Uma rede de postos de combustível com forte presença em São Paulo foi citada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como um dos elos entre o setor e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação aponta a Boxter como responsável por ocultar patrimônio por meio de laranjas e adquirir postos, imóveis e veículos em nome de terceiros.
A megaoperação deflagrada na última quinta-feira (28), conduzida pelo Gaeco em parceria com a Receita Federal, revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. De acordo com o MPSP, fintechs ligadas ao grupo funcionavam como “bancos paralelos”, movimentando mais de R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024 sem rastreabilidade.
As investigações apontam que o grupo estruturou um sistema de crimes que envolvia desde a importação até a venda adulterada de combustíveis. A fraude começava com a entrada irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR). Embora destinado oficialmente a indústrias químicas e de biodiesel, o produto era desviado para abastecer postos.
O esquema se sustentava em três frentes principais:
Contadores, que realizavam transações financeiras fraudulentas;
Fintechs, responsáveis por lavar o dinheiro do crime;
Fundos de investimento, usados para ocultar patrimônio.
Segundo o MPSP, pelo menos 40 fundos administraram cerca de R$ 30 bilhões, com atuação de operadores da Faria Lima, em São Paulo.
Além disso, havia um núcleo de transporte, encarregado da frota de caminhões para logística e desvio de metanol, e o de postos, que adulteram a gasolina destinada ao consumidor final.
A ação desta quinta-feira cumpriu mandados de prisão, busca e apreensão em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O Gaeco revelou ainda que alguns donos de postos venderam seus estabelecimentos a integrantes do PCC, mas nunca receberam o pagamento. Quem tentou cobrar foi ameaçado de morte.
Entre os alvos estão integrantes da família Gonçalves, que lidera a Rede Boxter. O empresário Natalício Pereira Gonçalves Filho e seus filhos já haviam sido investigados na operação Rei do Crime. Renan Cepeda Gonçalves, por exemplo, teria transferido mais de vinte postos para nomes de laranjas e voltou a ser citado nesta fase.
Sua irmã, Natália Cepeda, aparece como sócia de empresas ligadas ao grupo em áreas que vão dos combustíveis a holdings. A apuração indica que a repetição de endereços entre os negócios revela o uso de estruturas societárias para esconder patrimônio.
O MPSP também relaciona a rede de postos a José Carlos Gonçalves, o “Alemão”, suspeito de financiar e lavar recursos do tráfico de drogas.
Além da Boxter, a operação atinge empresários e instituições financeiras.
Entre os nomes citados estão:
Mohamad Hussein Mourad e Roberto Augusto Leme, ligados às empresas Aster e Copape, apontados como operadores centrais do esquema;
Marcelo Dias de Moraes, presidente da Bankrow Instituição de Pagamento;
Camila Cristina de Moura Silva/Caron, diretora financeira da fintech BK, usada como “banco paralelo”;
Valdemar de Bortoli Júnior, com vínculos às distribuidoras Rede Sol Fuel e Duvale;
José Carlos Gonçalves, o “Alemão”;
Lucas Tomé Assunção, contador da GGX Global Participações, dona de 103 postos, e da Usina Itajobi;
Marcello Ognibene da Costa Batista, contador de empresas investigadas por fraude societária.
Além das pessoas físicas, fundos de investimento, fintechs e distribuidoras de combustíveis também foram alvos da ação.
Com a operação, o Ministério Público e a Receita Federal buscam desarticular um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro do país, que transformava o setor de combustíveis em fonte de financiamento para o crime organizado.
Por Kátia Gomes | Revisão: Redação
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