O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quinta-feira (20) a indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). Barroso deixa a Corte após 12 anos de atuação, abrindo espaço para uma disputa que mobilizava diferentes grupos políticos, jurídicos e religiosos no país.
A escolha foi comunicada oficialmente depois de uma reunião pela manhã no Palácio da Alvorada. Lula chamou Messias para um encontro reservado e, na ocasião, fez o convite formal para que ele assumisse a cadeira no STF. A informação foi confirmada posteriormente por integrantes do governo.
Perfil político e alinhamento jurídico
Aos 45 anos, Jorge Messias é considerado um dos nomes de maior confiança do presidente e do PT. Sua trajetória pública está intimamente ligada ao partido, e sua atuação técnica nos bastidores do governo é vista como sólida e estratégica. Desde 2023, quando Lula iniciou seu atual mandato, Messias está à frente da Advocacia-Geral da União (AGU), função na qual ganhou destaque ao comandar a defesa jurídica de temas sensíveis para o governo.
Colegas descrevem Messias como um profundo conhecedor das leis, atento aos detalhes e habilidoso no diálogo institucional. No Judiciário, é visto como um advogado respeitado, com trânsito entre diferentes setores e boa interlocução com ministros e tribunais superiores.
A indicação também tem um componente simbólico. Messias é evangélico, e sua escolha tem sido interpretada por aliados do presidente como um gesto político significativo em direção a esse segmento religioso. A leitura é que Lula busca aproximar-se desse público, especialmente após anos de distanciamento marcado por discursos polarizados.
O movimento lembra a estratégia adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que indicou o ministro André Mendonça também evangélico ao Supremo, reforçando seu vínculo com lideranças religiosas.
Do “Bessias” ao STF: uma trajetória marcada por episódios emblemáticos
Jorge Messias ganhou projeção nacional em 2015, durante o governo Dilma Rousseff. Naquele ano, o então juiz Sérgio Moro divulgou um áudio da presidente falando sobre a nomeação de Lula como ministro. A gravação, de má qualidade, fez parecer que Dilma se referia ao então subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência como “Bessias”, apelido que acabou marcando sua imagem pública.
Embora o episódio tenha sido explorado politicamente na época, Messias seguiu sua carreira técnica no governo e ampliou seu currículo institucional. Desde 2007, é procurador da Fazenda Nacional. Também exerceu funções estratégicas, como:
- Subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência da República
- Secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC
- Consultor jurídico do Ministério da Educação
- Consultor jurídico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Além da experiência no Executivo federal, Messias acumula formação acadêmica sólida: é graduado em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife (UFPE) e possui mestrado e doutorado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB).
Disputa interna e pressões políticas
A indicação de Messias ocorre após semanas de articulações intensas nos bastidores de Brasília. O nome de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, era considerado favorito entre os senadores responsáveis por sabatinar e votar os indicados ao STF. Sua eventual indicação teria o apoio de grande parte da Casa.
Ao mesmo tempo, havia uma mobilização forte de setores da sociedade civil e de grupos políticos para que Lula indicasse uma mulher para o Supremo, o que também gerou pressão pública sobre o presidente. Atualmente, apenas uma ministra Cármen Lúcia compõe o tribunal.
Apesar desses movimentos, Lula optou por um nome de sua confiança direta, reforçando um padrão que marcou escolhas anteriores para o STF e outras posições estratégicas.
Funções e responsabilidades após a escolha
Com os trâmites formais iniciados, a indicação será enviada ao Senado, onde Messias passará por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Após essa etapa, seu nome será submetido ao plenário da Casa, que dará a palavra final sobre sua nomeação ao Supremo.
Enquanto isso, a AGU continuará sob sua liderança até que a indicação seja efetivada e a posse confirmada.
Se aprovado, Jorge Messias assumirá um dos cargos mais importantes do Judiciário brasileiro, com mandato vitalício, e participará de decisões estruturantes sobre temas como direitos civis, políticas públicas, questões ambientais, economia, gestão governamental e conflitos constitucionais.
Sua chegada também representará mudança na composição interna da Corte, influenciando a formação de maiorias em julgamentos e a dinâmica política entre os ministros.
Um movimento estratégico de Lula
A escolha de Messias para o STF mostra que Lula priorizou um perfil considerado técnico, leal e alinhado juridicamente ao governo. A indicação reflete sua estratégia de compor a Corte com nomes que dialoguem com o Executivo, mas sem abrir mão da qualificação intelectual e da experiência institucional.
Para aliados, a decisão também sinaliza uma tentativa de aproximação com setores evangélicos, buscando reduzir resistências e ampliar espaço político em um cenário marcado por disputas intensas por narrativas.
Messias, por sua vez, chega ao centro das atenções com um currículo robusto, experiência no alto escalão e um histórico de atuação relevante em temas jurídicos nacionais.
Desafios que o aguardam no Supremo
Caso seu nome seja confirmado pelo Senado, Messias terá pela frente uma série de desafios imediatos:
- Julgamentos de grande impacto social e político
- Redefinição da atuação do STF em temas sensíveis
- Pressões externas de setores conservadores e progressistas
- Convivência com uma Corte marcada por forte exposição pública.
Sua juventude relativa aos 45 anos também significa que poderá permanecer no tribunal por décadas, moldando o futuro das decisões constitucionais do país.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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