifas como ferramenta de coerção não serve a ninguém” e reafirmou seu compromisso com o comércio livre e justo. A Rússia, por meio do porta-voz Dmitry Peskov, declarou que o BRICS “não se constitui contra terceiros, mas sim a favor da cooperação com base em interesses comuns”. Já a África do Sul enfatizou que o bloco busca promover um multilateralismo reformado, “em sintonia com as realidades do século XXI”.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros avaliam que a ofensiva norte-americana tem mais peso político do que prático neste momento, já que o impacto efetivo das novas tarifas dependerá da adesão de outros países às diretrizes do BRICS e da disposição dos EUA em implementá-las com rigor.
O Itamaraty, por sua vez, adotou um tom sereno, destacando que o Brasil continuará defendendo seus interesses com base no diálogo e no direito internacional.
Efeitos econômicos e próximos passos
A medida anunciada por Trump tem potencial de provocar novas turbulências nos mercados internacionais. Bolsas asiáticas e europeias já registraram quedas após o anúncio. Setores como tecnologia, aviação e agricultura estão entre os mais preocupados com o risco de sobretaxas, que podem variar de 10% a 50%, segundo projeções do mercado.
A equipe econômica do governo brasileiro acompanha de perto os desdobramentos e já iniciou articulações com parceiros comerciais para evitar impactos negativos. “Vamos agir com responsabilidade e estratégia. O Brasil é parte de um mundo integrado e não vai se isolar por ameaças externas”, afirmou uma fonte ligada ao Ministério da Fazenda.
Com prazo até o fim de julho para renegociações bilaterais, o clima é de incerteza. Trump informou que as primeiras notificações tarifárias serão enviadas a partir desta segunda-feira (7), e os países terão cerca de três semanas para apresentar contrapropostas.
A cúpula termina nesta segunda com a divulgação do plano de trabalho do bloco para os próximos 12 meses. A expectativa é que o Brasil aproveite a liderança temporária para consolidar a imagem do BRICS como um ator global relevante, ampliando parcerias e reforçando sua autonomia frente às pressões de grandes potências.
Por Alemax Melo | Revisão Sara santos
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