Um novo tipo de exame para detectar o câncer de mama está sendo desenvolvido por pesquisadores da Poli-USP e do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). O aparelho usa micro-ondas em vez de raios X e pode ser uma alternativa mais confortável e segura à mamografia tradicional, que costuma causar dor em muitas mulheres.
Segundo os pesquisadores, o dispositivo se ajusta ao formato das mamas e faz imagens de diferentes ângulos, sem a compressão dolorosa comum no exame convencional. Isso é possível porque ele utiliza ondas eletromagnéticas para detectar possíveis tumores, tecnologia que também evita a exposição à radiação ionizante, tornando o exame mais seguro e acessível.
Fonte: Bruno Sanches
Exame pode ajudar mulheres com seios densos
Segundo o engenheiro Bruno Sanches, um dos responsáveis pelo estudo, o novo aparelho pode ser especialmente útil para mulheres com mamas densas, em que a mamografia tem menor precisão. A densidade da mama não está ligada ao tamanho, mas à proporção entre tecido fibroso, glandular e gorduroso.
“Quanto mais densa a mama, mais branca ela aparece na mamografia, dificultando a identificação dos tumores, que também são brancos”, explica o médico radiologista Almir Bitencourt, do A.C.Camargo Cancer Center. Em casos assim, costumam ser indicados exames complementares como ultrassom ou ressonância magnética.
O novo sistema por micro-ondas pode ter vantagem nesses casos porque consegue diferenciar melhor os tecidos, graças às diferenças nas propriedades eletromagnéticas.
Tecnologias mais seguras e acessíveis
A engenheira Fatima Salete Correra, da Poli-USP, destaca que aparelhos que usam micro-ondas não precisam de ambientes blindados como os mamógrafos tradicionais, o que pode reduzir custos e ampliar o acesso ao exame, principalmente em regiões onde a estrutura de saúde é limitada.
O novo equipamento ainda está em fase de testes. A equipe da USP e do IFSP vai avaliar o desempenho do protótipo em modelos artificiais com diferentes tipos de mama e tumores. Por enquanto, não há empresas interessadas na produção comercial do aparelho, embora outros países já estejam mais avançados no desenvolvimento de tecnologias semelhantes.
Um estudo publicado em dezembro de 2024 na revista IEEE Access, liderado pelos pesquisadores brasileiros, comparou 12 protótipos desse tipo de exame e mostrou que há variações nos níveis de sensibilidade (acerto na detecção de tumores) e especificidade (capacidade de indicar corretamente a ausência de câncer).
Câncer de mama é o mais comum entre as mulheres no Brasil
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registrou 73,6 mil novos casos de câncer de mama entre 2023 e 2025. É o tipo de tumor mais frequente entre as mulheres em todas as regiões do país, principalmente no Sul e Sudeste.
Como é feita a mamografia hoje
Na mamografia convencional, a mama é posicionada entre duas placas de acrílico que a comprimem para gerar imagens mais nítidas. A compressão, embora rápida, pode causar desconforto. O exame é eficaz para detectar microcalcificações — pequenos sinais iniciais do câncer — e lesões com menos de 1 cm. No entanto, apenas uma biópsia pode confirmar se o nódulo é benigno ou maligno.
Os laudos do exame seguem uma classificação internacional chamada BI-RADS, que vai de 0 a 6. Quando o resultado é BI-RADS 4 ou 5, geralmente o médico solicita uma biópsia para investigar melhor.
Em 2023, o SUS realizou 4,4 milhões de mamografias no país.
O estudo completo está disponível no site da Pesquisa Fapesp
Por: Laís Queiroz I Revisão: Redação