O empresário Pablo Marçal (PRTB) foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral de São Paulo à Justiça Eleitoral, por ter divulgado um laudo médico falso contra o então candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL). O fato ocorreu na reta final da campanha municipal de 2024 e segundo o MPE, o documento, compartilhado nas redes sociais de Marçal, foi falsificado com o intuito de associar Boulos ao uso de drogas.
A denúncia foi protocolada na quinta-feira (29) e corre sob sigilo. Se acolhida pelo Judiciário, Marçal se tornará réu por uso de documento falso com fins eleitorais. A Polícia Federal já havia indiciado o empresário em novembro do ano passado pelo mesmo crime. Em depoimento prestado à PF, Marçal negou envolvimento direto na publicação e atribuiu a autoria à sua equipe de campanha.
Na época, a Justiça Eleitoral determinou a remoção do conteúdo das plataformas digitais. Laudos técnicos do Instituto de Criminalística de São Paulo e da PF comprovaram que a assinatura atribuída ao médico José Roberto de Souza, CRM 17064-SP, era falsificada. Souza faleceu em 2022 e, segundo sua filha, a oftalmologista Aline Garcia Souza, ele jamais trabalhou na clínica citada no documento ou prestou atendimento a dependentes químicos.
A perícia grafotécnica foi categórica: “As evidências suportam fortemente a hipótese de que os manuscritos questionados não foram produzidos pela mesma pessoa que forneceu os padrões”, informam os peritos da PF. As conclusões foram obtidas após comparação com diversas assinaturas reais do médico.
Além de Marçal, o caso teve desdobramentos também para o vereador Rubinho Nunes (União Brasil). A 1ª Zona Eleitoral de São Paulo cassou o mandato do parlamentar e o declarou inelegível por oito anos, por ter compartilhado o mesmo laudo falso nas redes sociais. A sentença aponta abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. O juiz Antonio Maria Patiño Zorz considerou que houve “violação grave à legislação eleitoral” e que Rubinho, enquanto candidato, tinha o dever de diligência ao divulgar qualquer informação especialmente às vésperas da eleição.
A defesa de Marçal divulgou nota na época, classificando a investigação como “celeridade seletiva contra a direita”. “É nítido como a velocidade do julgamento moral para aqueles que se identificam com a direita é significativamente mais rápida”, afirmou, acrescentando que o empresário confia na Justiça e será declarado inocente.
O laudo falso citava a clínica Mais Consultas, de São Paulo. O sócio da unidade, Luiz Teixeira da Silva Júnior, negou ter produzido o documento e afirmou que seu nome foi usado indevidamente. Silva Júnior, que já foi condenado anteriormente por falsificação de documentos acadêmicos, aparecia nas redes sociais ao lado de celebridades e de Marçal, vestindo jaleco com o logotipo do Hospital Albert Einstein o que o hospital negou categoricamente, dizendo que ele nunca trabalhou ou teve vínculo com a instituição.
O caso reacendeu o debate sobre a disseminação de fake news durante o período eleitoral e o uso de estruturas profissionais para atacar adversários com conteúdos fabricados. A Justiça Eleitoral e o Ministério Público têm adotado uma postura mais incisiva em relação a essas práticas, que podem impactar diretamente a lisura do processo democrático.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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