Uma tragédia marcou a manhã desta terça-feira (29) em Carapicuíba, cidade localizada na Grande São Paulo. Uma mulher de 43 anos, passageira de uma moto por aplicativo, morreu após cair do veículo e ser atropelada por um caminhão na Avenida Vitório Fornazaro, uma das vias mais movimentadas da cidade. O motociclista, que utilizava um perfil falso no app 99 Moto e não tinha habilitação, foi preso em flagrante.
De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o acidente aconteceu por volta das 8h. A vítima, que não teve o nome divulgado até o momento, estava na garupa de uma moto quando, após uma colisão traseira, foi lançada na pista. Em questão de segundos, um caminhão que trafegava logo atrás passou por cima dela. A morte foi instantânea.
O caso gerou comoção entre moradores da região e reacendeu discussões sobre a segurança dos serviços de transporte por aplicativo, especialmente os realizados por motos, que vêm ganhando popularidade nas grandes cidades. O fato levantou ainda mais questionamentos quanto à fiscalização e regularização da prática.
Perfil falso e fuga
Segundo a polícia, o condutor da motocicleta envolvida no acidente não era quem dizia ser no aplicativo. Durante o interrogatório, ele admitiu que usava uma conta falsa no 99 Moto. Além disso, não possuía Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e tentou fugir do flagrante pedindo a amigos que retirassem a moto do local antes da chegada das autoridades.
O veículo, no entanto, foi localizado pouco depois na residência do próprio motociclista e acabou preso pela polícia. Ainda conforme a SSP, o homem foi autuado por colisão com vítima fatal, homicídio doloso, falsidade ideológica, condução sem habilitação, alteração de local de crime e ocultação de veículo.
O caso foi registrado no 1º Distrito Policial de Carapicuíba, onde o acusado permanece à disposição da Justiça.
Aumento nos casos com motos por app
Nos últimos anos, o serviço de moto por aplicativo cresceu de forma acelerada em cidades de médio e grande porte. Com tarifas mais baixas e maior agilidade no trânsito, muitas pessoas passaram a optar por esse tipo de transporte, inclusive em trajetos que antes seriam feitos apenas de carro.
Entretanto, a falta de fiscalização efetiva e o uso de perfis falsos colocam em risco a vida de passageiros e de quem circula pelas ruas. Casos como o que ocorreu em Carapicuíba expõem uma fragilidade no sistema: a facilidade com que usuários conseguem burlar os protocolos de segurança das plataformas.
Em nota, a 99 Moto afirmou que colabora com as autoridades e que possui sistemas de verificação de identidade para seus parceiros. No entanto, a empresa não se manifestou diretamente sobre como o motociclista conseguiu se cadastrar com um perfil falso nem quantas corridas já havia realizado.
Reações e questionamentos
A morte da passageira gerou uma onda de indignação nas redes sociais. Moradores da região pedem mais fiscalização nos serviços de transporte por aplicativo e cobram uma atuação mais efetiva da prefeitura e da empresa responsável.
“É inacreditável que uma pessoa consiga se cadastrar sem habilitação. A gente entrega nossa vida nas mãos de alguém que nem deveria estar dirigindo”, comentou um internauta em uma postagem local no Facebook.
A prefeitura de Carapicuíba, por sua vez, informou que o serviço de moto por aplicativo é autorizado no município, mas que a fiscalização da regularidade dos condutores é de responsabilidade das plataformas.
Especialistas em mobilidade urbana defendem que o crescimento dos serviços de transporte individual deve vir acompanhado de protocolos mais rígidos de verificação e de uma atuação mais ativa dos órgãos públicos.
“O problema não está no modelo em si, mas na forma como ele vem sendo operado. A responsabilidade é compartilhada: da empresa, do usuário e do poder público. Sem isso, vamos continuar vendo tragédias como essa se repetirem”, explica a urbanista Carla Fernandes, consultora em mobilidade na região metropolitana de São Paulo.
Justiça e investigação
Até o fechamento desta reportagem, o nome do motociclista também não havia sido divulgado. Ele segue preso e deverá responder a diversos crimes, incluindo homicídio doloso, quando há a intenção ou a aceitação do risco de matar. A tipificação desse crime pode agravar a pena.
A polícia agora investiga se o acusado já havia sido denunciado anteriormente por uso indevido de documentos ou envolvimento em outros acidentes. Também será verificado se a conta usada por ele no aplicativo estava em nome de uma terceira pessoa.
O corpo da vítima foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Osasco e deverá ser liberado para a família nas próximas horas.
Enquanto isso, o caminhoneiro envolvido no acidente prestou depoimento e foi liberado. Segundo a polícia, ele estava com a documentação em dia e não teve tempo hábil para evitar o atropelamento, já que a queda da passageira aconteceu de forma abrupta.
Debate sobre segurança continua
A tragédia de Carapicuíba reforça a urgência de repensar os modelos de transporte por aplicativo, principalmente aqueles que envolvem veículos de maior risco, como motos. A falta de capacitação, fiscalização e controle de identidade pode transformar um serviço prático e barato em uma armadilha fatal.
As discussões devem se aprofundar nas próximas semanas, e representantes do setor já sinalizam a possibilidade de reuniões com órgãos públicos para revisar protocolos de segurança e exigências mínimas para os prestadores de serviço.
Enquanto isso, familiares e amigos da vítima tentam lidar com a dor da perda e aguardam justiça. O caso segue em investigação.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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